C.S.LEWIS, DO ATEÍSMO ÀS TERRAS DE NÁRNIA, BY ALISTER MCGRATH

    Leio com surpreendente prazer a bio deste escritor, professor e famoso apologista inglês. Hoje, com certeza, mais famoso por sua série de livros infantis sobre Nárnia, Lewis foi durante os anos 40 e 50 uma celebridade na Inglaterra e nos EUA. 
   Nasceu em lar de razoável conforto e logo cedo perdeu a mãe. Mesmo assim viveu uma bela infância, livre, gasta em brincadeiras com o irmão. O pai lhe deu o amor aos livros, mas os dois nunca se deram bem. Lewis enfrenta as trincheiras na Primeira Guerra e é ferido. Estuda em Oxford e depois se torna professor de literatura inglesa na mesma escola. Sua predileção é pela idade média e renascença. Faz amizade com Tolkien, que também leciona em Oxford. Ateu exaltado, racionalista, lentamente se converte ao cristianismo. Como? 
  Na verdade nada acontece de espetacular. Lewis se torna cristão por questões literárias. Ele vê Deus como um tipo de sol. Com a presença de Deus a realidade se ilumina, as coisas ficam mais claras e as obras de arte são melhor entendidas. Lewis diz que a absoluta falta de fé leva a arte ao vazio. Obras sem vida, frias e mal executadas, personagens ralos, textos que falam apenas do autor que os escreve, textos mortos. 
  Na Segunda Guerra ele faz uma série de programas para a BBC. No rádio se torna famoso. Fala sobre Deus às pessoas, aos soldados. Lança livros sobre religião, sua fé e a do cristianismo "puro e simples", independente de igrejas. Sua fé e sua fama fazem dele um solitário em Oxford. Perde a amizade de Tolkien, que se sente roubado quando ele lança a saga sobre Nárnia, que estoura em vendas nos anos 50. Sai de Oxford e é chamado por Cambridge. Morre em 1963, no mesmo dia em que Kennedy é assassinado. Crítico feroz dos tempos modernos, é logo esquecido nos anos 60, visto como um velho inglês conservador e ultrapassado. Renasce nos anos 90. Volta a moda no século XXI.
  Alister McGrath escreve de modo leve, mas nunca tolo. Também professor, em Oxford, tem flagrante carinho por Lewis, mas não deixa de demonstrar as falhas em seu pensamento. Lewis tenta demonstrar que a razão foi um dia irmã da criatividade. As duas se separaram logo depois da renascença e com o correr do tempo se fizeram inimigas. Essa a grande tragédia da modernidade. A razão deve ser aliada da imaginação e saber que criar é saber. A verdade está naquilo que imaginamos. Mitos, lendas, sagas, sinais de verdades, pistas de sabedoria, modos de tornar claro aquilo que vai além da miopia da razão.
  Devemos conhecer aquilo que não conhecemos. Ler o que não lemos, ir onde não fomos, tomar contato com formas alternativas de pensar e de sentir. AUMENTAR NOSSA VISÃO. IR ALÉM DA NOSSA JANELA.
  Cabe a imaginação reorganizar a realidade, colocar o real em novo arranjo e assim torná-lo inteligivel. Só fala em Mundo sem Sentido aquele que não consegue ou não quer ver a realidade iluminada da vida. 
  O mundo faz sentido para Lewis. Deus o fez ver o sentido. Iluminou a vida e lhe deu a liberdade de criar. Lewis fez mapas que nos ajudam a perceber onde estamos e de onde viemos. Se ele estava certo ou errado jamais o preocupou. Porque ele criou e nessa criação achou a vida real.
  O que mais uma filosofia pode nos dar?