TENHO ESCRITO SOBRE FILMES QUE VI ANTES DA EXISTÊNCIA DESTE BLOG, MEUS PRIMEIROS DVDS PORTANTO. MAIS UM? THE AWFUL THRUTH, LEO McCAREY

   Primeira cena: Cary Grant em um clube usa uma lâmpada de bronzeamento. Ele mentiu para a esposa. Disse que ia à Miami e ficou na cidade. Não saberemos o que ele fez.
  Cena seguinte: Ele chega em casa. Amigos estão à sua espera. Cadê sua esposa? Ela também sumiu. Ele inventa uma desculpa para não ficar mal com os amigos. Diz que ela está com a mãe. Mas eis que chega a mãe. E em seguida chega a esposa, Irene Dunne. Ela vem sorridente. O professor de canto a trouxe de carro. Os dois passaram o fim de semana numa pousada. O carro dele havia quebrado.
  Próxima cena: o divórcio. Quem vai ficar com a guarda de Mr. Smith, o cão do casal?
 Daí para a frente é puro prazer. Entra em cena Ralph Bellamy, fazendo um rico herdeiro de Oklahoma, caipira que se enamora dela. Grant, ainda querendo salvar o casamento, visita Mr.Smith, cruza com a esposa num night club, aparece sempre onde ela está, como quem não quer nada. Já ela, óbvio também, usa o caipira como peça de ciúmes, finge estar nem aí, se faz de tonta. Sim, voce já viu esse argumento milhares de vezes. Mas voce também já viu a saga de mafiosos ou a crise do homem moderno milhares de vezes. E daí? O que importa é como o tema é desenvolvido e não qual o tema. E aqui, Leo McCarey, diretor vindo dos curtas de Laurel and Hardy, e que seria um dos nomes mais fortes dos anos 30 e 40, conduz tudo com tanta leveza e gosto que somos pegos de surpresa. Voce pensa que será um filme frenético e maluco, mas não, ele é calmo e suave.
  Acumulam-se ótimas cenas, e a do night club é a melhor. Filmes como este não nos fazem mais rir, mas nos deixam alegres. Nessa cena porém me peguei rindo, o que não esperava.
  Os grandes filmes de humor dos anos 30 e 40 não têm mais o dever de nos fazer gargalhar. O humor, assim como o horror, envelhece e perde a força explosiva. Se tiver sido em seu tempo uma grande fonte de emoção, ele corre o risco de visto hoje ser apenas uma decepção.
  Entretanto, quando o filme é acima da média, ele sobrevive. Não nos faz mais rir, mas nos deixa num belo estado de alegria, um leve sorriso nos lábios, uma sensação de prazer indefinido. Isso ocorre aqui. Os risos não vêm, como deveriam vir em 1937, mas o otimismo se faz sentir. Estamos dentro de hora e meia de humor, de bom humor, não de risadas. Cary Grant deixou de parecer ser um humorista desde os anos 50, em lugar disso ele hoje parece um mestre de bom humor. Ele não nos faz mais rir, mas em troca nos dá um bem maior: aprender a encarar a vida de um modo leve. Isso é sublime, daí meu encanto por esse ator.
  De Irene Dunne posso dizer que ela está à altura de Grant. Acho que ela o completa melhor de Hepburn. Kate sempre é pesada, ela tem um acento de seriedade que nunca some completamente. Irene não. Ela é jovial. Sempre jovial.
  Imenso sucesso de bilheteria, o filme se mantém plenamente satisfatório, fato que não acontece com o filme que comentei acima.