BYRONISMO HOJE ( rock e romantismo )

   O byronismo não é um estilo, é uma atmosfera, uma mentalidade, uma atitude em face da vida e da morte. Fala-se em Mal du siécle ou Weltschmerz. Ninguém ou quase ninguém pensava em imitar o estilo poético de Byron, todos só pensavam em imitar-lhe o gesto, a fronte pálida reclinada à mão, o olhar para longe onde há mulheres a amar e a corromper, povos a libertar. Foi esse tipo que conquistou o mundo.
   Transcrevi esse parágrafo de Otto Maria Carpeaux em O Romantismo. Se voce tem por volta de 30 anos ou menos, não faz muita ideia do que seja a tal ATITUDE BYRONISTA perante a vida. Eu, infelizmente, não conheci outra coisa. Arte é para mim sempre byronismo, e o mundo, pena,  é hoje materialista e comercialista. Enfim....
   Como acontece com Oscar Wilde, se conhece muito o homem Byron, pouco se lê seus livros. Mas não foi sempre assim. Quando Byron surge, começos do século XIX, sua poesia torna-se sensação. O romantismo se confunde com seu nome. Porém, em 20 anos seu nome se faz maior que sua obra, ele passa a ser um tipo de Homem-Arte, celebridade. Odeia-se Byron, muito, ama-se Byron, muito mais. Por 150 anos ser artista é ser byronista.
   Lord Byron, nobre decaído. Ser artista é ter esse ar de nobre que perdeu tudo, de alguém que nasceu na hora errada, no lugar errado. Muito tarde, muito cedo, seu tempo nunca é o tempo certo. Inadaptado, angustiado, excitado pela raiva e pela melancolia, ele se debate, sonha com outros mundos, viaja. Creia-me, antes de Byron esse não era o modelo do Artista. Um escritor, um pintor podia e geralmente era, completamente "de seu tempo e de seu lugar". Com pés firmes no chão, ligado a realidade, gênios como Cervantes ou Moliére nada possuem de "sentir-se de outras eras". Byron não. Ele, solitário radical, porém cercado de amantes, nunca está aqui. Vive sempre lá.
   Místico, mesmo sendo cético, Byron populariza o satanismo. Flerta com o anjo caído, o anjo negro da noite e do pecado. Byron ousa. Inaugura isso também, o artista como pecador. Byron se droga, dorme com a irmã, blasfema, peca. E goza. É o homem mais famoso da Europa. Bate em popularidade Goethe e Beethoven. É um tempo de titãs.
   Byron parte, viaja. Mete-se em revoluções, ajuda anarquistas. Onde houver ação, ele lá estará. Mas suas causas devem ser as perdidas. Byron perde sempre. E morre nas trincheiras, na Grécia amada, lutando pela independência do país. Um fim digno de sua vida. Um fim artístico.
   Pois bem, por 150 anos esse será o modelo. De DH Lawrence a Heminguay, de Jean Cocteau a Joyce, todos serão em algum aspecto byronistas. Gauguin, Modigliani, Lorca... a ansiedade, a vida como obra, a obra como tentativa de inovação, a criação de um mito, a crença em outros caminhos, a inadaptabilidade ao tempo. Mas, claro, esse byronismo vai se tornando cada vez mais "fake", de segunda e terceira mão, cada vez mais impossível.
   Quando o rock explode os mais espertos logo surrupiaram o modo Byron de ser. Mick Jagger passa dez anos em poses de Lord Byron. Satânico, pecador, dúbio, entediado. Com ele vem toda uma leva de byronistas do rock, entre eles os mais ingênuos morreram ( Jim Morrison, Brian Jones, Nick Drake, Ian Curtis ), os mais espertos se tornaram cínicos ( o próprio Jagger, Bowie, Kevin Ayers ) ou trocaram Byron por Shelley ( Van Morrison, Bryan Ferry ). Quase todos ingleses, nos EUA o rock é folclore, todo rock star americano desde sempre é whitmaniano, ( com alguns anjos de Allan Poe como Lou Reed e Patti Smith ). Weeellll....
   Penso então que é por isso que tenho imensa dificuldade de levar o rock de agora a sério. A ênfase em Byron se foi. Uns poucos ainda bebem na fonte de Shelley ou de Wilde, mas quase todos são filhos da era naturalista, arte para eles é apenas "observação acurada da vida". Sempre vou pensar que isso não é arte. É jornalismo.