OS QUATRO AMORES - C.S.LEWIS

   Em edição com capa dura, bonita, este livro pensa a cerca de quatro formas de amor: o afeto, a amizade, o amor erótico e a caridade. Há uma decepção óbvia com o primeiro texto. Lewis parece não se animar com o afeto. Afeto seria o amor que une pessoas em interesse comum. É aquilo que nos faz ser gregários, sociais. Sentimento que nos faz precisar de alguém ou apreciar alguma coisa. É o amor que sentimos por animais, objetos, lugares, lembranças. O texto é parcialmente convincente.
   Isso não acontece com o que ele escreve sobre a amizade. Aqui Lewis beira a genialidade. Basta citar sua percepção de que a amizade é o amor menos prezado e valorizado pelo mundo moderno. Isso porque a associação de dois ou três amigos, faz deles seres à parte, fora do comum. Um tipo de amor sem ciúme e sem cegueira, a amizade dispõe os participantes lado à lado, prontos para observar e usufruir do mundo. O texto de Lewis é muito mais que isso. Ele consegue nos mostrar o porque da desconfiança de esposas, maridos e chefes em relação à amigos. Amor valorizado ao máximo no mundo antigo, desde o romantismo ele é desvalorizado. Por não ser trágico, perigoso, sanguíneo, a amizade tornou-se vista como um tipo de amor sem risco, sem narrativa e sem tragédia. Deixou-se de perceber sua nobreza. A grande sacada de Lewis: é, dos amores, o mais humano. Amor sem corpo, puro espírito. Pode-se viver sem amigos. Ele é uma escolha sempre, jamais uma necessidade.
   Belo é também o texto sobre eros. E, como os outros textos, Lewis faz uma coisa matreira, que seja: exibe o bem de eros para em seguida provar seu perigo. A amizade é nobre, mas pode se tornar soberba. Eros é lindo, mas pode virar crueldade. Eros não é animalidade, pois precisamos de uma única pessoa e não de qualquer uma. Lewis descreve o caminho que o amor-sexo percorre e seu crescimento quando unido à amizade.
  Por fim temos a caridade, e ela não é aquilo que voce imagina. Aqui Lewis se poetiza, cresce, e se cala ao fim. O livro, apenas 200 páginas, se encerra em clave celestial. Se levamos algum amor conosco para outra vida, quem pode saber?, esse amor seria o caridoso e não o eros ou a amizade. Não nos cabe saber qual de nossos amores é o caridoso. Não nos cabe saber qual deles seria o mais celestial.
  Sei que é um pequeno livro bonito.