NONA SINFONIA, A OBRA PRIMA DE BEETHOVEN E O MUNDO NA ÉPOCA DE SUA CRIAÇÃO - HARVEY SACHS.

   Este admirável livro começa pela biografia de Beethoven. Por ser conhecida por todos, é a parte menos fascinante. Muito melhor é quando o autor, Harvey Sachs, discorre sobre o ano de 1824, tema central deste pequeno livro de apenas 220 páginas.
  Para o autor, o romantismo é uma reação para a decepção. O fim das guerras napoleônicas podem ter sido um alivio, mas trouxeram como consequência imediata, o começo de uma época de censura e de repressão. A alma artística, ansiando por liberdade, se refugia dentro de si mesma e cria o mundo romântico, mundo que dura até hoje.
  1824 é o ano da estreia da Nona Sinfonia de Beethoven, em Viena, maio. Sachs analisa os grandes artistas em atividade plena durante esse ano: Stendhal, Byron, Delacroix, Schubert, Pushkin, Heinrich Heine. Claro que havia muito mais, Shelley, Balzac, Goethe, Leopardi eram dessa época, mas os artistas destacados são aqueles que em espírito têm mais afinidade com a Nona Sinfonia. Sachs mostra como e porquê.
  Na terceira parte ele descreve em palavras, momento a momento da imensa sinfonia. Sachs sabe música, mas escreve para leigos, e assim, luta para descrever música em palavras e não em notas e harmonias. É fascinante e também insatisfatório.
  Depois ele nos mostra as opiniões de Berlioz, Wagner, Verdi, Schumann e Donizetti sobre a Nona. E então vem a coda, o final do livro. Eu o recomendo como leitura ótima para quem começa a ouvir música séria.
  Beethoven foi o primeiro artista, seja na música ou na literatura, a se ver como um homem que trabalha para o futuro. Nem Bach e nem Mozart escreviam para a posteridade. Bach dialogava com Deus, e pensava fazer música funcional, para a glória dos céus. Mozart sabia de seu valor, mas achava que sua arte seria descartada, esquecida. Nenhum deles sequer sonhava em ser lembrado vinte anos após sua morte, quanto mais dois séculos. Beethoven não. Ele ousou se considerar mais memorável que os reis de seu tempo. Foi o modelo e o inventor do que chamamos de gênio. ( Michelangelo sabia ser genial, mas o modo como ele se via era totalmente diferente do que hoje entendemos ser um gênio. O italiano estaria mais próximo do herói. Beethoven é o artista genial como hoje o entendemos ).
  Vivemos agora, em 2017, um repúdio ao grande homem. A classe midiática luta contra aquele que se destaca. Ela defende a massa, o movimento de grupo, o modesto participante de um todo, o anônimo. Tudo tolice! O mundo sem grandes homens e grandes mulheres e grandes gays é um mundo a mercê do medíocre.