MTV 2020

   Um dos chavões dos anos 60 mostra pais de 40 anos, nascidos nos anos 20, olhando hippies de 18 anos e chamando-os de sujos. Depois, nos anos 70, os velhos nascidos nos anos 30, chamam os jovens de 18 de bichas, ou de frouxos. É doloroso pensar que me tornei um velho nascido nos anos 60, que pode estar sendo injusto com uma geração que se revelará brilhante. Por outro lado seria absurdo eu não me revelar em meu próprio blog. Portanto, este texto muito breve, poderá ser injusto, preconceituoso, burro, mas jamais dissimulado.
  Tenho alunos de 11, 14 e até 22 anos. Gosto da maioria e não tenho problema algum de comunicação com eles. Para mim, eles são como fui um dia. Pessoas inseguras que tentam se definir. Seres cheios de esperança que topam, todo dia, com um muro de realidade. Ouvem funk. Ouvem pop. E isso pouco me importa. Música para eles não é tão importante como foi pra mim.
  Posto isso, vejo hoje MTV. E me sinto completamente ultrapassado. Não entendo nada do que é exibido. O som é o de sempre: Pop anos 80 ou black music pós Madonna. Vocais hiper profissionais e impessoais, instrumental simples. Nada disso me choca, é banal. O que me deixa pasmado é a cara das pessoas. QUE GENTE É ESSA?
  Um teen branco com rosto de deprimido radical canta um rap desanimado onde ele chora a namorada perdida. Um gordinho com cara de deprimido radical canta a saudade da infância. Um cabeludo desanimado e mal nutrido canta em ritmo de Pet Shop Boys a desalegria em viver. Uma menina esquelética dança um pretenso funk sexy que mais parece uma desanimada dança da morte eslava. E por fim a big ídola, Bille Einlish Einglish, English, ou coisa assim, surge com sua cara pós suicida pingando sangue enquanto exibe seu corpo sem sexo sem vida e sem vontade. O que penso?
  Que se em 60 o que irritava os mais velhos era a droga e o sexo, que se em 70 era a transsexualidade e o cinismo, hoje o que me deixa irritado é sua absoluta falta de fibra. Todos parecem adolescentes em crise e essa crise é aquela do teen que não supera ter perdido seu ursinho. Eles cantam com voz tristonha, querem cama e silêncio, olham entre lagrimas e despertam bocejos. Nasceram para não nascer. Abortos vivos.
  Prefiro meus alunos.