Andei lendo uma série de críticas musicais de Robert Christgau. Ele diz numa delas que Paul MacCartney jamais foi um gênio. Mente aberta que sou, parei para pensar nisso, e discorro brevemente sobre a genialidade agora.
Primeira consideração: O que seria um gênio? Vamos então à renascença, período onde esse conceito foi criado. Da Vinci. Michelangelo. Shakespeare. Eis os 3 moldes de genialidade. O que todos os 3 têm em comum?
Absoluto domínio de sua arte. O que já derruba por terra nossa mania ( não minha ), de chamar de genial uma obra mal feita. Um diretor de cinema que não sabe dirigir, um artista plástico que não tem habilidade, um escritor que escreve toscamente. São no máximo provocadores. Podem ser originais, mas a originalidade não é genialidade. Metal Machine Music de Lou Reed é provocador, não passa nem perto de genial. Beuys era provocador, nada de gênio. O gênio é original sempre, óbvio, mas também é um criador perfeito. Nossa mente fica atordoada por sua maestria.
Segunda característica: Produção febril. Há no gênio a liberdade do daimon. Ele faz. Faz muito e faz o tempo todo. Michelangelo demorava anos para fazer uma obra, mas ele passava todos esses anos fazendo essa obra. Horas e horas todos os dias. O gênio é sempre um obcecado.
Terceiro: Inconsciência. O gênio pode saber que é genial, mas ele nunca produz algo pensando: farei uma obra genial. Quando ele chega a esse ponto sua genialidade já se perdeu. Esse é o Picasso dos últimos anos. Milhares pensam isso e jamais foram gênios.
Voltemos ao mundo do rock e pop. É Paul um gênio? Não, não é. Musical ao extremo, talento natural, lhe falta a característica mais dominante da genialidade: arrogância. Todo gênio é egocêntrico e por isso, arrogante. Não a arrogância do adolescente inseguro, mas a arrogância de quem sabe ser muito superior a tudo que o cerca. O gênio pode posar, às vezes, de bonzinho, mas ele é sempre uma ilha. Ao lado de John Lennon provavelmente Paul atingia as margens da genialidade, separados eles se diminuíram. Para um faltou o talento musical instintivo, para outro a excentricidade.
Afinal, há algum gênio no mundo já quase secular do rock? Digamos que existem momentos, breves, em que um artista chega às margens da genialidade. Por uma soma de circunstancias, pelo acaso de um time que se completa, por intuição, mas é apenas um ano, uma produção do acaso feliz, depois a coisa se esvai. Bowie nunca foi um gênio, mas talvez Low seja genial. Lou Reed jamais foi um gênio, nem perto disso, mas os dois primeiros discos do Velvet Underground são geniais. Posso citar dezenas de acasos como esses. O que todos têm em comum: são obras de equipe. Produção, co-autoria, músicos certos em momento perfeito. Depois que isso passa, o artista passa o resto da vida sofrendo da nostalgia desse momento genial. No melhor dos casos não tenta o repetir. Quando tenta, se torna um patético pastiche de si mesmo.
É muito provável que daqui a mais 30 anos o rock tenha morrido de vez. Como movimento social hoje ele está no mesmo patamar do jazz: não existe. É música de grupo de fãs. Viverá assim para sempre. Shows de rock são maiores que shows de jazz ou blues, mas significam a mesma coisa, música, nada mais que música. E caso voce não saiba, assim como em seu tempo aconteceu com a pintura ou o teatro, houve um momento em que rock era muito mais que música. Era força social. Filosofia de vida. Rio central de transformação da arte em geral. A arte central.
Quando isso ocorrer, quando olharem para o rock como hoje se olha o jazz, e o jazz tem seus gênios, John Coltrane foi um, então nesse momento talvez pensem que apenas Bob Dylan possuiu a dignidade e o individualismo do gênio. Não estranhem se assim for. E não achem errado.
Primeira consideração: O que seria um gênio? Vamos então à renascença, período onde esse conceito foi criado. Da Vinci. Michelangelo. Shakespeare. Eis os 3 moldes de genialidade. O que todos os 3 têm em comum?
Absoluto domínio de sua arte. O que já derruba por terra nossa mania ( não minha ), de chamar de genial uma obra mal feita. Um diretor de cinema que não sabe dirigir, um artista plástico que não tem habilidade, um escritor que escreve toscamente. São no máximo provocadores. Podem ser originais, mas a originalidade não é genialidade. Metal Machine Music de Lou Reed é provocador, não passa nem perto de genial. Beuys era provocador, nada de gênio. O gênio é original sempre, óbvio, mas também é um criador perfeito. Nossa mente fica atordoada por sua maestria.
Segunda característica: Produção febril. Há no gênio a liberdade do daimon. Ele faz. Faz muito e faz o tempo todo. Michelangelo demorava anos para fazer uma obra, mas ele passava todos esses anos fazendo essa obra. Horas e horas todos os dias. O gênio é sempre um obcecado.
Terceiro: Inconsciência. O gênio pode saber que é genial, mas ele nunca produz algo pensando: farei uma obra genial. Quando ele chega a esse ponto sua genialidade já se perdeu. Esse é o Picasso dos últimos anos. Milhares pensam isso e jamais foram gênios.
Voltemos ao mundo do rock e pop. É Paul um gênio? Não, não é. Musical ao extremo, talento natural, lhe falta a característica mais dominante da genialidade: arrogância. Todo gênio é egocêntrico e por isso, arrogante. Não a arrogância do adolescente inseguro, mas a arrogância de quem sabe ser muito superior a tudo que o cerca. O gênio pode posar, às vezes, de bonzinho, mas ele é sempre uma ilha. Ao lado de John Lennon provavelmente Paul atingia as margens da genialidade, separados eles se diminuíram. Para um faltou o talento musical instintivo, para outro a excentricidade.
Afinal, há algum gênio no mundo já quase secular do rock? Digamos que existem momentos, breves, em que um artista chega às margens da genialidade. Por uma soma de circunstancias, pelo acaso de um time que se completa, por intuição, mas é apenas um ano, uma produção do acaso feliz, depois a coisa se esvai. Bowie nunca foi um gênio, mas talvez Low seja genial. Lou Reed jamais foi um gênio, nem perto disso, mas os dois primeiros discos do Velvet Underground são geniais. Posso citar dezenas de acasos como esses. O que todos têm em comum: são obras de equipe. Produção, co-autoria, músicos certos em momento perfeito. Depois que isso passa, o artista passa o resto da vida sofrendo da nostalgia desse momento genial. No melhor dos casos não tenta o repetir. Quando tenta, se torna um patético pastiche de si mesmo.
É muito provável que daqui a mais 30 anos o rock tenha morrido de vez. Como movimento social hoje ele está no mesmo patamar do jazz: não existe. É música de grupo de fãs. Viverá assim para sempre. Shows de rock são maiores que shows de jazz ou blues, mas significam a mesma coisa, música, nada mais que música. E caso voce não saiba, assim como em seu tempo aconteceu com a pintura ou o teatro, houve um momento em que rock era muito mais que música. Era força social. Filosofia de vida. Rio central de transformação da arte em geral. A arte central.
Quando isso ocorrer, quando olharem para o rock como hoje se olha o jazz, e o jazz tem seus gênios, John Coltrane foi um, então nesse momento talvez pensem que apenas Bob Dylan possuiu a dignidade e o individualismo do gênio. Não estranhem se assim for. E não achem errado.