BELLY OF THE SUN- CASSANDRA WILSON, O DISCO ELEGANTE

   Jazz? Pode ser. Sim, talvez seja, jazz. Ela tem voz para isso. O fraseado de Cassandra é limpo, claro como dia de verão. E a instrumentação a acompanha. A percussão parece "brasileira", é cheia de nuances, timbres, rica. A guitarra é sublime, cascateia. Há em todo o disco uma delicadeza que nunca se torna flacidez, se mantém viva, delicadeza de água.
  O repertório se apresenta com The Weight. Sim, ela transforma The Band em um tipo de pop-jazz à Joni Mitchell. Calmo. Tem também Tom Jobim. E esse tipo de som chique, classudo tem tudo a ver com o carioca mais afinado do mundo. Águas de Março, vira Waters of March e é linda. Na real é impossível transformar essa melodia em algo que não seja no mínimo cativante. É uma versão sublime. A música de Tom sempre tem esse dom, ela acalma, embala, abre vistas. 
  O clima muda com o hino blues You Gotta Move. Cassandra canta com sangue. É, talvez, o momento mais forte de todo o disco. Você canta junto sem notar que abriu a voz. Isso faz de uma canção um hino. Shelter From The Storm é Bob Dylan em seu melhor. No original é um rock-folk pensativo e raivoso, imagens se sucedem como raios. Aqui é pensativo. A instrumentação flutua. Noturno. Cooter Brown é uma canção fantástica. E mais nada se pode dizer dela.
  Hot Tamales fecha o disco em alto astral. E a vontade é ouvir tudo de novo.
  Bem...eu tenho uma amiga que é uma das pessoas mais elegantes do mundo. E foi ela quem me deu esse cd de presente. O que posso falar? Que este caipirão que vos escreve sente que Cassandra é a trilha de vida de meninas como essa minha amiga de mãos voadoras e mente orvalhada.
  Um lindo som.