Clint nasceu em 1930. Ele faz 90 anos hoje, 31 de maio. Ele é da geração anterior à Pacino, De Niro etc. Ele é da geração Paul Newman, Redford e Steve McQueen.
Não era articulado como Newman. Não era bem relacionado como Redford. Nem tinha a cara de rebelde de McQueen. Era apenas bonito. Muito alto, muito bonito. Como centenas em sua geração. Tinha voz ruim. E não era de teatro, era, pior que tudo, da TV. Se hoje vir da TV ainda atrapalha, nos anos 50 ser ator de série de TV era um anti currículo. Ele era ator em Rawhide. Mais uma das muitas séries de western de então. Durou de 1956 à 1965. Nessa época Clint esteve em alguns filmes de cinema B. Mr Ed, numa ponta. Um filme de sci fi, com uma fala. Seu destino parecia ser a TV. Fazer mais algumas séries de western. E depois, por volta dos 40 anos, sumir.
Mas houve uma primeira guinada. Em 1964 ele vai fazer um filme na Itália. Com um tal de Leone. Entenda: fazer western na Itália em 1964 seria como hoje ir fazer uma ficção científica na India. Pura decadência. Leone não era Fellini. Não era Antonioni. Era um ninguém. E faroeste na Itália só podia ser uma piada. Vergonha. Porém o filme fez sucesso. Por uma intuição, uma coincidência, ele bateu com o espírito da época. Era amoral. Era violento. E Clint era misterioso, calado, quase irreal.
Entretanto nos USA continuava um zé ninguém. Foi trabalhar com Don Siegel, que também era um velho zé ruela. Clint já tinha 38 anos. Newman já era Paul Newman, Redford fazia Butch Cassidy e McQueen era o ator mais cool do mundo. Clint Eastwood era apenas o cara do faroeste italiano. Com Siegel fez Coogan. Bom filme. Ótimo na verdade. Mas era uma situação estranha. Ídolo na Itália. Ator de segunda em seu país.
Então em 1971 veio Dirty Harry. No auge do movimento hippie, Clint e Don Siegel fazem um filme onde o herói é um policial. Que mata sem julgamento. E o vilão é um hippie. Pauline Kael e outros críticos caem matando: Clint é fascista. O filme é nazista. Kael iria perseguir Clint por toda a vida. Dirty Harry tinha tudo pra ser um fracasso. Não foi. Fez de Clint um ídolo nos USA e no mundo. O herói de paletó, cabelo lavado e sem barba, Magnum na mão, se tornava aceito no mundo louco de 1971.
Mesmo assim todos apostavam: Ele não dura. James Caan é melhor. Apostem em Elliot Gould. Michael Sarrazin. Até mesmo Michael J. Pollard parecia ter um destino melhor. E mais irritante para quem não gostava dele, Clint Eastwood achava que sabia dirigir filmes!!!! Isso Kael não perdoava. Como esse ignorante podia se meter a fazer filmes?
Parece absurdo tudo isso. Visto hoje é quase inacreditável, mas por volta de 1977 Clint era considerado o pior diretor da América. Um estúpido, inarticulado, que fazia filmes para caipiras dos cafundós do Alabama. Até Burt Reynolds tinha mais respeito. ( Os dois eram os campeões de bilheteria de então ). Um filme como Josey Wales, de 1976, mal foi resenhado. Era chamado de apenas mais um western daquele cara que não sabe dirigir. Clint já tinha 46 anos.
Nos anos 80 ele se assumiu republicano e até prefeito foi. Eu lia jornal nessa época e não ia com a cara dele. Na verdade o odiava. Todo crítico o chamava de fascista, então não tinha como não o odiar. Quando ele fez Bird, em 1987, alguns críticos começaram a negar tudo o que diziam até então. O cara ouvia Jazz? Dizia ter visto Bird tocar? Mas como? Ele não era racista? Ele sabia ler? Será que vale à pena levar ele à sério?
Coração de Caçador foi o filme que mudou a vida de Clint Eastwood. Aos 60 anos, a crítica via o óbvio: ele era o grande herdeiro do cinema de John Huston. ( Para mim ele é muito mais Howard Hawks ). Da noite pro dia parecia que haviam esquecido Dirty Harry. Agora era chique gostar de Clint Eastwood. Na relativa paz entre democratas e republicanos nos anos 90, Clint pode finalmente mostrar quem ele sempre fora. Um grande tipo. Um imenso caráter. O Gary Cooper de sua geração.
O que veio depois voce já sabe. Dois Oscars como melhor diretor. A aceitação de Hollywood ( que desapareceu neste século intolerante ), a tranquilidade de uma carreira vencedora.
Mas era pra não ter dado certo.
Não era articulado como Newman. Não era bem relacionado como Redford. Nem tinha a cara de rebelde de McQueen. Era apenas bonito. Muito alto, muito bonito. Como centenas em sua geração. Tinha voz ruim. E não era de teatro, era, pior que tudo, da TV. Se hoje vir da TV ainda atrapalha, nos anos 50 ser ator de série de TV era um anti currículo. Ele era ator em Rawhide. Mais uma das muitas séries de western de então. Durou de 1956 à 1965. Nessa época Clint esteve em alguns filmes de cinema B. Mr Ed, numa ponta. Um filme de sci fi, com uma fala. Seu destino parecia ser a TV. Fazer mais algumas séries de western. E depois, por volta dos 40 anos, sumir.
Mas houve uma primeira guinada. Em 1964 ele vai fazer um filme na Itália. Com um tal de Leone. Entenda: fazer western na Itália em 1964 seria como hoje ir fazer uma ficção científica na India. Pura decadência. Leone não era Fellini. Não era Antonioni. Era um ninguém. E faroeste na Itália só podia ser uma piada. Vergonha. Porém o filme fez sucesso. Por uma intuição, uma coincidência, ele bateu com o espírito da época. Era amoral. Era violento. E Clint era misterioso, calado, quase irreal.
Entretanto nos USA continuava um zé ninguém. Foi trabalhar com Don Siegel, que também era um velho zé ruela. Clint já tinha 38 anos. Newman já era Paul Newman, Redford fazia Butch Cassidy e McQueen era o ator mais cool do mundo. Clint Eastwood era apenas o cara do faroeste italiano. Com Siegel fez Coogan. Bom filme. Ótimo na verdade. Mas era uma situação estranha. Ídolo na Itália. Ator de segunda em seu país.
Então em 1971 veio Dirty Harry. No auge do movimento hippie, Clint e Don Siegel fazem um filme onde o herói é um policial. Que mata sem julgamento. E o vilão é um hippie. Pauline Kael e outros críticos caem matando: Clint é fascista. O filme é nazista. Kael iria perseguir Clint por toda a vida. Dirty Harry tinha tudo pra ser um fracasso. Não foi. Fez de Clint um ídolo nos USA e no mundo. O herói de paletó, cabelo lavado e sem barba, Magnum na mão, se tornava aceito no mundo louco de 1971.
Mesmo assim todos apostavam: Ele não dura. James Caan é melhor. Apostem em Elliot Gould. Michael Sarrazin. Até mesmo Michael J. Pollard parecia ter um destino melhor. E mais irritante para quem não gostava dele, Clint Eastwood achava que sabia dirigir filmes!!!! Isso Kael não perdoava. Como esse ignorante podia se meter a fazer filmes?
Parece absurdo tudo isso. Visto hoje é quase inacreditável, mas por volta de 1977 Clint era considerado o pior diretor da América. Um estúpido, inarticulado, que fazia filmes para caipiras dos cafundós do Alabama. Até Burt Reynolds tinha mais respeito. ( Os dois eram os campeões de bilheteria de então ). Um filme como Josey Wales, de 1976, mal foi resenhado. Era chamado de apenas mais um western daquele cara que não sabe dirigir. Clint já tinha 46 anos.
Nos anos 80 ele se assumiu republicano e até prefeito foi. Eu lia jornal nessa época e não ia com a cara dele. Na verdade o odiava. Todo crítico o chamava de fascista, então não tinha como não o odiar. Quando ele fez Bird, em 1987, alguns críticos começaram a negar tudo o que diziam até então. O cara ouvia Jazz? Dizia ter visto Bird tocar? Mas como? Ele não era racista? Ele sabia ler? Será que vale à pena levar ele à sério?
Coração de Caçador foi o filme que mudou a vida de Clint Eastwood. Aos 60 anos, a crítica via o óbvio: ele era o grande herdeiro do cinema de John Huston. ( Para mim ele é muito mais Howard Hawks ). Da noite pro dia parecia que haviam esquecido Dirty Harry. Agora era chique gostar de Clint Eastwood. Na relativa paz entre democratas e republicanos nos anos 90, Clint pode finalmente mostrar quem ele sempre fora. Um grande tipo. Um imenso caráter. O Gary Cooper de sua geração.
O que veio depois voce já sabe. Dois Oscars como melhor diretor. A aceitação de Hollywood ( que desapareceu neste século intolerante ), a tranquilidade de uma carreira vencedora.
Mas era pra não ter dado certo.