Onde eu via um rio agora corre uma avenida. E derrubaram a casa de minha primeira amada para fazer um restaurante. A praça encolheu, os lagos secaram. E até o céu parece hoje mais distante. Muito pior que viver uma primavera sem Lou Reed, Tim Maia ou José Wilker, é andar pelo Caxingui e não achar neste Caxingui o meu bairro. Todas as esquinas viraram pontos anônimos. Lembro meu pai.
Se eu viver tanto quanto ele irei ter mais 32 anos pela frente. E irei desconhecer toda rua. Onde o cinema em que vi o Led Zeppelin? Alguém ainda sabe bater palmas ao fim de um grande filme? Ver um show sem se distrair tirando fotos? Ir a uma festa e não pensar no que vai postar amanhã?
Se o bairro é outro as pessoas parecem outras. Cartinhas tímidas para as meninas...alguém ainda?
Em 1980 o mundo era a escadaria do Objetivo. O mundo era a via Anchieta. O mundo era a praia. Vou aos 3 lugares. A escadaria parece ser apenas uma escada. A Anchieta uma vulgar estrada. Curta. E a praia é uma faixa de areia oprimida por gente, carros e prédios. E a mudança de meu ambiente, dos lugares que eram MEUS, do habitat onde tudo era ninho, isso dói. Tanto ou mais que a morte daqueles que em 1980 eram vivos ( um mundo que ainda tinha Miles Davis, Bergman, Bunuel e Kurosawa ).
1980, no Brasil, era feito para quem tinha 15 anos. Eu. Em 2014 me parece que o mundo é para quem tem 25 e o Brasil para as crianças. Mas isso vai mudar. O mundo está envelhecendo e minha geração será a primeira, aqui, a ver o Brasil com menos crianças que idosos. Uma revolução anciã vai acontecer. ( Na Europa já está em curso ). Filmes, música, roupas, serão mais dirigidas aos cinquentões que aos teens. Sim, é provável que os sessentões tenham roupas e jeito de teens. Mas a coisa vai ter de se adaptar a uma nova realidade. O consumo feito pelos mais velhos.
E serão pessoas como eu sei que vou ser. Contentes por poder ver os Stones aos 93 anos, por ver a vigésima parte de Star Wars. Por ter a mão todos os discos do Led, do Neil Young e do J.J. Cale. Mas que ao mesmo tempo olharão para o mundo e perceberão que tudo lhe é desconhecido e que o mundo que ele amava se foi.
Ou não.
Porque uma árvore será sempre igual aquela que ele primeiro viu. A praça pode ter mudado, mas uma mangueira ainda é uma mangueira. E verá que se a praia é outra, o mar é o mesmo. Perceberemos que o que é da natureza nunca muda, o que se vai é aquilo que o homem fez. O sol é o sol que amanhecia em 1976 e a chuva cai como caía em 1989. Perceberemos que o olho de um cão é o mesmo olho daquele cão querido e perdido em 1998. Porque a natureza se renova. Se o Caxingui, o Morumbi, Pinheiros se foram para sempre ( sempre mesmo ), a grama molhada, a terra com minhocas e o abanar de uma cauda nunca mudam. A natureza se renova, se modifica lentamente, volta, é um ciclo.
Se dói lembrar de meu pai, de Roberto, Mauro, Dani ou Jeanne, consola saber que eles são seres da natureza, que são muito mais aparentados com o mar ou a serra que com uma casa que desaparece ou uma rua que se alarga.
A Paulista é outra e a escadaria nada mais me diz. Mas os rastros dos que aqui passaram ficam. Para sempre.
Se eu viver tanto quanto ele irei ter mais 32 anos pela frente. E irei desconhecer toda rua. Onde o cinema em que vi o Led Zeppelin? Alguém ainda sabe bater palmas ao fim de um grande filme? Ver um show sem se distrair tirando fotos? Ir a uma festa e não pensar no que vai postar amanhã?
Se o bairro é outro as pessoas parecem outras. Cartinhas tímidas para as meninas...alguém ainda?
Em 1980 o mundo era a escadaria do Objetivo. O mundo era a via Anchieta. O mundo era a praia. Vou aos 3 lugares. A escadaria parece ser apenas uma escada. A Anchieta uma vulgar estrada. Curta. E a praia é uma faixa de areia oprimida por gente, carros e prédios. E a mudança de meu ambiente, dos lugares que eram MEUS, do habitat onde tudo era ninho, isso dói. Tanto ou mais que a morte daqueles que em 1980 eram vivos ( um mundo que ainda tinha Miles Davis, Bergman, Bunuel e Kurosawa ).
1980, no Brasil, era feito para quem tinha 15 anos. Eu. Em 2014 me parece que o mundo é para quem tem 25 e o Brasil para as crianças. Mas isso vai mudar. O mundo está envelhecendo e minha geração será a primeira, aqui, a ver o Brasil com menos crianças que idosos. Uma revolução anciã vai acontecer. ( Na Europa já está em curso ). Filmes, música, roupas, serão mais dirigidas aos cinquentões que aos teens. Sim, é provável que os sessentões tenham roupas e jeito de teens. Mas a coisa vai ter de se adaptar a uma nova realidade. O consumo feito pelos mais velhos.
E serão pessoas como eu sei que vou ser. Contentes por poder ver os Stones aos 93 anos, por ver a vigésima parte de Star Wars. Por ter a mão todos os discos do Led, do Neil Young e do J.J. Cale. Mas que ao mesmo tempo olharão para o mundo e perceberão que tudo lhe é desconhecido e que o mundo que ele amava se foi.
Ou não.
Porque uma árvore será sempre igual aquela que ele primeiro viu. A praça pode ter mudado, mas uma mangueira ainda é uma mangueira. E verá que se a praia é outra, o mar é o mesmo. Perceberemos que o que é da natureza nunca muda, o que se vai é aquilo que o homem fez. O sol é o sol que amanhecia em 1976 e a chuva cai como caía em 1989. Perceberemos que o olho de um cão é o mesmo olho daquele cão querido e perdido em 1998. Porque a natureza se renova. Se o Caxingui, o Morumbi, Pinheiros se foram para sempre ( sempre mesmo ), a grama molhada, a terra com minhocas e o abanar de uma cauda nunca mudam. A natureza se renova, se modifica lentamente, volta, é um ciclo.
Se dói lembrar de meu pai, de Roberto, Mauro, Dani ou Jeanne, consola saber que eles são seres da natureza, que são muito mais aparentados com o mar ou a serra que com uma casa que desaparece ou uma rua que se alarga.
A Paulista é outra e a escadaria nada mais me diz. Mas os rastros dos que aqui passaram ficam. Para sempre.