Numa aula uspiana a professora ataca aquilo que ela chama de ""cânone criado pela burguesia"". É a teoria criada nos anos 80 pelos americanos liberais. Ou seja, Cervantes, Dante ou Goethe não são clássicos por serem os melhores, antes por serem escritores de nações ricas. Eles são meros europeus, machos e brancos e o que eles escreveram só pode ser relevante para quem é branco, homem e europeu rico. Pode? Eu conheço essa teoria desde minhas leituras de Harold Bloom, que as combatia, em 1993. Destruir o cânone, diz neste livro Frank Kermode, é sempre obra de críticos que não gostam de ler, que têm preguiça e são insensíveis a arte da escrita. E noto que minha professora passa duas horas falando de sociologia, marxismo, psicologia e nada fala sobre um só autor.
Isso começou, segundo Kermode, quando as humanas passaram a perder relevância perante as biológicas e matemáticas. O impulso foi então o de transformar poesia e prosa em ciência e para isso se aproximou o estudo da literatura de ciências humanistas consideradas mais ""científicas"". Ou seja, sociologia, história, psicologia. Uma grande ilusão. Essas disciplinas nada possuem de científicas pelo simples fato de não poderem ser conferidas em medidas ou em eficiência perante a repetição. Perdeu-se o dom de analisar a literatura de dentro, com arte e filosofia, e jamais se conseguiu transformar o estudo de uma obra em ciência. Um fato é que um bando de pessoas que nada têm de cientistas, e menos ainda de literatos, se apropriou da crítica e da sala de aula na esperança de ter uma carreira respeitável, científica. Ovidio, Chaucer ou Racine passaram a ser analisados naquilo que possuem de mensurável, ou seja, no fato de serem homens, brancos e europeus. Aff...
Wallace Stevens, Eliot e Empson merecem belos textos desse eminente professor e crítico americano. Um belo livro que me livrou do ranço de uma aula desastrosa.
E perguntei para a professora: Ok. Que se jogue Shakespeare no lixo. E que se coloque no lugar uma multidão de autores indianos, árabes, africanos, ciganos e judeus. O que muda? Se perde o parâmetro, tudo se torna relativo, cada um na sua, cada um criando seu cânone. Eu gosto disso, mas esse mundo, que já é dominante a uns 30 anos, faz da literatura algo de mais futil e fácil, transforma o ato da leitura em simples diversão ou passatempo.
Isso começou, segundo Kermode, quando as humanas passaram a perder relevância perante as biológicas e matemáticas. O impulso foi então o de transformar poesia e prosa em ciência e para isso se aproximou o estudo da literatura de ciências humanistas consideradas mais ""científicas"". Ou seja, sociologia, história, psicologia. Uma grande ilusão. Essas disciplinas nada possuem de científicas pelo simples fato de não poderem ser conferidas em medidas ou em eficiência perante a repetição. Perdeu-se o dom de analisar a literatura de dentro, com arte e filosofia, e jamais se conseguiu transformar o estudo de uma obra em ciência. Um fato é que um bando de pessoas que nada têm de cientistas, e menos ainda de literatos, se apropriou da crítica e da sala de aula na esperança de ter uma carreira respeitável, científica. Ovidio, Chaucer ou Racine passaram a ser analisados naquilo que possuem de mensurável, ou seja, no fato de serem homens, brancos e europeus. Aff...
Wallace Stevens, Eliot e Empson merecem belos textos desse eminente professor e crítico americano. Um belo livro que me livrou do ranço de uma aula desastrosa.
E perguntei para a professora: Ok. Que se jogue Shakespeare no lixo. E que se coloque no lugar uma multidão de autores indianos, árabes, africanos, ciganos e judeus. O que muda? Se perde o parâmetro, tudo se torna relativo, cada um na sua, cada um criando seu cânone. Eu gosto disso, mas esse mundo, que já é dominante a uns 30 anos, faz da literatura algo de mais futil e fácil, transforma o ato da leitura em simples diversão ou passatempo.