O SOM DO FUTURO NÃO FALA COM VOCE. ELE VIVE A SEU LADO.

   Brian Eno sempre foi voltado apenas para diante de si-mesmo. Ficou SÓ dois anos no Roxy Music porque achou que no segundo disco a banda já se repetia ( errou ). Ele está no Rio. Vai fazer uma obra visual-musical nos Arcos da Lapa. Vai durar todo o fim de semana. Vale muito a pena. Mais que isso, é obrigatório. Eno criou ( com o Kraftwerk ), tudo o que há na música pop atual que não tem compromisso com os anos 60/70. Explico.
   Em 1977 ele criou o conceito de música ambiente. Convalescendo no hospital, ele percebeu que a música que tocava no rádio valia muito quando se integrava ao ambiente, quando se tornava um tipo de objeto não-expressivo. O rock era expressivo demais, um monte de emoções desordenadas e sem razão, Brian Eno queria o contrário disso. O que ele desejava era apagar do pop e do rock tudo que remetesse a tradição do século XIX, a Beethoven, a música como lingua do sentimento. Ele queria música que nada expressasse, neutra, ausente, uma imagem na parede, parte do ambiente. Ela deveria interagir com o transito lá fora, absorver as vozes dos ouvintes, tomar para si os sons do mundo. Os ruídos, muitos, da cidade do Rio serão parte da música.
   Em Berlin, 1977, enquanto os punks vomitavam os bofes de tanta expressão, ele e Bowie se aplicavam em ser gelados, em fazer canção que nada tivesse de emocional, que fosse puro som e imagem. Depois ele tentou isso com Talking Heads, Ultravox e Devo; e até com o U2, a mais histérica das bandas, Eno conseguiu dar uma podada.
   Na entrevista que leio ele fala que estudou pintura na adolescência. Nunca música. Que som é imagem, é paisagem. Que desde sempre ele viu tudo como um clip, mas clip sem histórinha, sem conceito. Imagem pura. Fascinado pelo progresso, Eno pensa que mesmo baixar som na Internet é uma forma velha de pensar o som. Ele desenvolve um programa que jamais repete a mesma música. No futuro uma música será mutável aleatóriamente. Voce jamais a escutará duas vezes da mesma forma. Ao ser executada ela se auto-reformulará.
   Roxy Music de novo? São amigos, mas bandas com mais de cinco anos são patéticas.
   Interessante...desde mais ou menos 1995, as poucas bandas novas que me interessam são aquelas que de certa forma seguiram o modo Eno de pensar. Bandas não-emocionais, que fazem sons calcados em timbre, em ambientação, que criam massas de sons visuais. Toda banda que tenta, de novo!, expressar amor, ódio, desespero, tédio, alegria rocknroll, só pode ser ouvida como nostalgia. Voce vê caras de 20 anos fazendo aquilo que seus avôs de 70 fizeram até o limite.
   Em 1978 Eno já notara que após Dylan, Motown, Led, Iggy, MC5 e vasto etc, a linguagem da guitarra/bateria mais cantor emocionado chegar ao ponto mais alto. Depois só poderia vir a incessante repetição. A não ser que se seguisse uma trilha oposta a tudo o que eles faziam. Foi o que Brian Eno fez.
   Não foi pouca coisa. E ele continua nessa estrada. Não é um músico, como ele mesmo diz, eis um pintor de sons.