Ando com um amigo e ele mata a charada: Gostei tanto do ANNA KARENINA de Joe Wright porque é um filme BONITO. E no deserto cinematográfico, onde toda imagem tem a pobreza da tela de TV, o filme surge como um original exercício de estilo.
Mas posso dizer mais my friend, e digo por experiência de vida: Nada irrita mais o feio que a beleza. Àquele que não consegue apreciar a beleza ela, a beleza, lhe parece ofensa pessoal. O espírito limitado daquele que percebe apenas o que é "util" vê o belo como futil. É a sina dos poetas desde 1750, cultuar o que é inutil, como bem provocou Oscar Wilde na introdução a Dorian Gray. O homem que viveu em meio ao feio, ao funcional, ao "relevante" será incapaz de apreciar o que seja inefável, sutil, belo. Pior que isso, pressentindo sua limitação inumana, ele voltará seu arcabouço racional-redutor-rancoroso contra a beleza que lhe foi negada desde sempre. O FEIO ODEIA O BELO.
Nós sabemos meu amigo o que seja essa sensação. A THING OF BEAUTY IS A JOY FOR EVER. A beleza cura. Os milagres católicos são milagrosos por serem belos. É no ocidente a única religião que compreendeu isso, a sedução curadora da beleza. E então ela, a igreja de Roma, não teve o pudor de se fazer rica em ouro e em imagens sensuais. O paraíso se confunde em Roma com a estética do belo. Deus como um artista.
Isso é negado pelas religiões protestantes. Que têm sua beleza em atos e palavras, mas nunca em visual. Elas pregam desde sempre o util e nunca o enfeite. Daí o espirito claro, limpo e direto que guia países como Suécia, Dinamarca ou Holanda. Para eles nós somos muito complicados, sujos, futeis, ricos em imagens, complexos demais, sensuais, barrocos. Basta comparar o cinema nórdico ao cinema da Itália ou da Espanha. Saiba amigo, as revoluções religiosas de 1500/1600 marcaram o caráter dos povos até hoje. E mesmo um páis que se pretende ateu exibe para quem sabe ler, a língua da igreja que o fundou.
Nenhum país exibe isso com mais força que a Alemanha, nação que vivia a divisão entre a Prússia e seus satélites, luteranos, e a Baviera católica. Munique vivia, com Vienna, também romana, um reino barroco de dolce vita. Quando houve o advento de Bismarck, a Alemanha optou pelo prussianismo, venceu o luteranismo. Vienna entrou na decadência saudosista e Munique é esse corpo estranho no país, um estado quase latino em meio ao espírito higiênico alemão.
Mas voltemos a falar da beleza. Assisti esses dias a um filme, cheio de defeitos, que mostra aquilo que falo. Feito em Cinerama, ou seja, a imagem é gigantesca, ele conta a saga da fundação dos EUA como são hoje. E vendo-o recordo aquilo que o cinema pode ser. Grande e Belo. Cada imagem chega a ter cinco planos. Vemos duas pessoas falando. Ao fundo carroças passam. No lado esquerdo uma mulher alimenta o gado. A direita crianças brincam. Mais ao fundo vemos uma fogueira onde homens cantam. Ainda mais ao fundo, passam alguns casais conversando. E ao longe, focado, montanhas onde sombras flutuam entre o verde e o céu sem fim. O filme inteiro tem essa riqueza pictórica. Cinema pensado e feito como cinema e nunca como dvd ou TV. Nada da austeridade dos filmes nórdicos ( austeridade que nasceu com Dreyer e Bergman, que mesmo nessa austeridade-fria não deixavam de ser belos ). Aqui tudo é rico, complexo, nossa vista se perde, pensamos: "para onde olho?"
Eis uma aula de estética, de beleza, aula que deixará com dor de cabeça àqueles que temem o que é bonito. Penso no cinema ainda mais pobre que será feito pela geração que está se habituando a ver a vida pela câmera do celular.
Por isso Michael Powell. Por isso RAN. Por isso Mizoguchi. Por isso Ophuls. E John Ford claro. E por isso ANNA KARENINA e também por isso penso que gostarei do Gatsby de Luhrman. Cinema grande, cinema vasto, cinema pra apreciar e que oferece o que se olhar. Cinema inspiração. Quando essa beleza se une a bons diálogos temos a obra-prima. Mas na ausência de bons roteiros, ora, me sirvam imagens lindas e me deixem flutuar. Façam cinema.
Eu e meu amigo falamos depois sobre a oposição entre iluminismos e romantismos. Não, não vou entrar aqui de novo nessa coisa. É um embate no qual a Europa se complica até hoje. Não saber se a alma deve singrar na certeza do justo e do bem-feito, ou se deve se jogar ao original e sem freios. O que posso dizer é que a beleza pode nascer nos dois caminhos, uma beleza que tranquiliza e outra que excita.
A cura da vida passa pela estética. O resto eu deixo aos cegos e ressentidos.
Mas posso dizer mais my friend, e digo por experiência de vida: Nada irrita mais o feio que a beleza. Àquele que não consegue apreciar a beleza ela, a beleza, lhe parece ofensa pessoal. O espírito limitado daquele que percebe apenas o que é "util" vê o belo como futil. É a sina dos poetas desde 1750, cultuar o que é inutil, como bem provocou Oscar Wilde na introdução a Dorian Gray. O homem que viveu em meio ao feio, ao funcional, ao "relevante" será incapaz de apreciar o que seja inefável, sutil, belo. Pior que isso, pressentindo sua limitação inumana, ele voltará seu arcabouço racional-redutor-rancoroso contra a beleza que lhe foi negada desde sempre. O FEIO ODEIA O BELO.
Nós sabemos meu amigo o que seja essa sensação. A THING OF BEAUTY IS A JOY FOR EVER. A beleza cura. Os milagres católicos são milagrosos por serem belos. É no ocidente a única religião que compreendeu isso, a sedução curadora da beleza. E então ela, a igreja de Roma, não teve o pudor de se fazer rica em ouro e em imagens sensuais. O paraíso se confunde em Roma com a estética do belo. Deus como um artista.
Isso é negado pelas religiões protestantes. Que têm sua beleza em atos e palavras, mas nunca em visual. Elas pregam desde sempre o util e nunca o enfeite. Daí o espirito claro, limpo e direto que guia países como Suécia, Dinamarca ou Holanda. Para eles nós somos muito complicados, sujos, futeis, ricos em imagens, complexos demais, sensuais, barrocos. Basta comparar o cinema nórdico ao cinema da Itália ou da Espanha. Saiba amigo, as revoluções religiosas de 1500/1600 marcaram o caráter dos povos até hoje. E mesmo um páis que se pretende ateu exibe para quem sabe ler, a língua da igreja que o fundou.
Nenhum país exibe isso com mais força que a Alemanha, nação que vivia a divisão entre a Prússia e seus satélites, luteranos, e a Baviera católica. Munique vivia, com Vienna, também romana, um reino barroco de dolce vita. Quando houve o advento de Bismarck, a Alemanha optou pelo prussianismo, venceu o luteranismo. Vienna entrou na decadência saudosista e Munique é esse corpo estranho no país, um estado quase latino em meio ao espírito higiênico alemão.
Mas voltemos a falar da beleza. Assisti esses dias a um filme, cheio de defeitos, que mostra aquilo que falo. Feito em Cinerama, ou seja, a imagem é gigantesca, ele conta a saga da fundação dos EUA como são hoje. E vendo-o recordo aquilo que o cinema pode ser. Grande e Belo. Cada imagem chega a ter cinco planos. Vemos duas pessoas falando. Ao fundo carroças passam. No lado esquerdo uma mulher alimenta o gado. A direita crianças brincam. Mais ao fundo vemos uma fogueira onde homens cantam. Ainda mais ao fundo, passam alguns casais conversando. E ao longe, focado, montanhas onde sombras flutuam entre o verde e o céu sem fim. O filme inteiro tem essa riqueza pictórica. Cinema pensado e feito como cinema e nunca como dvd ou TV. Nada da austeridade dos filmes nórdicos ( austeridade que nasceu com Dreyer e Bergman, que mesmo nessa austeridade-fria não deixavam de ser belos ). Aqui tudo é rico, complexo, nossa vista se perde, pensamos: "para onde olho?"
Eis uma aula de estética, de beleza, aula que deixará com dor de cabeça àqueles que temem o que é bonito. Penso no cinema ainda mais pobre que será feito pela geração que está se habituando a ver a vida pela câmera do celular.
Por isso Michael Powell. Por isso RAN. Por isso Mizoguchi. Por isso Ophuls. E John Ford claro. E por isso ANNA KARENINA e também por isso penso que gostarei do Gatsby de Luhrman. Cinema grande, cinema vasto, cinema pra apreciar e que oferece o que se olhar. Cinema inspiração. Quando essa beleza se une a bons diálogos temos a obra-prima. Mas na ausência de bons roteiros, ora, me sirvam imagens lindas e me deixem flutuar. Façam cinema.
Eu e meu amigo falamos depois sobre a oposição entre iluminismos e romantismos. Não, não vou entrar aqui de novo nessa coisa. É um embate no qual a Europa se complica até hoje. Não saber se a alma deve singrar na certeza do justo e do bem-feito, ou se deve se jogar ao original e sem freios. O que posso dizer é que a beleza pode nascer nos dois caminhos, uma beleza que tranquiliza e outra que excita.
A cura da vida passa pela estética. O resto eu deixo aos cegos e ressentidos.