AVONMORE, MAIS DE BRYAN FERRY

   O som de Bryan Ferry começou a ser criado em 1982, no último disco do Roxy Music, o luxuoso Avalon. Esse som, criação única, é um tipo de delicada tapeçaria, pontos musicais que se entrelaçam. Podemos também chamar de flocos de neve em caleidoscópio. É um som frio, cheio de volteios, ângulos que se abrem para serem fechados em seguida, riffs que ameaçam nascer e desaparecem. As batidas são sempre negras, mas elas são partidas, retomadas, perdidas. Em meio a essa massa sonora vagueia a quase sonâmbula voz de Ferry, sussurrante e aliciante. Sempre.
   Desde então ele nunca mais mudou. Disco após disco, ele apenas se contentou em aperfeiçoar essa tapeçaria, às vezes com grande sucesso ( Taxi ), às vezes errando feio ( Olympia ). Mesmo ao gravar seu disco de standards da música pop dos anos 20/30, As Times Goes By, ele conseguiu fazer trompetes e banjos soarem como seu costumeiro tricot. Avonmore não atinge as alturas de Taxi, ou mesmo de Frantic, ( estou falando apenas dessa fase costureira. Os discos solo anteriores a 1982 não contam ). Por outro lado, o novo disco nunca desce a ladeira como o citado Olympia, ponto mais baixo de toda a carreira do romântico maior da Inglaterra. 
   Como é esse som? O clip que postei, apresentação no show de Jay Leno em 1993, duas faixas de Taxi, demonstra esse som em seu modo mais simples. Em disco Bryan chega a usar 3 baixos, 3 baterias e 4 guitarras tocando juntas. É um sinfonia de eletricidade, mas que mesmo com essa montanha de som, soa sempre leve, delicada, fina como gelo. No novo disco ele volta a usar Johnny Marr, Flea, Jonny Greenwood, David Gilmour, Marcus Miller... e claro, o maestro, o grande Nile Rogers. 
   Nile está presente nesse clip de 1993. Egresso da cena disco, lider do delicioso Chic, em seu auge, entre 1982/1990, Nile produziu Bowie, Madonna, Duran Duran, Debbie Harry, Robert Palmer e um imenso etc. A guitarra dele pulsa e ela é a linha que une todos os instrumentos que gemem e arremetem durante as sonhadoras canções de Ferry. Nesse video temos também Robin Trower, guitarrista inglês que por volta de 1975 foi chamado de novo Hendrix. Sua guitarra cheia de ecos e wah wah enfeita e dá feeling ao som. São duas guitarras no palco, no disco são quatro, o efeito se expande. 
   Bryan Ferry abraçou esse estilo e nesses trinta anos jogou fora uma de suas maiores características, a surpresa. Em entrevistas ele diz ter se encontrado após as buscas feitas entre 1972/1982. Esse estilo, em seus auges, é muito sedutor, ele pega nossa alma e a leva para fluir por aí. E tem o espírito de amores perdidos e amores novos. 
   Bryan Ferry não muda. E aqui é um prazer dizer isso. Ferry é Ferry. Again.