A liberdade reside toda no corpo. E sem a liberdade não existe corpo que fala. Aborigenes dançam. Como os ciganos, os gregos clássicos ou os zulus. Tragédia fonte de toda neurose, o ocidente não dança. Ou dança mal. O corpo rebela-se. Fala. Dançar.
Quando o corpo fala livremente ele pode se expressar como homem, bicho ou mulher. Ou como tudo junto e mais. Minha geração dançou pouco e dançou mal. Vejo as crianças de hoje. Elas dançam muito e os meninos não se envergonham de rebolar. Um ponto muito positivo para eles. Ponto negativo: Os Dzi perto dos nossos pobres stand-up são como Picasso ao lado de algum pintor de senhoras dos Jardins.
Em 1972 o homem usava terno da Ducal ou da Garbo. Um tipo de armadura machista. Os Dzi quebraram tudo. Abriram portas para Secos e Molhados e Asdrúbal. O escracho. O alívio. A liberdade.
A história deles é tão incrível que parece mentira. Mas foi real. As lembranças que tenho deles são vagas. Eu entendia os Dzi como um grupo de travestis que fazia sucesso na Europa. E sentia medo deles. Eles eram errados. Não se pareciam com Geisel.
Nos anos 80 cheguei a ter a honra de dançar no porão do Satã com Paulette. Entenda, dançar com a galera toda, ao som dos Bauhaus. Nos anos 80 a festa acabara. Mas em 1972...ela parecia começar.
Lennie Dale foi um gênio. E parece que ele tinha medo da Broadway. Quando o grupo poderia ter ido para lá ele se sabotou. E afundou num mar de pó. Vê-lo dançar...Lennie mudou o Brasil.
Jogue no lixo seu preconceito. Eu sou hétero e adoro os Dzi. Acho que sou hétero. O documentário é maravilhoso. E se voce o ver juro que não vai virar gay por isso. O tema não é apenas sexualidade, o tema é soltar tudo e ver quem voce é de verdade. O tema é a liberdade. Ser vivo na vida. Deixar acontecer.
Assista.