Gloriosos dias!
O que falo não é nunca por ter lido ou pelo dogma de um mestre ( apesar de ler muito e saber que ler é tomar conhecimento de um ato potencial ). É por sentir na carne que escrevo. Sabendo que jamais conseguirei dizer exatamente o que sinto.
Glorificados dias! Minha fé diz que é preciso morrer e renascer em vida para poder morrer a morte em paz. Minha mente vê que a vida é toda feita de pequenas mortes e buracos sombrios e que sabedoria é renascer após essa mortezinha. A vida só vale a pena desse modo. A saga particular da morte e vida, vida e morte latente na existência de cada um.
De Avignon tudo o que vi foram árvores pequenas retorcidas e ruas sujas. E o vento Mistral, que deixa todo mundo acabrunhado e querendo sumir. Lembro do céu azul demais e do cheiro de aniz que impregnava a casa. E das montanhas de sinais de cristianismo muito suspeito. Os anti-papas viveram em Avignon. As seitas gnósticas fizeram de lá seu lar.
Quando lá estive eu não sabia de nada disso. Senti frio e uma melancolia que me fazia odiar o tempo. Calçadas de pedra eram só calçadas velhas. Eu não sabia as ler.
Antes eu tivera uma experiência de cigano. Ratos do tamanho de coelhos que ficavam olhando pra mim e mexiam suas patinhas nervosas. Ratos têm cheiro e eles exalavam esse cheiro ao sol do meio-dia. Bosta seca também fedia. Bosta de gente, desidratada ao sol. Aquele lugar tinha apenas isso, ratos, bosta, capim e córregos sujos. E eu, torrando ao sol até esquecer onde eu estava ou o que eu era. O sol me fazia suar e tudo o que eu sabia era do calor que subia e do suor que descia. Cheiros e o leve movimento do capim na brisa que mal existia. Aquelas tardes são renascimentos. Duram para sempre. Minha eternidade habita aquele lugar.
Gloriosos dias! Enamorado da vida. Solto em mim-mesmo e solto de mim-mesmo. A vida foi criada pela matéria inerte ou a vida criou a matéria inerte? É mais fácil da vida nascer a matéria ou da matéria nascer a vida ? Para haver morte é preciso a vida.
Então encontro perdido entre meus livros o primeiro volume do Quinteto de Avignon de Durrell. E tudo nele faz sentido. Um escritor daqueles que fazem parte dos buscadores. Dos inquietos. Os indagadores. Os autores que se exilaram ao redor do Mediterrâneo, sentindo lá a origem e fim. Adentro essas páginas e sou preso da febre de ler tudo. Febre ou sonho?
O nosso erro, radicalmente tolo, é pensar ser a matéria superior a vida.
O que falo não é nunca por ter lido ou pelo dogma de um mestre ( apesar de ler muito e saber que ler é tomar conhecimento de um ato potencial ). É por sentir na carne que escrevo. Sabendo que jamais conseguirei dizer exatamente o que sinto.
Glorificados dias! Minha fé diz que é preciso morrer e renascer em vida para poder morrer a morte em paz. Minha mente vê que a vida é toda feita de pequenas mortes e buracos sombrios e que sabedoria é renascer após essa mortezinha. A vida só vale a pena desse modo. A saga particular da morte e vida, vida e morte latente na existência de cada um.
De Avignon tudo o que vi foram árvores pequenas retorcidas e ruas sujas. E o vento Mistral, que deixa todo mundo acabrunhado e querendo sumir. Lembro do céu azul demais e do cheiro de aniz que impregnava a casa. E das montanhas de sinais de cristianismo muito suspeito. Os anti-papas viveram em Avignon. As seitas gnósticas fizeram de lá seu lar.
Quando lá estive eu não sabia de nada disso. Senti frio e uma melancolia que me fazia odiar o tempo. Calçadas de pedra eram só calçadas velhas. Eu não sabia as ler.
Antes eu tivera uma experiência de cigano. Ratos do tamanho de coelhos que ficavam olhando pra mim e mexiam suas patinhas nervosas. Ratos têm cheiro e eles exalavam esse cheiro ao sol do meio-dia. Bosta seca também fedia. Bosta de gente, desidratada ao sol. Aquele lugar tinha apenas isso, ratos, bosta, capim e córregos sujos. E eu, torrando ao sol até esquecer onde eu estava ou o que eu era. O sol me fazia suar e tudo o que eu sabia era do calor que subia e do suor que descia. Cheiros e o leve movimento do capim na brisa que mal existia. Aquelas tardes são renascimentos. Duram para sempre. Minha eternidade habita aquele lugar.
Gloriosos dias! Enamorado da vida. Solto em mim-mesmo e solto de mim-mesmo. A vida foi criada pela matéria inerte ou a vida criou a matéria inerte? É mais fácil da vida nascer a matéria ou da matéria nascer a vida ? Para haver morte é preciso a vida.
Então encontro perdido entre meus livros o primeiro volume do Quinteto de Avignon de Durrell. E tudo nele faz sentido. Um escritor daqueles que fazem parte dos buscadores. Dos inquietos. Os indagadores. Os autores que se exilaram ao redor do Mediterrâneo, sentindo lá a origem e fim. Adentro essas páginas e sou preso da febre de ler tudo. Febre ou sonho?
O nosso erro, radicalmente tolo, é pensar ser a matéria superior a vida.