FINALMENTE ALGUÉM VERBALIZA O QUE SINTO DIANTE DA ARQUITETURA DESTRUTIVA DE HOJE

   O problema se chama ADEREÇO. A fachada de uma casa, por mais simples que fosse, tinha marcas de mãos. Algum detalhe, nem que fosse uma lata com uma muda de couve, que bradava ao universo: AQUI VIVE UMA PESSOA! A casa, o prédio, era uma face. Coisa encaixada em coisa como se houvesse lá uma vida em crescimento. Nos prédios antigos há uma raiz e uma ramificação que se espalha no design das janelas e ruma ao topo. A construção procura falar. E fala.
 No bloco de aço e vidro há a monotonia do sempre igual. Cada centímetro é igual ao centímetro do topo. Nada cresce e nada tem rosto. Mas, pior ainda, quando há uma invenção, um arrojo de construção, o modelo é a máquina, a fábrica, e jamais a COISA VIVA. Eis o mal estar que alguns-muitos sentem na moderna cidade. Ela é morta e fala sempre da morte. Não a morte dos cemitérios, muito mais radical, é a morte daquilo que nunca viveu. A absoluta negação da vida e da possibilidade de viver.
 ( R. Scruton ).
 Na fachada de casas velhas abandonadas, nas ruínas, vemos os ecos finais de lugares sagrados que se perdem para sempre.