COM ASAS DE ÁGUIA - MICHAEL KORDA

   Sir Hugh Dowding é o personagem principal deste livro. Foi ele quem, ainda nos anos de 36-37, teve a desacreditada ideia, de dar à Grã-Bretanha, um sistema de radar e de comunicação que fez com que em 1940, a Alemanha de Hitler e de Goring pudesse ser detida. Foi Dowding que inventou o sistema que vemos em qualquer filme de guerra atual: a sala com uma mesa onde vemos o avanço de tropas, navios ou aviões; um quadro na parede com batalhas em tempo real; linhas telefônicas ligadas a radares; liderança central e coordenação de todo um território minuto a minuto. Os nazistas vinham em ondas de aviões, mas os ingleses já sabiam de onde eles vinham e quantos eles eram. Para preservar pilotos e aviões, Dowding liberava apenas o necessário para cada missão. Os alemães nunca souberam assim, quantos eram os aviões ingleses no total. ( Eram muito mais do que eles pensavam ).
  Beppo Schmidt talvez seja o cara que fez a Alemanha perder. Era o informante alemão. E nesse papel ele foi um desastre. Informava que pistas abandonadas ainda eram usadas, confundia fábricas com centros de armas, campos desertos com áreas militares. Preguiçoso, bastaria ter lido um guia turístico para saber onde jogar suas bombas. Sim!!!! Korda diz que o guia Shell de turismo informava onde estavam as bases militares. Todas elas. Beppo jamais leu esses guias. Usava apenas seu binóculo em viagens de espionagem regadas à vinho e mulheres...
  Os alemães erraram e muito. Acreditavam que os ingleses, covardes, se renderiam ao primeiro tiro. Hitler não queria invadir a ilha, ele esperava uma rendição rápida e sem dor. Acabou tendo de lutar, e Goring, líder da aeronáutica, era uma figura patética. Hiper vaidoso, cercado por luxo, inflexível, mal visitava suas bases, trancada em seu palácio nos arredores de Paris. Os pilotos alemães foram jogados ao acaso em missões sempre mal planejadas e mal nutridas. Mas houve mais...
  Tivesse atacado com tudo logo após Dunquerque, Hitler poderia ter vencido; mas ele deu tempo à Dowding. Comemorando a posse da França, o tempo se esvaiu, e quando se voltou para a ilha ela já estava pronta. Spitfires e Hurricanes a postos, eles eram mais rápidos que os Stukas e os Bf 110 da Alemanha. Korda descreve as batalhas acontecidas entre agosto e outubro de 1940, dia a dia, perda a perda. Dá nome aos pilotos heróis, dos dois lados, fala dos voluntários do Canadá, da Nova Zelândia, da Polonia, os tchecos, os americanos. Nos sentimos no dia a dia desses jovens, sem poder dormir, partindo em até 4 missões por dia, com uma expectativa de vida de cinco missões. A adrenalina nos é passada pelo texto, nos sentimos no ar, em perigo, olho a olho. Os esquadrões de milionários, com suas echarpes de seda e seu glamour; os esquadrões de artistas; as mulheres nas bases sob bombas. É o tipo de livro que não se consegue parar de ler.
  Michael Korda, o autor, lutou na Hungria na revolução de 1956. Piloto, é filho de Vincent Korda e sobrinho de Alexander Korda, dois emigrantes húngaros que são nomes centrais no cinema inglês dos anos 30 e 40. Até Oscar eles ganharam. Michael escreve com elegância e nunca parece ufanista. Inclusive reconhece que Londres só foi bombardeada depois que Churchill mandou jogar bombas sobre o território alemão. Todo o acaso da guerra, e da vida, afloram no texto.
  Que delícia de se ler...