ATENÇÃO! ESTE TEXTO TEM PALAVRÕES E É BASTANTE BURRO

   Uma das coisas que mais fodeu minha adolescência foi eu ter metido na cabeça que minha mente era uma grande coisa. Já aos 14 anos me tornei um pretensioso fake. Então, para manter essa auto estima besta em dia, passei a ler e seguir críticos de cinema e de música. Era a década de 70, e se voce acha que intelectuais são, em 2020, doutrinadores, é porque voce não viveu em 1977. Para esses críticos de 77, fazer sucesso era sempre imperdoável e ser apolítico era prova de fascismo. É por isso que voce, jovem deste milênio, se surpreende ao saber que Pasolini ou Bertolucci eram tão endeusados. Assim como Costa-Gavras e Goddard, seus grandes méritos eram ser de esquerda, bem de esquerda, mega de esquerda, e jamais terem grande bilheteria ( Bertolucci começou a ser mal falado quando fez sucesso com o Tango em Paris ). Diretores que ousavam falar mal dessa turma politizada, gente como Huston, Hawks e McCarey, eram logo taxados de direitistas, alienados e vendidos.
  No rock era a mesma coisa. E então, lá estava eu, ingênuo e quase criança ainda, lendo os críticos, e me obrigando a gostar de tudo o que eles elogiavam. Eu me via como um cara especial, superior, então eu tinha a obrigação de amar Cassavetes e de abominar um simples filme divertido e bem feito. Como eu dizia, no rock a gente, se era inteligente, tinha de amar Leonard Cohen e Carole King, Joni Mitchell e Bob Dylan. Ok, eles até que são legais às vezes, mas eu tinha de ouvir só eles. E pior que tudo, eu era convencido a odiar com todas as forças todo rock que fosse apenas diversão. Ou adrenalina.
  Aerosmith, AC DC, Judas Priest, e acima de tudo, Black Sabbath, eram chamados de rock analfabeto. Era sub música, sub letras, sub público e sub tudo. O Led Zeppelin logo fugiu dessa turma, por isso Plant e Page sempre davam um jeito de falar que não faziam parte do hard rock ou do heavy metal. Infelizmente o Led nunca mais quis fazer um outro Led Zeppelin II para não correr o risco de ser comparado ao Deep Purple, a mais burra das bandas segundo a crítica in.
  Foi então que me fodi. Parei de ver rock como diversão e sim como educação.
  Graças aos tempos, hoje o rock está tão ao canto que todos podem escutar o que quiser sem sofrer grandes pressões. Hoje até o Queen é levado em conta. Em 1978 era uma banda da direita nojenta. Arre!
  Escrevo tudo isto só pra dizer que SABBATH BLOODY SABBATH, disco que me proibi de continuar ouvindo em 1977, ao descobrir que era ruim e burro segundo a crítica, é um disco perfeito. Sim, perfeito, com riffs inesquecíveis e criativo ao extremo. Sabra Cadabbra e Looking for Today são diferentes de tudo que se fazia então, criam um novo som. A banda de Tony Iommi estava sozinha nesse estilo. E eu amava esse disco até aprender que ele era ruim.
  Oh God!
  Não há uma só faixa pobre e voce o escuta numa levada só, sem quedas e sem decepções. Melhor que os mais respeitados em seu tempo Pink Floyd e Neil Young.
  Acredite, uma das piores coisas da vida é receber uma educação torta. Não receber educação nenhuma é menos nocivo. Hoje não há mais uma educação musical ativa. Em 1977 quem escrevia no JT ou na POP era a única opinião. Então era a verdade incontestável. Pobre Ozzy que não tinha uma só voz ao seu lado! Apenas o fãs...mas eles eram analfabetos, não contavam.
  Vou ouvir o disco de novo.