Acabo de ler este livro que venceu o Pulitzer de melhor autobiografia em 2016. Em termos de estilo de escrita é delicioso. O autor, jornalista conhecido, escreve no estilo "americano". O modo direto e nunca afetado de Mailer, Bellow e Heminguay. Coloquial mas nunca pobre. Denso, cheio de metáforas, limpo.
Finnegan é conhecido no meio. Escreve inclusive na New Yorker. Tem livros sobre guerras na Africa, situação humanitária na América Central, vida no Oriente. Sim, ele é um típico liberal de esquerda, daquele tipo que os anos 60 formaram. Um pensamento que só existe nos EUA, pois são liberais que odeiam o capitalismo e ao mesmo tempo amam a liberdade. Uma contradição com que eles convivem com ansiedade e desacertos. Por isso produzem tanto.
Finnegan nasce numa família de classe média na costa leste. Mas por razões de trabalho, o pai faz parte do meio da TV e do cinema, eles se mudam para a California. Essa a parte mais brilhante do belo livro. A infância e a adolescência de William em um mundo mutante. Brigas na escola, gangs de recreio, insegurança física, a descoberta do poder do surf. A grande sacada de Finnegan, e que ele irá confirmar ao fim do livro: a grande mudança do surf é que até os anos 80 ele era um esporte dos isolados, dos solitários, dos calados. E desde então, com a popularização, ele se torna esporte de grupo, de bandos, de galera. O surfista deixa de ser um individualista radical, e passa a ser apenas um consumidor de fim de semana. Mas me adianto...
O pai de William começa a trabalhar na produção de uma série havaiana, e a família se muda outra vez. Na ilha ele se faz surfista. Começo dos anos 60. Mudança da prancha grande e pesada para as leves e pontudas. Sai de cena a surf music e entra a psicodelia. Qualidade do livro, Finnegan é modesto. O livro não é sobre uma busca pessoal. Não é sobre filosofia new age. Ele surfa. Ele consegue trabalhos modestos. E viaja.
Bali, Java, Samoa, Australia. Tudo antes da popularização. Doenças, misérias, roubadas. E ondas em praias ainda não popularizadas pelas revistas. Ele passa anos nessas viagens. Longe da família, com a qual ele se dá bem, ao lado de um amigo: pode ser Dominic, pode ser Bryan...cruzam o deserto australiano ( William descobre que não há país onde o trabalhador seja mais bem pago que em OZ ), vão à Africa do Sul.
Finnegan vira professor. É o fim do apartheid, tempo quente, tempo de crise. Ainda sobe a Africa com uma namorada. E volta aos EUA. Adulto.
Mas não é o fim. Já quarentão, descobre seu pico favorito: a Ilha da Madeira, Portugal. Aldeias, plantações, camponeses pobres. Ele fica anos por lá, uma década. Acha a melhor onda. Mas as coisas mudam: a comunidade europeia e Portugal faz estradas, tuneis, hotéis, tudo se enche de turistas e a onda morre numa rodovia beira mar mal feita. Aos 50 anos ele desiste. O corpo dói. Escreve full time. Tem filha. Ela surfa.
Um surfista, essa raça tão mal entendida, quer apenas uma coisa da vida: surfar. Só saberá o porque disso aquele que provou da droga. O livro explica mesmo para não-surfistas. Na união de homem e mar vive a parte mais pura de nossas aventuras. De Odisseu à Camões, dos pescadores aos surfistas. De Conrad à Finnegan.
Finnegan é conhecido no meio. Escreve inclusive na New Yorker. Tem livros sobre guerras na Africa, situação humanitária na América Central, vida no Oriente. Sim, ele é um típico liberal de esquerda, daquele tipo que os anos 60 formaram. Um pensamento que só existe nos EUA, pois são liberais que odeiam o capitalismo e ao mesmo tempo amam a liberdade. Uma contradição com que eles convivem com ansiedade e desacertos. Por isso produzem tanto.
Finnegan nasce numa família de classe média na costa leste. Mas por razões de trabalho, o pai faz parte do meio da TV e do cinema, eles se mudam para a California. Essa a parte mais brilhante do belo livro. A infância e a adolescência de William em um mundo mutante. Brigas na escola, gangs de recreio, insegurança física, a descoberta do poder do surf. A grande sacada de Finnegan, e que ele irá confirmar ao fim do livro: a grande mudança do surf é que até os anos 80 ele era um esporte dos isolados, dos solitários, dos calados. E desde então, com a popularização, ele se torna esporte de grupo, de bandos, de galera. O surfista deixa de ser um individualista radical, e passa a ser apenas um consumidor de fim de semana. Mas me adianto...
O pai de William começa a trabalhar na produção de uma série havaiana, e a família se muda outra vez. Na ilha ele se faz surfista. Começo dos anos 60. Mudança da prancha grande e pesada para as leves e pontudas. Sai de cena a surf music e entra a psicodelia. Qualidade do livro, Finnegan é modesto. O livro não é sobre uma busca pessoal. Não é sobre filosofia new age. Ele surfa. Ele consegue trabalhos modestos. E viaja.
Bali, Java, Samoa, Australia. Tudo antes da popularização. Doenças, misérias, roubadas. E ondas em praias ainda não popularizadas pelas revistas. Ele passa anos nessas viagens. Longe da família, com a qual ele se dá bem, ao lado de um amigo: pode ser Dominic, pode ser Bryan...cruzam o deserto australiano ( William descobre que não há país onde o trabalhador seja mais bem pago que em OZ ), vão à Africa do Sul.
Finnegan vira professor. É o fim do apartheid, tempo quente, tempo de crise. Ainda sobe a Africa com uma namorada. E volta aos EUA. Adulto.
Mas não é o fim. Já quarentão, descobre seu pico favorito: a Ilha da Madeira, Portugal. Aldeias, plantações, camponeses pobres. Ele fica anos por lá, uma década. Acha a melhor onda. Mas as coisas mudam: a comunidade europeia e Portugal faz estradas, tuneis, hotéis, tudo se enche de turistas e a onda morre numa rodovia beira mar mal feita. Aos 50 anos ele desiste. O corpo dói. Escreve full time. Tem filha. Ela surfa.
Um surfista, essa raça tão mal entendida, quer apenas uma coisa da vida: surfar. Só saberá o porque disso aquele que provou da droga. O livro explica mesmo para não-surfistas. Na união de homem e mar vive a parte mais pura de nossas aventuras. De Odisseu à Camões, dos pescadores aos surfistas. De Conrad à Finnegan.