A JORNADA DE TODOS SE DIRIGE A SUA PERFEIÇÃO....Mantiq Ut Tayr.
No último capítulo da vida de Burton, ele, doente, deprimido, traduz As Mil e Uma Noites. E escreve 500 páginas de notas sobre a obra. Segundo Burton, a vida é uma jornada, uma PEREGRINAÇÃO. Daí o fato de que todas as obras literárias que valem a pena, são viagens, são trajetos, são peregrinações. ( mesmo que interiores ).
Mais que islâmico, Burton foi um seguidor do sufismo, o mais sutil dos ramos do islã. Não há como saber se Burton realmente acreditava em Allah, ou se ele apenas era um curioso. Mas, e isso é certo e verdadeiro, ele seguia a Tariq, o acobertamento da fé, o disfarce, o não revelar aquilo que se sabe de mais íntimo. No centro da fé islâmica mora o segredo. Não se deve dizer o que se sabe, o que se é e o que se deseja. Burton seguiu isso. Mais, viveu isso.
O Nós e o Tú são um só. Assim se começa a explicação de todo segredo. Por detrás de todo ego há um Nós. E voce, o Tú, é Nós. O eu é a ilusão. Morremos quando morre o eu. Vivemos quando sabemos o Nós. Burton chegou até aí. Havia muito mais.
O pai de Richard Francis Burton viajava. Inglês, era um irrequieto. Roma foi onde mais ficaram. Lá, o jovem Burton conheceu o calor, a sujeira, a balbúrdia, a vida solta e vadia. Se misturava na rua. Depois veio Oxford, Cambridge, mundo que o matava de tédio. Ele jamais amou a Inglaterra. Seu mundo era quente.
Virou militar e diplomata. India. Sexo, muitas mulheres, caçadas, e o hinduísmo. O interesse de Burton pela religião era o do viajante. Ele ansiava por saber, por encontrar, por entender. Se transformava. Fisicamente ele se tornou cada local onde viveu. Virou hindu na India. Cigano entre ciganos. Depois Egito. Afeganistão. Muçulmano.
Seu respeito permaneceu islâmico. Sua família era católica. Peregrinou à Meca, e nessa jornada ele poderia ter morrido. Era heresia um branco ir à Meca. Mas ele não era mais branco. Era um negro para os ingleses. Um renegado. Um maluco. Foi a Medina. Damasco. Amava as mulheres do oriente. Mulheres que amavam o sexo, que faziam sexo, que tinham prazer. Burton traduziu e levou o Kama Sutra ao ocidente. Escrevia 11 livros ao mesmo tempo. Lançou mais de 80 em vida. Um deles sobre seu grande ídolo: Luis Vaz de Camões. Burton achava que Camões era seu eu anterior. Se via nele. Traduziu o poeta luso para o inglês.
Burton falia sempre. E viajava sem parar. Goa. Brasil. Paraguai. Argentina. Perú. Percorreu o Pantanal de cavalo. Navegou pelo rio São Francisco. Procurou ouro em Minas Gerais. Morou em SP e em Santos. Odiou o clima. Fez amizade com Pedro II.
África. Andou selvas a pé. Aprendeu mais línguas nativas. ( Sabia mais de 70 línguas. Do persa ao tupi ). Conheceu florestas onde brancos nunca haviam pisado. Febre, feridas, bichos, infecções, uma lança que perfurou sua face de lado a lado. E ele continuava. A pé. Meses, meses e anos. Era 1870, o auge do mito do viajante inglês, do descobridor de lugares isolados, do civilizador de negros, do caçador branco, do pesquisador afiado. Muitos morreram em florestas, geleiras, desertos. Burton sobreviveu e sempre voltou.
Amou o deserto. Deus vive no deserto. No silêncio. No nada. Nas estrelas do deserto. No frio da noite e o calor do dia. No limite da vida. Entre os beduínos que ele amava. Sempre em marcha. Sempre sem casa. Porque a casa era tudo. Todo lugar.
Casou e não teve filho. A esposa era um romântica católica. Ela queimou documentos secretos dele. Sim, pois Burton era um agente do governo inglês. Um James Bond real. Abria caminho para o imperialismo. Mas disso quase nada se sabe. Ela queimou tudo. O que a rainha não esperava era que o James Bond se tornasse um negro, um nativo, um árabe.
Burton dizia que só o islã salvava India e África da sujeira, da imundície, da crueldade completa e total. Havia limpeza, clareza e ética no islã. Todo um modo de ser que civilizava. E ele advertia que a Europa pouco tentava entender isso. A beleza do islamismo.
Ele morreu feito sir. E famoso. Um dos símbolos do Império. Mas isso só veio no fim da vida. Porque na maior parte do tempo ele era o esquisito, o pornógrafo, o imoral, o negro, o escândalo. Foi traído, foi enganado, foi roubado. Seguiu sua jornada.
Estava escrito. Tinha de ser assim. E assim foi.
Nunca li melhor biografia.
No último capítulo da vida de Burton, ele, doente, deprimido, traduz As Mil e Uma Noites. E escreve 500 páginas de notas sobre a obra. Segundo Burton, a vida é uma jornada, uma PEREGRINAÇÃO. Daí o fato de que todas as obras literárias que valem a pena, são viagens, são trajetos, são peregrinações. ( mesmo que interiores ).
Mais que islâmico, Burton foi um seguidor do sufismo, o mais sutil dos ramos do islã. Não há como saber se Burton realmente acreditava em Allah, ou se ele apenas era um curioso. Mas, e isso é certo e verdadeiro, ele seguia a Tariq, o acobertamento da fé, o disfarce, o não revelar aquilo que se sabe de mais íntimo. No centro da fé islâmica mora o segredo. Não se deve dizer o que se sabe, o que se é e o que se deseja. Burton seguiu isso. Mais, viveu isso.
O Nós e o Tú são um só. Assim se começa a explicação de todo segredo. Por detrás de todo ego há um Nós. E voce, o Tú, é Nós. O eu é a ilusão. Morremos quando morre o eu. Vivemos quando sabemos o Nós. Burton chegou até aí. Havia muito mais.
O pai de Richard Francis Burton viajava. Inglês, era um irrequieto. Roma foi onde mais ficaram. Lá, o jovem Burton conheceu o calor, a sujeira, a balbúrdia, a vida solta e vadia. Se misturava na rua. Depois veio Oxford, Cambridge, mundo que o matava de tédio. Ele jamais amou a Inglaterra. Seu mundo era quente.
Virou militar e diplomata. India. Sexo, muitas mulheres, caçadas, e o hinduísmo. O interesse de Burton pela religião era o do viajante. Ele ansiava por saber, por encontrar, por entender. Se transformava. Fisicamente ele se tornou cada local onde viveu. Virou hindu na India. Cigano entre ciganos. Depois Egito. Afeganistão. Muçulmano.
Seu respeito permaneceu islâmico. Sua família era católica. Peregrinou à Meca, e nessa jornada ele poderia ter morrido. Era heresia um branco ir à Meca. Mas ele não era mais branco. Era um negro para os ingleses. Um renegado. Um maluco. Foi a Medina. Damasco. Amava as mulheres do oriente. Mulheres que amavam o sexo, que faziam sexo, que tinham prazer. Burton traduziu e levou o Kama Sutra ao ocidente. Escrevia 11 livros ao mesmo tempo. Lançou mais de 80 em vida. Um deles sobre seu grande ídolo: Luis Vaz de Camões. Burton achava que Camões era seu eu anterior. Se via nele. Traduziu o poeta luso para o inglês.
Burton falia sempre. E viajava sem parar. Goa. Brasil. Paraguai. Argentina. Perú. Percorreu o Pantanal de cavalo. Navegou pelo rio São Francisco. Procurou ouro em Minas Gerais. Morou em SP e em Santos. Odiou o clima. Fez amizade com Pedro II.
África. Andou selvas a pé. Aprendeu mais línguas nativas. ( Sabia mais de 70 línguas. Do persa ao tupi ). Conheceu florestas onde brancos nunca haviam pisado. Febre, feridas, bichos, infecções, uma lança que perfurou sua face de lado a lado. E ele continuava. A pé. Meses, meses e anos. Era 1870, o auge do mito do viajante inglês, do descobridor de lugares isolados, do civilizador de negros, do caçador branco, do pesquisador afiado. Muitos morreram em florestas, geleiras, desertos. Burton sobreviveu e sempre voltou.
Amou o deserto. Deus vive no deserto. No silêncio. No nada. Nas estrelas do deserto. No frio da noite e o calor do dia. No limite da vida. Entre os beduínos que ele amava. Sempre em marcha. Sempre sem casa. Porque a casa era tudo. Todo lugar.
Casou e não teve filho. A esposa era um romântica católica. Ela queimou documentos secretos dele. Sim, pois Burton era um agente do governo inglês. Um James Bond real. Abria caminho para o imperialismo. Mas disso quase nada se sabe. Ela queimou tudo. O que a rainha não esperava era que o James Bond se tornasse um negro, um nativo, um árabe.
Burton dizia que só o islã salvava India e África da sujeira, da imundície, da crueldade completa e total. Havia limpeza, clareza e ética no islã. Todo um modo de ser que civilizava. E ele advertia que a Europa pouco tentava entender isso. A beleza do islamismo.
Ele morreu feito sir. E famoso. Um dos símbolos do Império. Mas isso só veio no fim da vida. Porque na maior parte do tempo ele era o esquisito, o pornógrafo, o imoral, o negro, o escândalo. Foi traído, foi enganado, foi roubado. Seguiu sua jornada.
Estava escrito. Tinha de ser assim. E assim foi.
Nunca li melhor biografia.