SARGENTO YORK, O FILME MAIS VELHO DO MUNDO

   Em 1941 SARGENTO YORK tirou de Cidadão Kane o prêmio de melhor ator para Orson Welles. Graças a Deus. Gary Cooper ganhou e a crítica nunca perdoou o filme por isso. Howard Hawks também concorreu contra Welles pelo troféu de direção, mas ambos perderam. Ontem vi o filme. Adorei. Me diverti muito. Mas é possivelmente o filme mais velho hoje. Conto a história e voce vai entender por quê.
  O filme começa numa igreja. Dentro dela há a pregação de um pastor. É 1916. A história de York, por incrível que pareça, é uma história real. York existiu e fez o que o filme mostra. Pois bem....a pregação é atrapalhada por tiros lá fora. Alvin York e seus amigos, bêbados, dão tiros à toa. A mãe de York sente vergonha.
  Vemos a casa da família. Absurdamente pobres. É o Tennesse. Ripas de madeira. Chão de terra. York usa o arado numa terra pobre. Flerta com a vizinha. Briga num bar. Caça raposas. Resolve casar. Trabalha feito doido para comprar terra. Vence concurso de tiro. Mas é enganado pelo vendedor. Perde a terra e o dinheiro.
  Revoltado, ele pensa em matar. Mas aí acontece um milagre. Não o contarei. Mas é bastante crível. York começa a seguir a igreja, lê a Bíblia, segue a fé.
  Vem a primeira guerra e ele não quer matar. O Livro proíbe isso. No exército ele se revela um fenômeno no tiro. Tem uma crise moral. E é enviado ao front francês. Se torna um herói ao vencer sozinho uma brigada alemã. Ele captura 128 inimigos e mata 29 numa só batalha. Ao fim da guerra, famoso, cheio de propostas, inclusive de Hollywood, ele volta à sua família, pobre, para trabalhar.
  Alvin York é um matuto. Um redneck, um zé ninguém. Mas é ao mesmo tempo um coração bom, uma simples homem da natureza, um bom filho. Gary Cooper era muito velho para o papel, mas ele consegue o tornar caipira sem ser idiota e bom sem ser piegas. O atraso da sua cidade é tanta que York nunca ouvira falar de uma coisa chamada metrô e se espanta com a eletricidade. Mas...porque é o mais velho filme do mundo?
  Porque ele dá valor supremo a tudo aquilo que a modernidade mais odeia: mãe, lar, compromisso com o país, trabalho duro, religião organizada, Bíblia, Deus, vizinhança. Longo, lento, sem qualquer pressa, o filme não corre, não passa, ele flui como um rio lamacento. Hawks ama York, óbvio. O super sofisticado Hawks ama o matuto York. Sabemos que Hawks serviu na primeira guerra. Parece que ele conheceu o York real. E o admirou muito. Cada segundo de filme mostra esse amor.
  Meu pai amaria este filme.
  Pena não o termos visto juntos.