O sonho de todo mal arquiteto sempre foi o de se livrar das pessoas em seu projeto. O desenho lhe parece perfeito, as pessoas estragam. Elas sujam, não ficam onde deveriam ficar, atrapalham o equilíbrio da razão.
Ando pela Nova Faria Lima e vejo isso se realizar: o sonho do arquiteto ruim. A calçada morta. Nada de bares, padarias, lojas ou bancas de jornal. Ninguém anda em suas calçadas, que assim ficam perfeitas. Combinam com os prédios, todos espelhados e com janelas que não abrem. Jamais serão vistos rostos em suas fachadas. Fachadas que refletem o prédio em frente. Esses edificios jamais serão abertos, não receberão sons da rua ou o ar da manhã. Isolados, controlados.
Houve tempo em que essas construções me intimidavam. Hoje sinto desprezo. Elas são menos que mortas pois jamais foram vivas. Nada há nelas que respire, que pareça se modificar, que cresça com o tempo. Aspiram a ordem tola do fascismo mais primário. Serão ruínas antes de serem história.
Nas calçadas vazias ficaram as árvores de outro tempo. Inuteis, ninguém lerá em sua sombra ou namorará debaixo de seus pássaros.
O ridiculo não possui limite e entranhada nos espelhos do maior dos edificios resta quieta a primeira casa do bairro do Itaim. Fizeram uma construção em forma de H e no meio dessa letra mora a casa antiga. Nunca derrotada, centenária, ela rí do gigante nunca nascido que a abriga de sol e de chuva. Ela espera, sábia, a ruina dos vidros, a transformação desse tolo presente em lixo.
Ando pela Vila Olímpia e vejo as casas sendo transformadas em mais espelhos. Ruas de senhoras que andam à feira viram calçadas largas e vazias. Os bares caem e onde se paquerava agora se trabalha. Naquela esquina viviam 12 pessoas. Agora trabalharão 5000. E antes que essas 5000 criem algum afeto por seu canto, serão mais 30000. Pffff...
Estranhamente nada disso me atinge mais. Porque sei que todos os espelhos virão abaixo e as largas avenidas serão tomadas. Por mais que os fascistas e os arquitetos ruins tentem, o futuro não será uma avenida perfeita com limpos e corretos prédios de cristal azul. Porque as pessoas sujam as coisas, o sol as corrompe, a chuva traz mofo e a inquietude quebra regras.
A arquitetura do futuro será como a favela. Anarquia modular, criação jamais concluída, cada um por si. Voce fará seu "barraco" de material nobre ou de porcaria e restos, mas será uma coisa sua, viva, inacabada. Rirão de nossos espelhos. Ficará apenas um de pé, tombado como testemunho de tempos cruéis.
E a casa centenária, rindo, dará boas vindas aos barracos luxuosos do futuro.
Tá bom?
Ando pela Nova Faria Lima e vejo isso se realizar: o sonho do arquiteto ruim. A calçada morta. Nada de bares, padarias, lojas ou bancas de jornal. Ninguém anda em suas calçadas, que assim ficam perfeitas. Combinam com os prédios, todos espelhados e com janelas que não abrem. Jamais serão vistos rostos em suas fachadas. Fachadas que refletem o prédio em frente. Esses edificios jamais serão abertos, não receberão sons da rua ou o ar da manhã. Isolados, controlados.
Houve tempo em que essas construções me intimidavam. Hoje sinto desprezo. Elas são menos que mortas pois jamais foram vivas. Nada há nelas que respire, que pareça se modificar, que cresça com o tempo. Aspiram a ordem tola do fascismo mais primário. Serão ruínas antes de serem história.
Nas calçadas vazias ficaram as árvores de outro tempo. Inuteis, ninguém lerá em sua sombra ou namorará debaixo de seus pássaros.
O ridiculo não possui limite e entranhada nos espelhos do maior dos edificios resta quieta a primeira casa do bairro do Itaim. Fizeram uma construção em forma de H e no meio dessa letra mora a casa antiga. Nunca derrotada, centenária, ela rí do gigante nunca nascido que a abriga de sol e de chuva. Ela espera, sábia, a ruina dos vidros, a transformação desse tolo presente em lixo.
Ando pela Vila Olímpia e vejo as casas sendo transformadas em mais espelhos. Ruas de senhoras que andam à feira viram calçadas largas e vazias. Os bares caem e onde se paquerava agora se trabalha. Naquela esquina viviam 12 pessoas. Agora trabalharão 5000. E antes que essas 5000 criem algum afeto por seu canto, serão mais 30000. Pffff...
Estranhamente nada disso me atinge mais. Porque sei que todos os espelhos virão abaixo e as largas avenidas serão tomadas. Por mais que os fascistas e os arquitetos ruins tentem, o futuro não será uma avenida perfeita com limpos e corretos prédios de cristal azul. Porque as pessoas sujam as coisas, o sol as corrompe, a chuva traz mofo e a inquietude quebra regras.
A arquitetura do futuro será como a favela. Anarquia modular, criação jamais concluída, cada um por si. Voce fará seu "barraco" de material nobre ou de porcaria e restos, mas será uma coisa sua, viva, inacabada. Rirão de nossos espelhos. Ficará apenas um de pé, tombado como testemunho de tempos cruéis.
E a casa centenária, rindo, dará boas vindas aos barracos luxuosos do futuro.
Tá bom?