Existem discos que ficam mofados. Acabo de tentar escutar Avalon do Roxy. Que coisa! Como pode um disco que gostei tanto parecer agora tão vazio? Nenhuma emoção consigo capturar. Faz dançar, é bonito, mas está distante de mim. É isso, o cara que vibrava com Avalon talvez seja hoje muito pouco eu.
Não é o caso de In Your Mind. O disco é de 1977, mas comprei-o apenas em 1993. Na época pré-cd e muito pré-internet, certos discos eram muito raros. Este era um deles. Vendeu tão pouco que nunca foi lançado no Brasil. E o fato de ter vendido pouco foi uma surpresa.
Em 1976, com o ego inflado, Bryan Ferry encerra o Roxy Music e se dedica apenas a carreira solo. Com o Roxy acontecera um fato que também ocorrera na mesma época com The Faces: o cantor dar mais atenção a sua carreira fora da banda, e acabar por deixar os companheiros de grupo de lado. Rod Stewart lançava todo ano um disco solo e um disco com The Faces. Ao mesmo tempo, todo ano, Ferry lançava um disco com Roxy e um solo. E ambos, Rod em 1975, Ferry em 1976, dão um chute final na banda.
Então em 1976 Bryan Ferry lança seu primeiro disco solo com o Roxy desintegrado ( é seu quarto album solo na verdade ). Let's Stick Together é um disco excelente e é um big hit na Inglaterra ( nunca na América ). Com Rod Stewart cada vez mais longe de seus fãs, Bowie gravando soul music e Elton John começando a decair, Bryan Ferry se torna o nome mais IN de Londres. Todas as modelos querem ele, os fotógrafos lhe perseguem e até cinema ele faz. Escolhe Jerry Hall como namorada, se apaixonam ( a texana Hall era a top model number one do mundo ). Mas, voce sabe, ele é Bryan Ferry, as coisas tinham de se melancolizar.
Em fins de 1976 Mick Jagger vai assistir um show de Ferry, e nos camarins conhece a namorada de Bryan, Jerry Hall. Fulminante paixão! Mick e Hall serão marido e mulher por mais de vinte anos. Bryan Ferry entra numa dor de cotovelo abissal e há quem diga que seu estilo até hoje é esse: abandonado por Jerry Hall.
In Your Mind é gravado nesse espirito. Todas as faixas falam de Hall e as vendas foram as piores de sua vida. Era 1977, Londres só tinha ouvidos para disco, punk e ska, reggae e new wave. Em questão de meses Bryan Ferry passou a parecer careta, saudosista, velho. ( Ele estava com 31 ). In Your Mind é soberbo.
Existem discos que são "bíblias" sobre o amor. São poucos esses discos. Consigo lembrar de Forever Changes do Love, Rattlesnakes de Lloyd Cole, o disco Steve McQueen dos Prefab Sprouts... São albuns que mergulham na paixão amorosa, dialogam com nossos corações, narram os começos e os finais de histórias, nos consolam e nos guiam. In Your Mind é assim.
This is Tomorrow abre em alto-astral. E tem um solo de guitarra espetacular de Chris Spedding. O som é rico: sinos, teclados, sax e trompete, guitarra, percussão e montes de vozes. É o Pop perfeito, o Pop refinado de Mr.Ferry. All Night Operator começa a mudar o clima e quando entra One Kiss entramos na coisa. One Kiss é um baladão. Uma canção épica de amor comum. O vocal é sublime. Ela é triste mas jamais deprimida. Bryan Ferry sempre chora como Homem, nunca como menino.
Love Me Madly Again é uma obra-prima. Tem um arranjo de violinos no final que é coisa de gênio. Há tanto para se dizer e tanto para se ouvir nessas canções...
Tokyo Joe foi a faixa que chegou mais perto do sucesso. É esperta, dançável, muda de andamento toda hora, cheia de barulhinhos à La Eno. E vem Party Doll.
Party Doll é uma balada-culto. Ferry canta como se estivesse num púlpito, e não a toa ela termina com um "Amém". Tudo nessa canção tem a simplicidade dos clássicos e a complexidade dos eternos. A voz está afirmativa, se impõe e todos os instrumentos soam em coesão. É um desses momentos em que o Pop surpreende. Há muita perfeição aqui.
Rock of Ages é uma canção que empurra a vida avante e o disco fecha em ponto sublime com In Your Mind. A sequencia dessas duas jóias poucas vezes foi igualada.
Quando ouvi o disco a primeira vez, numa tarde de dezembro em 1993, eu estava apaixonado. Eu e a menina que amava havíamos combinado: em Janeiro ela terminaria seu noivado e ficaríamos juntos então. Claro que nada deu certo e ela ficou com o cara. Mas em dezembro eu não sabia. Eu apenas sabia que a dividia com outro. In Your Mind caiu feito uma bomba nesse momento. Era a voz certa e a música certa. O disco me consolava e me fazia esperar.
Hoje, quase vinte anos depois, ele poderia ser mofo, como Avalon. Ser apenas uma lembrança de um amor passado. Bonito. E distante. Mas não. In Your Mind está vivo. Cada acorde dessa multidão de instrumentos, dos baixos sinuosos às percussões fortes, cada palavra da voz de Ferry estão vivos como estavam em 77 e em 93.
Amém.
Não é o caso de In Your Mind. O disco é de 1977, mas comprei-o apenas em 1993. Na época pré-cd e muito pré-internet, certos discos eram muito raros. Este era um deles. Vendeu tão pouco que nunca foi lançado no Brasil. E o fato de ter vendido pouco foi uma surpresa.
Em 1976, com o ego inflado, Bryan Ferry encerra o Roxy Music e se dedica apenas a carreira solo. Com o Roxy acontecera um fato que também ocorrera na mesma época com The Faces: o cantor dar mais atenção a sua carreira fora da banda, e acabar por deixar os companheiros de grupo de lado. Rod Stewart lançava todo ano um disco solo e um disco com The Faces. Ao mesmo tempo, todo ano, Ferry lançava um disco com Roxy e um solo. E ambos, Rod em 1975, Ferry em 1976, dão um chute final na banda.
Então em 1976 Bryan Ferry lança seu primeiro disco solo com o Roxy desintegrado ( é seu quarto album solo na verdade ). Let's Stick Together é um disco excelente e é um big hit na Inglaterra ( nunca na América ). Com Rod Stewart cada vez mais longe de seus fãs, Bowie gravando soul music e Elton John começando a decair, Bryan Ferry se torna o nome mais IN de Londres. Todas as modelos querem ele, os fotógrafos lhe perseguem e até cinema ele faz. Escolhe Jerry Hall como namorada, se apaixonam ( a texana Hall era a top model number one do mundo ). Mas, voce sabe, ele é Bryan Ferry, as coisas tinham de se melancolizar.
Em fins de 1976 Mick Jagger vai assistir um show de Ferry, e nos camarins conhece a namorada de Bryan, Jerry Hall. Fulminante paixão! Mick e Hall serão marido e mulher por mais de vinte anos. Bryan Ferry entra numa dor de cotovelo abissal e há quem diga que seu estilo até hoje é esse: abandonado por Jerry Hall.
In Your Mind é gravado nesse espirito. Todas as faixas falam de Hall e as vendas foram as piores de sua vida. Era 1977, Londres só tinha ouvidos para disco, punk e ska, reggae e new wave. Em questão de meses Bryan Ferry passou a parecer careta, saudosista, velho. ( Ele estava com 31 ). In Your Mind é soberbo.
Existem discos que são "bíblias" sobre o amor. São poucos esses discos. Consigo lembrar de Forever Changes do Love, Rattlesnakes de Lloyd Cole, o disco Steve McQueen dos Prefab Sprouts... São albuns que mergulham na paixão amorosa, dialogam com nossos corações, narram os começos e os finais de histórias, nos consolam e nos guiam. In Your Mind é assim.
This is Tomorrow abre em alto-astral. E tem um solo de guitarra espetacular de Chris Spedding. O som é rico: sinos, teclados, sax e trompete, guitarra, percussão e montes de vozes. É o Pop perfeito, o Pop refinado de Mr.Ferry. All Night Operator começa a mudar o clima e quando entra One Kiss entramos na coisa. One Kiss é um baladão. Uma canção épica de amor comum. O vocal é sublime. Ela é triste mas jamais deprimida. Bryan Ferry sempre chora como Homem, nunca como menino.
Love Me Madly Again é uma obra-prima. Tem um arranjo de violinos no final que é coisa de gênio. Há tanto para se dizer e tanto para se ouvir nessas canções...
Tokyo Joe foi a faixa que chegou mais perto do sucesso. É esperta, dançável, muda de andamento toda hora, cheia de barulhinhos à La Eno. E vem Party Doll.
Party Doll é uma balada-culto. Ferry canta como se estivesse num púlpito, e não a toa ela termina com um "Amém". Tudo nessa canção tem a simplicidade dos clássicos e a complexidade dos eternos. A voz está afirmativa, se impõe e todos os instrumentos soam em coesão. É um desses momentos em que o Pop surpreende. Há muita perfeição aqui.
Rock of Ages é uma canção que empurra a vida avante e o disco fecha em ponto sublime com In Your Mind. A sequencia dessas duas jóias poucas vezes foi igualada.
Quando ouvi o disco a primeira vez, numa tarde de dezembro em 1993, eu estava apaixonado. Eu e a menina que amava havíamos combinado: em Janeiro ela terminaria seu noivado e ficaríamos juntos então. Claro que nada deu certo e ela ficou com o cara. Mas em dezembro eu não sabia. Eu apenas sabia que a dividia com outro. In Your Mind caiu feito uma bomba nesse momento. Era a voz certa e a música certa. O disco me consolava e me fazia esperar.
Hoje, quase vinte anos depois, ele poderia ser mofo, como Avalon. Ser apenas uma lembrança de um amor passado. Bonito. E distante. Mas não. In Your Mind está vivo. Cada acorde dessa multidão de instrumentos, dos baixos sinuosos às percussões fortes, cada palavra da voz de Ferry estão vivos como estavam em 77 e em 93.
Amém.