O GUIA DO MOCHILEIRO DAS GALÁXIAS ( PRIMEIRA PARTE DE UMA TRILOGIA DE CINCO )- DOUGLAS ADAMS

   Pronto, viciei. Quero ler todo o resto. 
  Existem dois tipos de escritor. O estilista. O autor que escreve muito bem e cujo interesse está na forma, no modo como escrever. A escrita é a mensagem. Proust, Henry James e Flaubert são bons exemplos. E existe o imaginativo. O autor escreve para exercitar sua imensa criatividade. Ele tem ideias. O conteúdo sobrepõe a forma. Cito Italo Calvino, Evelyn Waugh e Wells como exemplos desse estilo. ( Claro que há quem brilhe nos dois estilo. Raros gênios como Borges, Sterne, Cervantes. Autores que escrevem bem e ao mesmo tempo têm enormes ideias ). 
  Em termos de criatividade, Douglas Adams foi um gênio. A forma é simples, ele escreve no bom estilo direto de Conan Doyle ou de Stevenson. Porém, o que o diferencia é a habilidade em criar uma lógica dentro do absurdo. Desse modo ler este livro causa o mesmo efeito de se ler algo sobre física quântica, ou seja, o absurdo levado ao matemático. O grande charme do livro não é seu humor, apesar de eu rir muito com ele, o charme é a criatividade. E é claro, nós amamos a mente criativa. Ela deixa nosso fardo mais leve.
  Veja a criação maravilhosa de um personagem como Marvin, o robot que sofre de depressão. Ou o modo como o planeta acaba, toda a cena num pub, onde por uma fração de segundo o barman, obtuso, percebe o que vai acontecer. Esse o charme maravilhoso de Adams, o humor brota no absurdo, mas jamais faz com que ele deixe de seguir uma lógica. A escrita deste excêntrico britânico é quase matemática. 
  Douglas Adams foi um esquisito. Viveu como vagabundo, foi hippie, foi operário e trabalhou na BBC. Este livro surge no fim dos anos 70 como série de rádio e vira febre no começo dos anos 80. Cada época tem a febre que merece. No tempo dos punks, pós-punks e new romantics este era o Harry Potter de então. Uma saga da desilusão. Morto aos 49 anos, no começo deste século, Douglas Adams honra a tradição de gente como Kevin Ayers, Wells, Waugh, o Monty Python e Noel Coward. O excêntrico. O humor do absoluto sem-razão. O nonsense. Fazer rir sem objetivo algum. O trocadilho. A mudança de rumo insuspeita. O prazer. 
  Li todo o livro em uma tarde. Ler é o maior dos meus prazeres ( talvez ), e ler alguma coisa tão surpreendente é um êxtase! 
  Como eu adoraria escrever assim!!!!!