OSCAR 2014, A VEZ DA CARETICE

E mais uma vez teremos o Oscar. Não, não vou mais uma vez falar da crescente vulgaridade do evento. Pra que? Hoje vemos decotes e quem está mais bonito. Antes pagávamos tributo aos ícones ainda vivos. E eram muitos! Cheguei a ver Kurosawa, Fellini e John Huston juntos na mesma noite. Como vi James Stewart, Henry Fonda e Liz Taylor. Se George Clooney aparecer hoje já está bom demais.
Pena Hoffman ter morrido. Como o povo jeca só conhece atores com menos de 50 anos, todos os holofotes irão para ele nas homenagens aos que se foram. A maior perda, de longe, foi a de Peter O`Toole. Mas sabe como é, Peter era Hennessy, Hoffman é Heineken.
Não faço previsões. Ou faço. O mundo perdeu o dom de ver filmes. Conversando ontem com meu amigo Léo, descubro surpreso que tem gente malhando o novo filme de Scorsese por ele não ter consciência social. Ah vá! O mundo tá muito chato, voltamos aos anos 40, tempo em que bom filme era aquele que parecia ser util. Veio dessa caretice o fato de Howard Hawks nunca ter ganho um Oscar. Em seu auge ele fazia filmes inuteis. E geniais. Parece que mais uma vez há toda uma geração incapaz de ver um filme em termos de ritmo, fotografia, diálogos, atores, criatividade. Tudo o que importa é se o tal filme é útil, relevante, social. Nesse modo obtuso de pensar, Steve McQueen, um bolha, ganha tudo. Quem tem a coragem de derrotar um filme tão do bem?
Gostaria que Nebraska ganhasse. Não por ser o melhor, não é, mas por ser pequeno, simples, triste, engraçado. É cinema puro. O filme de Martin é maior, melhor, mas a vitória de Nebraska seria a vitória do cinema. Se a caretice for além do doentio, Cate perde o Oscar de atriz por culpa do vilão Woody Allen. Eu acho que ela devia ter ganho quando fez Bob Dylan. Judi Dench é por quem eu torço. Ela é sempre genial.
Gosto de Mathew, mas seria ridiculo ele vencer. Quero o prêmio para Leonardo.
Por fim o melhor. A Grande Beleza é o melhor filme. Estrangeiro ou não. Uma obra-prima.
Inácio diz hoje que o filme de Scorsese ficará na história. Steve McQueen não. Isso é óbvio. Assim como A Grande Beleza será estudado em 2044. Gravidade não. 12 Anos não.
Da década de 40 o que ficou foi Kane, e filmes de Huston, Hawks,Hitchcock, policiais noir, musicais. O Oscar ia para dramas com Bette Davis, filmes sobre a guerra, sobre o racismo, sobre o alcoolismo. Filmes "sérios". É o mesmo clima de 2014. Há toda uma galera que acha que filme bom é aquele que fala sobre a fome na África, o Oriente Médio, a midia, a politica suja. Confundem assunto com arte, noticiário com criatividade, informação com visão de mundo.
Veremos pois...