CIÊNCIA NOVA- GIAMBATTISTA VICO

   Vico não foi famoso em seu tempo ( 1660-1744 ), mas sua influência acabou por se fazer sentir em Colingwood e Croce, ou seja, até o século XX. Marx gostava dele, assim como Herder, Nietzsche e Heidegger. Qual a marca que esse filósofo italiano deixou?
    Acima de tudo ele era anti-cartesiano. Vico logo percebeu que o modo matemático de Descartes não podia explicar a vida. Isso porque à razão explica apenas aquilo que por ela é feita ou criada. Eis uma grande proposição de Vico: O homem conhece aquilo que constrói. Aquilo que faz. Só podemos entender completamente as coisas que criamos ou que podemos fabricar. A matemática é a criação mais humana por direito e fato. Ela inexiste em animais ou no universo. Ela existe apenas no mundo do homem. Criada, desenvolvida e mantida pelo homem. Se amanhã todos os humanos deixarem de existir a matemática cessará de existir. Portanto, ela é completamente transparente ao homem. Por outro lado, a vida não pode ser completamente conhecida pelo homem. Pois ele não a criou, e não consegue fabricá-la. O mesmo se dá com o pensamento, com a natureza, com o cosmos. Como compreender profundamente algo que não fizemos e que não conseguimos reproduzir?
    Para Vico a grande ciência humana é a História. E história compreende também o estudo da línguagem dos homens, a arte e a religião. O homem construiu a história do homem no mundo e ela pode ser compreendida e totalmente desvendada. É uma obra nossa, de total responsabilidade humana. Vico a estuda então e desenvolve a teoria dos três estágios de uma civilização: a mágica, a heróica e a humana. Na época da magia tudo é obra de deuses e do sobrenatural, na época heróica tudo gira ao redor de heróis e de seres especiais e afinal na era humana se institui o governo dos homens, que pode ser republicano ou monarquista. Espertamente Vico chega a esse ponto pelo estudo das palavras. Ele pega uma palavra latina e pesquisa sua origem. Percebe então, por exemplo, que divino vem de divinare e que divinare era adivinhar, portanto divinizar é adivinhar, ser adivinho. É um belo jogo de palavras, mas nem sempre garantidamente correto. Pois Vico esquece que mesmo o antigo grego ou o antigo latim sofriam influências de outra línguas mais antigas e que uma palavra que pareça ser origem de algo pode ter vindo de uma cultura onde aquele vocábulo possuia outra raiz. De qualquer modo o que hoje nos impressiona é a habilidade e a inteligência da mente de Vico em busca da história.
   É irrefutável o fato de que o conhecimento só pode ser completo quando dominamos o fazer. E que a História é uma ciência 100% humana, ao contrário da biologia ou da química, que estudam coisas que existem independentes da vontade e do saber humano. Têm portanto limites ao nosso conhecimento.
   Ciência Nova foi lançado em 1725 e preparou o século XVIII para a explosão de história que nele haveria. O final desse século assistiria a insurgência do homem e de sua história. Vico, filósofo que hoje é muito reconhecido, sabia.