MATEMÁTICA DAS ESFERAS ( O BILHETE PARA MIM MESMO )

Noticiado hoje que um físico brasileiro começa a provar que o Universo tem uma arrumação sincrônica. Que há uma lógica nele. O Universo seria mais matemático do que pensamos.
Pitágoras sempre esteve certo. A matemática é Deus e a música sua linguagem. E se seguirmos Pitágoras ainda mais longe não nos esqueçamos que em seu tempo ele teve a então original ideia da transmigração das almas.
Na escola em que trabalho dentre outros tenho um amigo bonachão chamado William. Ele é professor e tem um cargo de direção numa outra escola, escola onde estudei de 1972 até 1978. Depois de um ano de amizade tive de súbito a ideia de lhe pedir os documentos que ainda restassem de minha passagem pela dita escola. Após semanas do pedido feito ele me trouxe um envelope grande.
O que eu queria era uma assinatura de matrícula de minha mãe, uma foto, talvez minhas notas. Lembranças e rastros. Ele me trouxe tudo isso, mas trouxe mais. William jogou diante de mim o objeto mais terrível de minha vida.
Em 1978 eu fui feliz. Muito feliz. A confiança no alto. Amigos. Uma menina japonesa. Mas em outubro a professora de português nos propôs uma redação. Tema livre. Lembro muito bem do dia. Estava úmido e frio. Fim de tarde escura. De repente eu me senti de volta a 1977, o ano em que fugi de casa, em que vivi isolado entre livros ( já de volta ao meu lar ). O ano em que descobri Bronte, Dostoievski, Kafka, Dickens. E escrevi uma redação raivosa. Sobre prisão, morte e escuridão.
Quando a professora devolveu as redações a minha não foi devolvida. Todos começaram a achar que ela tinha jogado a minha fora, afinal eu era um dos piores alunos da sala. Mas não. Ela foi diante da sala e disse que eu escrevera "uma obra de arte", que ela lera meu texto para toda a direção e que eles resolveram me eleger o representante da escola nas "Olimpíadas de Português de 1978".
A melhor aluna da classe não se conformou. Ela tirara 10 em gramática e 8 na redação; eu tinha 5 em gramática e fizera a tal redação. Fiquei envergonhado. Não queria ser elogiado, não queria ir a olimpíada nenhuma, não queria ter escrito aquela droga....
Fui à olimpíada e fui mal. E essa redação mudou minha vida. Se tornou uma lembrança de minha sina de "artista"...Eu detestava sempre e continuei tendo sérias dificuldades com artistas, artes, intelectuais, nerds, e professores.
Pois bem, agora em outubro de 2015, 37 anos depois, no meio dos documentos, lá está ela, a maldita redação. O documento de minha "sombra". Explodo de alegria. Abraço William. Não acredito no que vejo. Ali está: minha letra de 1978, letra de forma, eu escrevia em letra de forma grande e angulosa, o papel onde escrevi, minha tinta de caneta, meu nome, minha sala ( 8-B ), minha assinatura. E o texto...Que não li até agora.
Isso é uma sincronia. Isso é um milagre. O eterno retorno.
Isso é realidade.