Minha mãe pendurava roupa e longe um radinho de pilhas transmitia o som de um jogo de futebol. Uma lesma saiu do gramado e cruzou o quintal deixando um rastro de gosma sobre o cimento. Meu pai sopra o alpiste dos canários.
Um cobra verde está enrolada num vaso de antúrios e espreita a porta da cozinha. Olho a tela da TV onde um duende transforma um homem em asno. Ele olha seu rosto na lagoa e chora. Toco a tela e a deixo suja de açúcar.
O vento faz todo o capim dançar e as nuvens assistem minha pipa que luta para escapar. Meu primo faz cola no porão sujo de casa. Água com farinha numa lata. Escrevo linhas nas paredes. A fogueira na noite gelada ergue folhas de seda.
Voce vai gostar de mim pra sempre. Pergunto. Pra sempre. Ela responde.
Quando menino a gente olha. Sem tentar ou pensar em entender a gente apenas olha. Essa a pureza. O Eden. As luzes dos postes que voam ao lado do taxi que voa.
Uma cobra está acuada na rua onde vivo. E eu a solto no mato, livre, viva.
Ela vem aqui e nós dois passeamos pela rua. Ela quer ver tudo e vai na frente, eu a sigo. Estamos soltos nas esquinas, nas pedras do calçamento, nas casas que olham. Vozes, e cães, e gente, e árvores.
A vida existe para que a gente crie alma.
A gente cresce para poder voltar.
No sol absoluto do meio dia eu e meu irmão vigiamos o matagal. Não deixamos ninguém perturbar a cobra que dorme. Sim, eu fui um tonto e hoje disfarço. Minha inteligência é inútil como é um sonho.
Se a carne fosse verdade ela não sonhava.
Um cobra verde está enrolada num vaso de antúrios e espreita a porta da cozinha. Olho a tela da TV onde um duende transforma um homem em asno. Ele olha seu rosto na lagoa e chora. Toco a tela e a deixo suja de açúcar.
O vento faz todo o capim dançar e as nuvens assistem minha pipa que luta para escapar. Meu primo faz cola no porão sujo de casa. Água com farinha numa lata. Escrevo linhas nas paredes. A fogueira na noite gelada ergue folhas de seda.
Voce vai gostar de mim pra sempre. Pergunto. Pra sempre. Ela responde.
Quando menino a gente olha. Sem tentar ou pensar em entender a gente apenas olha. Essa a pureza. O Eden. As luzes dos postes que voam ao lado do taxi que voa.
Uma cobra está acuada na rua onde vivo. E eu a solto no mato, livre, viva.
Ela vem aqui e nós dois passeamos pela rua. Ela quer ver tudo e vai na frente, eu a sigo. Estamos soltos nas esquinas, nas pedras do calçamento, nas casas que olham. Vozes, e cães, e gente, e árvores.
A vida existe para que a gente crie alma.
A gente cresce para poder voltar.
No sol absoluto do meio dia eu e meu irmão vigiamos o matagal. Não deixamos ninguém perturbar a cobra que dorme. Sim, eu fui um tonto e hoje disfarço. Minha inteligência é inútil como é um sonho.
Se a carne fosse verdade ela não sonhava.