Desconfie sempre dos apaixonados. Eles são cegos.
Entre 2005 - 2014, eu fui apaixonado por cinema. Sentir amor pelo cinema eu sinto desde meus 14 anos, mas paixão é diferente. Na paixão voce não ignora os defeitos, voce os exalta e os admira. Há um sentimento de que tudo dentro do meio é bom, pelo simples fato de que tudo dentro do meio é parte da paixão, o cinema. Mas por que estou falando isso? Para dizer que a paixão morreu e o amor permanece. E o que muda com isso?
Amor procura prazer, paixão quer a própria paixão, mesmo que ela o faça sofrer. Voce pode sofrer por amor, mas é um sofrimento passageiro, a mete é o bem, e o bem é alegria. Na paixão não há meta, o que existe é a rotina de sobreviver dia a dia. Não há saída e voce nem quer saída nenhuma. Voce se subjuga e subjuga o outro. Isso vale para a relação entre humanos, mas também entre humano e objeto, humano e arte.
Cheguei a ter 3.200 dvds. Sim. Uma quantidade imensa de filmes que eu jamais veria uma segunda vez. Não os veria por falta de tempo, mas também porque eu não achava que haveria prazer em os rever. Mantinha-os por paixão ao cinema. Me sentia obrigado.
Tenho me livrado de muitos desses filmes. Já se foram 800. Espero um dia ter uns 500 apenas. Não os vendo. DVDs hoje não têm valor algum, são objetos sem apreço como objetos que são. Não os dou pois não há amigos que desejem os ter. Nosso mundo está se esvaziando de coisas sólidas e se entupindo de dejetos mentais. Então deixo-os em bancos de praça ou em pontos de bus. Quem quiser que os pegue. Goddard se foi inteiro. Sem a paixão voce não consegue ver onde o mérito de Goddard. Ele só serve para quem está doido por cinema ou maluco por ideologia. Rhomer, Bertolucci, Rosselini também se foram. Não há prazer em os ver. Olho as capas dos dvds e não sinto afeto sorridente. Não são amigos.
Woody Allen sofreu imensas perdas. Mais de 20 foram largados. Nunca mais irei rever A Rosa Púrpura ou Poderosa Afrodite. Allen é ok, mas caramba, na verdade seu mundo é apenas homens atrás de mulheres.
Melhor falar dos que amo, não é? Impossível largar Bergman em uma praça. Impossível deixar Kurosawa na chuva. Mais que paixões, eles são amores, me definem como homem adulto. Acho que não preciso dizer quais outros ficarão comigo até meu fim: Hitch, Ford, Huston, Hawks, musicais de Astaire, os filmes noir franceses de Melville e Becker, filmes de samurais, várias aventuras de Erroll Flynn, Clint e Steve McQueen, Powell, Lean e Reed.
São amores, são um prazer, me dão desejo de revisitar, estar junto. Vejo seus defeitos, mas me deito ao lado de seu brilho e de seu calor. Almas gêmeas? Sim, por que não.
Entre 2005 - 2014, eu fui apaixonado por cinema. Sentir amor pelo cinema eu sinto desde meus 14 anos, mas paixão é diferente. Na paixão voce não ignora os defeitos, voce os exalta e os admira. Há um sentimento de que tudo dentro do meio é bom, pelo simples fato de que tudo dentro do meio é parte da paixão, o cinema. Mas por que estou falando isso? Para dizer que a paixão morreu e o amor permanece. E o que muda com isso?
Amor procura prazer, paixão quer a própria paixão, mesmo que ela o faça sofrer. Voce pode sofrer por amor, mas é um sofrimento passageiro, a mete é o bem, e o bem é alegria. Na paixão não há meta, o que existe é a rotina de sobreviver dia a dia. Não há saída e voce nem quer saída nenhuma. Voce se subjuga e subjuga o outro. Isso vale para a relação entre humanos, mas também entre humano e objeto, humano e arte.
Cheguei a ter 3.200 dvds. Sim. Uma quantidade imensa de filmes que eu jamais veria uma segunda vez. Não os veria por falta de tempo, mas também porque eu não achava que haveria prazer em os rever. Mantinha-os por paixão ao cinema. Me sentia obrigado.
Tenho me livrado de muitos desses filmes. Já se foram 800. Espero um dia ter uns 500 apenas. Não os vendo. DVDs hoje não têm valor algum, são objetos sem apreço como objetos que são. Não os dou pois não há amigos que desejem os ter. Nosso mundo está se esvaziando de coisas sólidas e se entupindo de dejetos mentais. Então deixo-os em bancos de praça ou em pontos de bus. Quem quiser que os pegue. Goddard se foi inteiro. Sem a paixão voce não consegue ver onde o mérito de Goddard. Ele só serve para quem está doido por cinema ou maluco por ideologia. Rhomer, Bertolucci, Rosselini também se foram. Não há prazer em os ver. Olho as capas dos dvds e não sinto afeto sorridente. Não são amigos.
Woody Allen sofreu imensas perdas. Mais de 20 foram largados. Nunca mais irei rever A Rosa Púrpura ou Poderosa Afrodite. Allen é ok, mas caramba, na verdade seu mundo é apenas homens atrás de mulheres.
Melhor falar dos que amo, não é? Impossível largar Bergman em uma praça. Impossível deixar Kurosawa na chuva. Mais que paixões, eles são amores, me definem como homem adulto. Acho que não preciso dizer quais outros ficarão comigo até meu fim: Hitch, Ford, Huston, Hawks, musicais de Astaire, os filmes noir franceses de Melville e Becker, filmes de samurais, várias aventuras de Erroll Flynn, Clint e Steve McQueen, Powell, Lean e Reed.
São amores, são um prazer, me dão desejo de revisitar, estar junto. Vejo seus defeitos, mas me deito ao lado de seu brilho e de seu calor. Almas gêmeas? Sim, por que não.