O oriente e sua melancolia, o ocidente e sua ansiedade. A Europa e sua fascinação pelo UM, pela verdade e pela ordem, o oriente e sua fixação no múltiplo, na multi visão.
Orhan Pamuk anda pelas ruas de Istambul e conta sua infância. Anos 50, 60 e 70. Há uma estranha coincidência entre eu e ele: Pamuk, como eu, sente a melancolia pairando sobre uma cidade que perdeu sua alma. Istambul foi sede de um império e desde sua perda, nos anos 20, decai sem parar. As pessoas tentam imitar a Europa, lutam por se sentir europeus, mas tudo o que conseguem é ser um vazio, nem otomano e nem ocidental. No começo do livro o jovem Orhan é como os ricos de Istambul são, europeus no visual, otomanos derrotados na alma. Ele mata aulas e anda pela cidade. E começa a sentir amor-paixão pela velha Istambul.
Os palácios que viraram ruínas, as ruas dos pobres, sujas, confusões de casas que se desmontam e pedras em calçamentos antigos. Ruas escuras, mal iluminadas, pessoas desconfiadas. Orhan finge ser feliz, finge ser amigo, finge ser estudante, mas é um barco a deriva. Pinta, sonha, lê, e anda. Névoa, neve, frio, fuligem e o mar. A cidade dobrada sobre o mar, os navios que passam, a sujeira.
Orhan se reconcilia com a vida ao entender que ele é aquela cidade suja. Que ele ama aquela confusão de ruas imundas. A pobreza. Mas não a nova Istambul, uma cópia ridícula de uma cidade europeia que nunca existiu. Um lugar feito para pessoas que fingem ser do ocidente e que assim jogam ao lixo seu verdadeiro ser.
A linguagem de Orhan é tortuosa e seu Nobel em 2007 acaba por ser uma confirmação dessa crise. Hoje ele vive nos EUA, teve de sair de sua casa por ter sido ameaçado de morte. Para quem lê este livro, imaginar Orhan nos EUA é quase uma piada. Ou não.
Orhan Pamuk anda pelas ruas de Istambul e conta sua infância. Anos 50, 60 e 70. Há uma estranha coincidência entre eu e ele: Pamuk, como eu, sente a melancolia pairando sobre uma cidade que perdeu sua alma. Istambul foi sede de um império e desde sua perda, nos anos 20, decai sem parar. As pessoas tentam imitar a Europa, lutam por se sentir europeus, mas tudo o que conseguem é ser um vazio, nem otomano e nem ocidental. No começo do livro o jovem Orhan é como os ricos de Istambul são, europeus no visual, otomanos derrotados na alma. Ele mata aulas e anda pela cidade. E começa a sentir amor-paixão pela velha Istambul.
Os palácios que viraram ruínas, as ruas dos pobres, sujas, confusões de casas que se desmontam e pedras em calçamentos antigos. Ruas escuras, mal iluminadas, pessoas desconfiadas. Orhan finge ser feliz, finge ser amigo, finge ser estudante, mas é um barco a deriva. Pinta, sonha, lê, e anda. Névoa, neve, frio, fuligem e o mar. A cidade dobrada sobre o mar, os navios que passam, a sujeira.
Orhan se reconcilia com a vida ao entender que ele é aquela cidade suja. Que ele ama aquela confusão de ruas imundas. A pobreza. Mas não a nova Istambul, uma cópia ridícula de uma cidade europeia que nunca existiu. Um lugar feito para pessoas que fingem ser do ocidente e que assim jogam ao lixo seu verdadeiro ser.
A linguagem de Orhan é tortuosa e seu Nobel em 2007 acaba por ser uma confirmação dessa crise. Hoje ele vive nos EUA, teve de sair de sua casa por ter sido ameaçado de morte. Para quem lê este livro, imaginar Orhan nos EUA é quase uma piada. Ou não.