O mundo de 2015 ainda está atrás de Marcel Duchamp. E eu também.
  Faz muito tempo que leio e vejo arte. E comecei como todo mundo começa, pelo mais simples. Renoir. Monet. Manet e Degas. Coloridos, bonitos de forma hoje convencional. O mundo alcançou o impressionismo em 1920. Todo o mundo. E esse mundo, todo, alcançou esse impressionismo e ficou estacionado aí.
  Depois eu cheguei em Gauguin. Chagall. E Matisse. O mundo todo nunca chegou aí. Ainda. Mas o mundo do tal "bom gosto" chegou à eles por volta de 1930. Há algo de disforme neles. E isso começa a incomodar.
  Só depois dos 30 anos comecei a me encantar por Kandinski e Klee, por Picasso e Braque. De certo modo me encantei pelo motivo errado. Pela liberdade de sentir. Errado. A coisa é mais profunda. Agora, com Duchamp, eu entendo.
  A pintura sempre foi feita para a retina. E aqui estou falando aquilo que Duchamp diz. A tela fala à retina e apenas à retina. A retina apreende as duas dimensões da pintura e transforma essa imagem em informação que vira sensação ou sentimento. No pior dos casos vira narração. Pois bem, a arte moderna deve falar não à retina, mas sim ao homem inteiro. Olhamos e criamos sobre aquilo que é dado. O que vejo não é o que você vê. Eu vejo com meu todo, e vejo o que apenas eu posso ver.
  A arte moderna, ora vejam, é a busca pela quarta dimensão, a dimensão daquilo que não se vê. Daquilo que nossa razão desconhece. Não aquilo que a retina pega, e sim aquilo que a intuição intui. O mundo de 2015 está longe disso.
  Ainda.