Neil MacGregor é diretor do British Museum. Este livro, todo ilustrado com fotos perfeitas, é lançamento da editora Intrínseca, que o editou luxuosamente. Nele o autor escolhe 100 objetos do acervo do museu e conta histórias, de como o objeto foi encontrado, o que ele significa e principalmente a história daquele objeto em relação a história do mundo em seu tempo de fabricação. Ou seja, é uma obra, que em linguagem acessível, conta a história do homem, da arte, da ciência e da civilização, tudo ao mesmo tempo, em seu contexto e com surpreendentes revelações. Um primor.
Para voces terem uma ideia de seu alcance, falo dos dois objetos do acervo que o autor crê serem os mais centrais representantes deste 2014. Um cartão de crédito, objeto que mais que a internet engloba todo o planeta, revoluciona os negócios e virtualiza o dinheiro, e uma pequena bateria solar chinesa, portátil. Ela possui uma lâmpada que se exposta por oito horas ao sol pode iluminar uma sala por 100 horas, e tem também uma entrada para celular e PC. Mais que tudo, este objeto democratiza o acesso a energia e abre as portas de um mundo de energia limpa e renovável. Mais além, traz a possibilidade de energia para tribos, ilhas, desertos, florestas.
A história do homem é a história do homem caminhando pelo globo. Saindo da África ( Sudão, Kenya, Congo ) e se dirigindo a Egito, India, Irã e Iraque. Daí para a China, Mongólia, Sul da Ásia, Europa. Mais além, Rússia, Espanha, sul africano, Japão, Inglaterra, Suécia. Depois vem América, Oceania, e agora vivemos o limiar da última fronteira, os Polos sul e norte. Habitar o gelo.
Feito de surpresas, observamos que a história do mundo passa muito mais pela Ásia e pelo Oriente que pela Europa. Nos deslumbramos por India, China e Irã. Vemos a civilização chegar a Peru e México, e nos embasbacamos com a cultura africana negra, descobrindo então que o Sudão era muito mais que selvagens de filmes de Tarzan. Milagres sobre milagres, saltos sem fim, a saga começa a dois milhões de anos, com o primeiro sinal de objeto feito por um humano ( um machado ). Me comove olhar aquele objeto e pensar no homem que o fez. Aturdido, com medo? Ou cheio de orgulho? São tantos os objetos que impressionam, tantas as associações possíveis. As pinturas feitas nas cavernas, provas que nos levam a criação do inconsciente, a consciência do dentro e do fora criada nas longas noites de uma época de gelo sem fim. O que era aquela pintura? A lembrança? Uma dor?
Cachimbos para drogas silvestres, rostos de deuses, múmias. Tempo inimaginável, quem eles eram? O autor diz que eram homens como nós, os mesmos desejos, medos, modos de sentir, falhas e poderes. Mas ao mesmo tempo os objetos mostram que eles eram outros homens, jeitos de ver e de entender perdidos para sempre.
A China e sua precisão. Uma verdade perturbadora, os protagonistas são centrais desde sempre. Mesmo países pobres como India e Irã são centrais a mais de 10.000 anos. O livro abre mentes, Roma e Grécia estão aqui, mas está mais a Pérsia, o Egito, os Vikings e os Hindús. India, a única sociedade que tentou se fazer sem guerra e sem religião oficial. Uma fascinante história que se desenrola por milênios.
Vemos então que a Europa é pouco. Um navio de ouro, fascinante, mostra que enquanto portugueses e espanhóis se abarrotavam de ouro americano, os alemães desenvolviam a ciência e abasteciam a Europa de livros. Mudamos? Herdeiros dessa civilização, nós mudamos?
A Inglaterra se torna centro apenas em 1800. Através da guerra, guerra contra espanhóis, holandeses, chineses, africanos, alemães. Guerra pelos mares, pelos rios, pela terra e pelo mercado. Uma história interessante: o chá se populariza na Inglaterra em 1800. Toma o lugar da cerveja e do gim como bebida nacional. Porque? Porque não ficava bem para o país mais rico do globo ser uma terra de beberrões em pubs cantando aos berros e abraçados em irmandade bêbada. Nasce artificialmente o mito do inglês frio, comedido, fechado, bebedor de chá, e é decretada a morte de uma nação que até então fora conhecida por ser bárbara, calorosa, exagerada e briguenta. Ou seja, a extinção de uma raça por vias ideológicas pode ser tão cruel quanto a morte de uma tribo.
Não quero ficar discorrendo indefinidamente. Leiam o livro que é bem fácil de achar. Meu objeto favorito é um conjunto de homens e bichos chineses de porcelana. Cores como aquelas jamais vi em lugar algum. Nem os italianos de 1400 conseguiam aqueles tons. Dá vontade de olhar para sempre.
Se Neil MacGregor fosse um poeta ele diria que a história do globo é a história da busca por beleza perfeita. Pela absoluta perfeição.
É o que gosto de pensar.
Para voces terem uma ideia de seu alcance, falo dos dois objetos do acervo que o autor crê serem os mais centrais representantes deste 2014. Um cartão de crédito, objeto que mais que a internet engloba todo o planeta, revoluciona os negócios e virtualiza o dinheiro, e uma pequena bateria solar chinesa, portátil. Ela possui uma lâmpada que se exposta por oito horas ao sol pode iluminar uma sala por 100 horas, e tem também uma entrada para celular e PC. Mais que tudo, este objeto democratiza o acesso a energia e abre as portas de um mundo de energia limpa e renovável. Mais além, traz a possibilidade de energia para tribos, ilhas, desertos, florestas.
A história do homem é a história do homem caminhando pelo globo. Saindo da África ( Sudão, Kenya, Congo ) e se dirigindo a Egito, India, Irã e Iraque. Daí para a China, Mongólia, Sul da Ásia, Europa. Mais além, Rússia, Espanha, sul africano, Japão, Inglaterra, Suécia. Depois vem América, Oceania, e agora vivemos o limiar da última fronteira, os Polos sul e norte. Habitar o gelo.
Feito de surpresas, observamos que a história do mundo passa muito mais pela Ásia e pelo Oriente que pela Europa. Nos deslumbramos por India, China e Irã. Vemos a civilização chegar a Peru e México, e nos embasbacamos com a cultura africana negra, descobrindo então que o Sudão era muito mais que selvagens de filmes de Tarzan. Milagres sobre milagres, saltos sem fim, a saga começa a dois milhões de anos, com o primeiro sinal de objeto feito por um humano ( um machado ). Me comove olhar aquele objeto e pensar no homem que o fez. Aturdido, com medo? Ou cheio de orgulho? São tantos os objetos que impressionam, tantas as associações possíveis. As pinturas feitas nas cavernas, provas que nos levam a criação do inconsciente, a consciência do dentro e do fora criada nas longas noites de uma época de gelo sem fim. O que era aquela pintura? A lembrança? Uma dor?
Cachimbos para drogas silvestres, rostos de deuses, múmias. Tempo inimaginável, quem eles eram? O autor diz que eram homens como nós, os mesmos desejos, medos, modos de sentir, falhas e poderes. Mas ao mesmo tempo os objetos mostram que eles eram outros homens, jeitos de ver e de entender perdidos para sempre.
A China e sua precisão. Uma verdade perturbadora, os protagonistas são centrais desde sempre. Mesmo países pobres como India e Irã são centrais a mais de 10.000 anos. O livro abre mentes, Roma e Grécia estão aqui, mas está mais a Pérsia, o Egito, os Vikings e os Hindús. India, a única sociedade que tentou se fazer sem guerra e sem religião oficial. Uma fascinante história que se desenrola por milênios.
Vemos então que a Europa é pouco. Um navio de ouro, fascinante, mostra que enquanto portugueses e espanhóis se abarrotavam de ouro americano, os alemães desenvolviam a ciência e abasteciam a Europa de livros. Mudamos? Herdeiros dessa civilização, nós mudamos?
A Inglaterra se torna centro apenas em 1800. Através da guerra, guerra contra espanhóis, holandeses, chineses, africanos, alemães. Guerra pelos mares, pelos rios, pela terra e pelo mercado. Uma história interessante: o chá se populariza na Inglaterra em 1800. Toma o lugar da cerveja e do gim como bebida nacional. Porque? Porque não ficava bem para o país mais rico do globo ser uma terra de beberrões em pubs cantando aos berros e abraçados em irmandade bêbada. Nasce artificialmente o mito do inglês frio, comedido, fechado, bebedor de chá, e é decretada a morte de uma nação que até então fora conhecida por ser bárbara, calorosa, exagerada e briguenta. Ou seja, a extinção de uma raça por vias ideológicas pode ser tão cruel quanto a morte de uma tribo.
Não quero ficar discorrendo indefinidamente. Leiam o livro que é bem fácil de achar. Meu objeto favorito é um conjunto de homens e bichos chineses de porcelana. Cores como aquelas jamais vi em lugar algum. Nem os italianos de 1400 conseguiam aqueles tons. Dá vontade de olhar para sempre.
Se Neil MacGregor fosse um poeta ele diria que a história do globo é a história da busca por beleza perfeita. Pela absoluta perfeição.
É o que gosto de pensar.