EXPEDIÇÃO KON-TIKI, FILME DE RONNING E SANDBERG

   Chuck Yeager é um dos meus heróis. E ele foi tema de uma obra-prima do cinema: Os Eleitos de Philip Kauffman. Sam Shepard interpretou Yeager. Agora meu outro grande herói, Thor Heyerdahl, ganha um filme, candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013. EXPEDIÇÃO KON TIKI é um belíssimo filme da Noruega. Simples, emocionante, discreto, como Thor.
   Em 2005 li em duas semanas dois livros de Heyerdahl: NA TRILHA DE ADÃO e A EXPEDIÇÃO KON TIKI. Digo sem medo de errar, que são dois dos livros que li com mais prazer em minha vida. Cheios de fotos, texto maravilhoso, eles conseguem fazer com que fiquemos plenos de alegria, de fé na vida e principalmente curiosos. Viver é ser curioso, ser inteligente é ter curiosidade, querer conhecer aquilo que não se conhece. Thor é um desses e por isso eu o venero.
   O filme conta a história sem enfeites. Heyerdahl estuda antropologia e lança a teoria ( ridicularizada ) de que os nativos da Polinésia tiveram sua origem não na Asia, mas sim na América do Sul. Ora, diziam todos, como os peruanos poderiam ter povoado as ilhas? Eles não sabiam fazer barcos, só jangadas, e uma jangada jamais poderia cruzar 8000 km no Pacifico. Heyerdahl insiste na ideia, junta uma equipe e parte. Sim, parte! Quase sem recursos vai ao Perú e lá constrói uma jangada, usando os mesmos materiais que os peruanos de 1500 anos atrás teriam a disposição. E parte.
   Detalhe importante: Thor Heyerdahl nada sabia de navegação, e pasmem, não sabia nadar! Forma uma equipe onde um é vendedor de geladeiras, outro é herói de guerra ( é 1947 ) e dos sete homens apenas um já esteve no mar. Fazem a jangada : troncos de madeira, cordas e uma cabana de folhas. Uma vela e nada de leme ou de remos. As correntes do mar irão os guiar, soltos, do Perú até a Polinésia. Essa é a certeza de Thor. E eles se jogam.
   O mar neste filme á mais belo que em PI. Não tem enfeites. E quando eles chegam a ilha, após 101 dias, voce chora com o riso de Thor Heyerdahl. Ele tinha apenas uma certeza, baseada apenas numa fé, sem qualquer evidência, e chegou. Nada pode ser comparado a bela aventura desse não-aventureiro. Nada se compara a alegre jornada desse grupo. Isso se chama heroísmo: um homem e sua certeza se dirige a seu destino sem ajuda de nada mais que sua fé. Obstinadamente ele prova sua verdade e jamais deixa de acreditar naquilo que o move. Se para mais alguém crer naquilo que ele crê era preciso refazer a viagem, ele a refez.
   O filme termina falando do destino da tripulação, e é com alegria que vejo que todos morreram velhinhos, se aventurando em outras paragens.
   Tenho neste momento em minhas mãos os dois livros. Preciso reler. Preciso novamente estar nesse mar. O filme, feito apenas de momentos claros, apenas daquilo que importa, sem firulas e sem exibições, é delicioso. Provávelmente jamais será exibido por aqui. Corram atrás! Voces irão adorar!