Todo filme que precisa de "bula" ou de manual de instruções é falho como cinema-puro. A linguagem do cinema não é verbal, ela é cinemática ( é terrivel ter de dizer algo que deveria ser tão óbvio ), mas nossa cultura é 100% verbal e então temos de transformar música, pintura, dança e cinema em discurso verbal. Deixa de ser bobo manézão! Filme muito falado, filme que só vale como narrativa verbal NÃO vale como cinema. Pode ser um bom conto, uma aula de filosofia, mas nunca um grande filme.
Solaris dialoga com 2001 de Kubrick. Lançado 4 anos mais tarde é a versão russa da saga espacial-filosófica de Kubrick. O filme anglo-americano é mais cinemático, ele não precisa de palavras, é puro deleite visual. Solaris é literatura. Fico imaginando os orgasmos que Aronofski e Von Trier devem sentir com sua loooooonga chatice. Tarkovski faz tudo aquilo que eles ( e mais um monte de modernetes ) tentam fazer. Com uma diferença crucial: Andrei tem muito a dizer. E pensa com originalidade. Soderbergh refilmou esta saga em 2002 com George Clooney. Foi seu maior fracasso. Os fãs de Aronofski e que tais não suportam aquilo que seus guias adoram. Vamos ao filme...
Um psicólogo é enviado ao planeta Solaris. Na estação orbital russa, um dos tripulantes morreu e dois outros ficaram doidos. Porque? Lá, o psicólogo descobre que o mar gelatinoso que é aquilo que compõe o planeta tem o poder de ler a memória das pessoas. Com esse conhecimento ele dá vida a essa memória. O psicólogo recebe então a visita de sua ex-esposa, morta a dez anos. Ela surge como ser de carne e osso, real para todos os outros, mas desmemoriada. Ela é sua esposa, mas ao mesmo tempo não é. O psicólogo se apaixona de novo...
Realidade virtual. Muito mais sofisticado que Matrix e outros desse tipo, Tarkovski fala que a consciência é uma verdade ilusória. O que amamos? Amamos aquilo que amamos, mas o que é esse amor? Roger Ebert dizia que o filme demonstra que o amor é "amar a ideia que fazemos do amor", amamos aquilo que imaginamos sobre a pessoa amada, amamos aquilo que desejamos crer. O psicólogo do filme ama a réplica de sua esposa, réplica que não é a esposa mas que parece ser essa esposa. Esposa virtual, criada com as imagens da memória do marido, mas, ironicamente, desmemoriada, sem história, sem origem familiar. E essa réplica sofre por não ter história.
O filme, lento ( Tarkovski é o diretor mais lento de toda a história ), solene, silencioso ( e com algumas poucas cenas com belíssima música eletrònica ), tem um apuro visual que beira o sublime. Por exemplo a primeira cena, das algas e da água, a poética e inesquecível cena dos amantes sem gravidade, flutuando, e a cena final, forte, surpreendente e misteriosa. Não descreverei essa cena, mas direi que ela muda toda a compreensão da obra.
É um filme chato. Algumas cenas são exasperantes. Por outro lado é um filme que dá tempo a que pensemos sobre aquilo que vemos. Apreciamos uma cena, sempre longa, e depois podemos raciocinar sobre ela. Esse é o objetivo de Tarkovski. Um filme que é como uma instalação, cenas que formam um todo. Sublime? A teoria do sublime diz que a beleza-sublime nasce em meio ao medo, ao esforço, a vitória sobre uma força maior. Este filme nos dá beleza em meio a uma chatice quase insuportável. De seu modo é sublime. Seu mistério fica em nossa memória. É absolutamente original.
Solaris dialoga com 2001 de Kubrick. Lançado 4 anos mais tarde é a versão russa da saga espacial-filosófica de Kubrick. O filme anglo-americano é mais cinemático, ele não precisa de palavras, é puro deleite visual. Solaris é literatura. Fico imaginando os orgasmos que Aronofski e Von Trier devem sentir com sua loooooonga chatice. Tarkovski faz tudo aquilo que eles ( e mais um monte de modernetes ) tentam fazer. Com uma diferença crucial: Andrei tem muito a dizer. E pensa com originalidade. Soderbergh refilmou esta saga em 2002 com George Clooney. Foi seu maior fracasso. Os fãs de Aronofski e que tais não suportam aquilo que seus guias adoram. Vamos ao filme...
Um psicólogo é enviado ao planeta Solaris. Na estação orbital russa, um dos tripulantes morreu e dois outros ficaram doidos. Porque? Lá, o psicólogo descobre que o mar gelatinoso que é aquilo que compõe o planeta tem o poder de ler a memória das pessoas. Com esse conhecimento ele dá vida a essa memória. O psicólogo recebe então a visita de sua ex-esposa, morta a dez anos. Ela surge como ser de carne e osso, real para todos os outros, mas desmemoriada. Ela é sua esposa, mas ao mesmo tempo não é. O psicólogo se apaixona de novo...
Realidade virtual. Muito mais sofisticado que Matrix e outros desse tipo, Tarkovski fala que a consciência é uma verdade ilusória. O que amamos? Amamos aquilo que amamos, mas o que é esse amor? Roger Ebert dizia que o filme demonstra que o amor é "amar a ideia que fazemos do amor", amamos aquilo que imaginamos sobre a pessoa amada, amamos aquilo que desejamos crer. O psicólogo do filme ama a réplica de sua esposa, réplica que não é a esposa mas que parece ser essa esposa. Esposa virtual, criada com as imagens da memória do marido, mas, ironicamente, desmemoriada, sem história, sem origem familiar. E essa réplica sofre por não ter história.
O filme, lento ( Tarkovski é o diretor mais lento de toda a história ), solene, silencioso ( e com algumas poucas cenas com belíssima música eletrònica ), tem um apuro visual que beira o sublime. Por exemplo a primeira cena, das algas e da água, a poética e inesquecível cena dos amantes sem gravidade, flutuando, e a cena final, forte, surpreendente e misteriosa. Não descreverei essa cena, mas direi que ela muda toda a compreensão da obra.
É um filme chato. Algumas cenas são exasperantes. Por outro lado é um filme que dá tempo a que pensemos sobre aquilo que vemos. Apreciamos uma cena, sempre longa, e depois podemos raciocinar sobre ela. Esse é o objetivo de Tarkovski. Um filme que é como uma instalação, cenas que formam um todo. Sublime? A teoria do sublime diz que a beleza-sublime nasce em meio ao medo, ao esforço, a vitória sobre uma força maior. Este filme nos dá beleza em meio a uma chatice quase insuportável. De seu modo é sublime. Seu mistério fica em nossa memória. É absolutamente original.