Tenha em mente que bichos não cometem suicídio.
É sempre um prazer encontrar um autor que escreveu, noventa anos atrás, coisas que voce pensa desde muito mas que não conseguia as ordenar. Uma das ideias mais radicais de Unamuno é aquela que diz que a razão tende sempre à morte. Mais que isso, a razão só compreende aquilo que está morto.
Ela gosta e lida com partes de um todo, com objetos estáticos, com momentos congelados dentro do movimento. A razão é incapaz de estudar aquilo que não comporta tamanho, peso e limite temporal. Emoções só lhe são compreensíveis depois de vividas, quando já mortas. Tudo que a razão toca tem de ser morto. Único modo de ser dissecado e ela ama dissecar, desfazer, reduzir, diminuir, para assim fazer com que a coisa fique a dispor de seu entendimento, entendimento esse naturalmente pequeno.
Mais que isso, para a razão pura, viver é um ato irracional. Porque ela é incapaz de aceitar a irrazão primordial da vida, ato que não se justifica racionalmente. A razão pura, sem nada de irracional, ama a morte, estado em que tudo se define, se arruma, em que tudo tem começo e fim. A morte é arrumação. Estado que jamais fugirá a uma definição.
Na vida tudo foge à razão e tudo é assassinado por ela. Racionalize o amor e voce o terá morto e impotente. Racionalize a raiva e voce a terá corrompido. Racionalize a paixão politica, a arte, a própria vida e voce a destruirá. E nada pode ser mais insuportável `a razão que a ideia de vida após a morte.
Porque? Porque mais que o amor ou a ideia de Deus, a vida eterna seria a vitória final daquilo que não se explica sobre a razão, seria a vitória do infinito, do indestrutível, do irredutível, do irracional. Da vida.
Falemos da vida então. Se a razão tende a, e defende a morte, o não-movimento estático, então o que é a vida? Viver seria ter fé. E ter fé significa acreditar irracionalmente. Não necessariamente religião, mas não se vive sem se ter fé irracional em algo.
Não entenda irracional como fantasia. Irracional tem a ver com real que foge a razão. Inexplicável. A vida. Essa fé pode se chamar amor, arte, algum tipo de ïsmo", ideologia. Todas sob a dissecação racional são "sem sentido". Todas fazem parte da vida.
A razão chamará o amor de instinto de perpetuação, dará a arte o nome de consolo, chamará a religião de ópio, dirá que ideologias são modas e assim destruirá toda a substância da vida, vida que não se define, que é viva e portanto foge quando tentamos a capturar em uma fórmula. Só se presta a análise quando morta, estática, passada.
Mais que texto antiracional, os escritos de Unamuno são um alerta contra a maldade que vive ao lado da razão pura.
E não nos esqueçamos, tudo foi escrito antes da solução racional:: o nazismo.
É sempre um prazer encontrar um autor que escreveu, noventa anos atrás, coisas que voce pensa desde muito mas que não conseguia as ordenar. Uma das ideias mais radicais de Unamuno é aquela que diz que a razão tende sempre à morte. Mais que isso, a razão só compreende aquilo que está morto.
Ela gosta e lida com partes de um todo, com objetos estáticos, com momentos congelados dentro do movimento. A razão é incapaz de estudar aquilo que não comporta tamanho, peso e limite temporal. Emoções só lhe são compreensíveis depois de vividas, quando já mortas. Tudo que a razão toca tem de ser morto. Único modo de ser dissecado e ela ama dissecar, desfazer, reduzir, diminuir, para assim fazer com que a coisa fique a dispor de seu entendimento, entendimento esse naturalmente pequeno.
Mais que isso, para a razão pura, viver é um ato irracional. Porque ela é incapaz de aceitar a irrazão primordial da vida, ato que não se justifica racionalmente. A razão pura, sem nada de irracional, ama a morte, estado em que tudo se define, se arruma, em que tudo tem começo e fim. A morte é arrumação. Estado que jamais fugirá a uma definição.
Na vida tudo foge à razão e tudo é assassinado por ela. Racionalize o amor e voce o terá morto e impotente. Racionalize a raiva e voce a terá corrompido. Racionalize a paixão politica, a arte, a própria vida e voce a destruirá. E nada pode ser mais insuportável `a razão que a ideia de vida após a morte.
Porque? Porque mais que o amor ou a ideia de Deus, a vida eterna seria a vitória final daquilo que não se explica sobre a razão, seria a vitória do infinito, do indestrutível, do irredutível, do irracional. Da vida.
Falemos da vida então. Se a razão tende a, e defende a morte, o não-movimento estático, então o que é a vida? Viver seria ter fé. E ter fé significa acreditar irracionalmente. Não necessariamente religião, mas não se vive sem se ter fé irracional em algo.
Não entenda irracional como fantasia. Irracional tem a ver com real que foge a razão. Inexplicável. A vida. Essa fé pode se chamar amor, arte, algum tipo de ïsmo", ideologia. Todas sob a dissecação racional são "sem sentido". Todas fazem parte da vida.
A razão chamará o amor de instinto de perpetuação, dará a arte o nome de consolo, chamará a religião de ópio, dirá que ideologias são modas e assim destruirá toda a substância da vida, vida que não se define, que é viva e portanto foge quando tentamos a capturar em uma fórmula. Só se presta a análise quando morta, estática, passada.
Mais que texto antiracional, os escritos de Unamuno são um alerta contra a maldade que vive ao lado da razão pura.
E não nos esqueçamos, tudo foi escrito antes da solução racional:: o nazismo.