Filme de arte só será cult se em seu lançamento tiver sido um fracasso. Mas eu acho que mesmo assim não será um cult de verdade.
Isso porque a mais bela característica do cult é ser atemporal por acidente. O autêntico cult é feito sem querer. Não existe cult feito com a intenção de ser cult ( muita gente faz com essa ideia, mas jamais consegue porque a gente percebe o fake em tudo ).
O filme nasce como apenas mais um filme, passa meio despercebido, alguém o revê anos depois, e descobre que ali há algo de muito diferente. Vira cult quando um grupo grande pessoas concorda com essa descoberta e passam a citar esse filme como um tipo de sabor adquirido.
Groundhog Day é um cult absoluto. Em seu tempo causou algum impacto, mas foi tratado como apenas mais uma comédia de Harold Ramis. Mas então algo estranho aconteceu. Primeiro os psicanalistas e depois os religiosos, principalmente os rabinos, descobriram o filme. Os cinemaníacos vieram em seguida.
Voce conhece o filme. Bill Murray é um meteorologista de tv mal humorado e egoísta que vai à cidade do interior cobrir o dia da marmota. Mas acontece algo estranho, o dia se repete ao infinito. Todo dia ele acorda para viver mais uma vez o mesmo dia. O mesmo tempo, as mesmas pessoas falando as mesmas coisas. Tudo igual. Positivamente isto não é uma comédia.
O filme incomoda muito e chega a causar angústia. Murray vai do puro desespero, ele se mata várias vezes, ao cinismo, ele usa a repetição para ganhar dinheiro e sexo. No final, numa cena de aterradora beleza, ele começa se curar ao descobrir a morte do outro. Morte contra a qual ele nada pode fazer.
Psicanalistas logo notaram que o filme exibe o processo de análise como poucas vezes o cinema pode mostrar. Murray, como um analisando, revive no presente a memória, e passa a viver essa lembrança de todos os modos possíveis. O dia, eterno dia, pode ser visto como prisão, como dor, como angústia, mas também como apreciação, chance de recomeço, auto conhecimento.
Já para os religiosos há a ideia preciosa de que sim, os dias são iguais, mas se voce souber enxergar o que há de sagrado neles, nenhum dia será como o outro. O pecado maior é exatamente não perceber que cada dia é a chance de se fazer algo de novo. Nunca tentado antes. Um dia é apenas uma tela, sempre uma tela, mas voce pode pintar algo de único sobre essa tela.
Há muito o que dizer sobre esse filme. Desde o fato de que todos nós vivemos dias iguais, e nos esquecemos disso, até o fato de que eles são iguais para que possamos ter um mínimo de segurança para então poder tentar o novo.
É o melhor desempenho na vida de Bill Murray e o filme toca fundo nossos piores medos.
Veja.
Isso porque a mais bela característica do cult é ser atemporal por acidente. O autêntico cult é feito sem querer. Não existe cult feito com a intenção de ser cult ( muita gente faz com essa ideia, mas jamais consegue porque a gente percebe o fake em tudo ).
O filme nasce como apenas mais um filme, passa meio despercebido, alguém o revê anos depois, e descobre que ali há algo de muito diferente. Vira cult quando um grupo grande pessoas concorda com essa descoberta e passam a citar esse filme como um tipo de sabor adquirido.
Groundhog Day é um cult absoluto. Em seu tempo causou algum impacto, mas foi tratado como apenas mais uma comédia de Harold Ramis. Mas então algo estranho aconteceu. Primeiro os psicanalistas e depois os religiosos, principalmente os rabinos, descobriram o filme. Os cinemaníacos vieram em seguida.
Voce conhece o filme. Bill Murray é um meteorologista de tv mal humorado e egoísta que vai à cidade do interior cobrir o dia da marmota. Mas acontece algo estranho, o dia se repete ao infinito. Todo dia ele acorda para viver mais uma vez o mesmo dia. O mesmo tempo, as mesmas pessoas falando as mesmas coisas. Tudo igual. Positivamente isto não é uma comédia.
O filme incomoda muito e chega a causar angústia. Murray vai do puro desespero, ele se mata várias vezes, ao cinismo, ele usa a repetição para ganhar dinheiro e sexo. No final, numa cena de aterradora beleza, ele começa se curar ao descobrir a morte do outro. Morte contra a qual ele nada pode fazer.
Psicanalistas logo notaram que o filme exibe o processo de análise como poucas vezes o cinema pode mostrar. Murray, como um analisando, revive no presente a memória, e passa a viver essa lembrança de todos os modos possíveis. O dia, eterno dia, pode ser visto como prisão, como dor, como angústia, mas também como apreciação, chance de recomeço, auto conhecimento.
Já para os religiosos há a ideia preciosa de que sim, os dias são iguais, mas se voce souber enxergar o que há de sagrado neles, nenhum dia será como o outro. O pecado maior é exatamente não perceber que cada dia é a chance de se fazer algo de novo. Nunca tentado antes. Um dia é apenas uma tela, sempre uma tela, mas voce pode pintar algo de único sobre essa tela.
Há muito o que dizer sobre esse filme. Desde o fato de que todos nós vivemos dias iguais, e nos esquecemos disso, até o fato de que eles são iguais para que possamos ter um mínimo de segurança para então poder tentar o novo.
É o melhor desempenho na vida de Bill Murray e o filme toca fundo nossos piores medos.
Veja.