O VALOR DA VIDA, UM SABIÁ

   Ontem  na Mangueira que dá manga, cinco jovens Sabiás voaram seu primeiro voo.Saltaram do meio das folhas e tomaram coragem sobre um fio de luz. Pousaram no chão e depois voaram. Todos os cinco. Entenderam que eram Sabiás e Sabiás voam. Tudo como deve ser.
   E homens olham pássaros e se encantam com eles.
   Meu pai ao fim da vida se enamorava desse Sabiá que o acompanhava na noite sem sono. Ele era seu sonho. Me toca perceber como na Natureza tudo é certo e tudo é sempre. Esses novos Sabiás são corretos e agora, neste meu sonho acordado são cantos que me dizem ser a vida certa. Quatro horas, escuro, e eles cantam.
   Lembro ainda que nos anos 70 Sabiá só em gaiola. Ao fim da tarde milhares de pardais e de andorinhas se aninhavam e piavam em coro. Mas nada de Sabiás. E recordo com clareza do primeiro Bem Te Vi, foi em 88, ele veio e pousou no meu quintal, bravo, livre, decidido. E cantou seu Bem Te Vi. Desde então voltaram todos. E neste século ocorreu o milagre das Maritacas. A alegria de sua folia aos fins de tarde.
   Voltaram por falta de espaço nos campos? Ou por melhoria na cidade? Bem, não são mais caçados, isso eu sei. Menino com estilingue sumiu. E arapuca não vejo. Se topar com uma eu piso e sumo com os pedaços.
   Agora amanhece e mais alguns se juntam ao canto. Trazem este dia pra mim. Anunciam.
   O que vale a vida sem tudo isto?