A TAÇA DE OURO- HENRY JAMES. PSICOLOGIA ESCRITA.

   Incrível como Henry James não descreve ambientes. Pouco sabemos de roupas, paredes, jardins ou condições climáticas. Seus livros, cada vez mais, são descrições de mentes falando com mentes e de mentes conversando consigo mesmas. Como Proust, James investiga o funcionamento da mente, dos sentimentos, da razão, da percepção. Ele esmiúça cada pequeno movimento mental, todo sentimento que nasce e que se vai. Quem ler superficialmente dirá que não há ação. Na verdade a ação nunca cessa, as personagens se movem dentro de sua alma, fluem, voam, param, se amortecem e explodem. Dentro de si.
  Henry James planta surpresas e deixa que nós as encontremos. Enquanto os personagens pensam e sentem, as coisa vão mudando de figura ao redor. Ocupados com esse diálogo incessante, eles acabam por deixar de lado a tal "realidade". Eis um retrato da vida.
  Um italiano que vive na Inglaterra, bem adaptado, sem sotaque, se casa com uma inglesa rica. Ao mesmo tempo sua ex namorada, pobre, se casa com seu pai. Como uma observadora, temos uma mulher mais velha, confidente de todos eles. Os temas de James estão presentes: o estrangeiro, a mulher como ser que move a vida, o homem como joguete do destino. Henry James nunca se casou, ele percebe a mulher como ser forte, aquele que faz as coisas, que decide.
  O livro tem 600 páginas e períodos de várias páginas. Não há como desenvolver uma psicologia tão vasta em frases curtas e truncadas. O estilo aqui é sinfônico. Cada pensamento desenvolvido até o fim. Como tema musical. Como harmonia que vem e se esvai. E retorna depois.
  Proust levaria esse estilo ainda mais longe unindo a sintaxe poética ao estilo.
  Ler Henry James é ler um espírito.