SAUDADES DO CINEMA

   Tenho escrito pouco aqui. Ando sem tempo. Mudança de casa, rolos, estudos...
   Vi apenas 5 filmes no mês de abril. Faz anos que não vejo tão poucos filmes. E ontem de noite senti saudades do mundo do cinema.
   Saudades de Marcel Carné e suas sombras, a neblina nas ruas feitas em estúdio. Senti falta da cara de Jean Gabin, dos sobretudos mal amarrados, dos Gitanes fumarentos.
   Saudades da voz de Cary Grant. Dos décors de suas salas em histórias feitas para entreter. Os longos automóveis azuis e os drinks com gelo.
   Houve um tempo em que Robert Mitchum e Charles Laughton faziam parte da minha vida. E sinto falta do tempo em que a vida era filmada por Howard Hawks. Vida com tempos mortos que eram cheios de alma.
   Sei que dificilmente voltarei a minha rotina de um filme por noite, às vezes dois. As descobertas foram feitas, os deslumbramentos sentidos.
   Mas sinto falta desse amor. Que como todo amor verdadeiro vira saudade, deixa um vazio e a lembrança de alegria.