Quando em 1996 Marcello Mastroianni foi a Portugal fazer aquele que seria seu último filme ( foram 170 ), uma pequena equipe foi com ele, para fazer o belissimo documentário que tem o nome igual ao deste livro. Os nomes só poderiam ser iguais, pois o livro é a transcrição do texto que é dito na película.
Marcello solta a memória e viaja por lembranças. Não há nenhuma ordem cronológica e não se faz nenhuma pergunta. Ele fala aquilo que sua lembrança diz e coisas como casamentos ou amores ficam de fora. Cinema, infância, sonhos, medos, viagens, frustrações e amigos. Esses são os temas aos quais Marcello viaja. Fala sem pretensão, nunca procura ser sábio ou original; e acaba por ser cativante. O livro, que pode ser lido em duas horas, é tudo aquilo que o livro sobre Clint Eastwood não é.
Talvez os dois livros demonstrem a diferença entre Clint e Marcello. Mais que isso, a diferença entre uma visão de vida á americana e à italiana. A história de Clint é objetiva, cronológica, sensacional e cheia de fatos. Marcello é subjetivo, foge da cronologia, conta coisas inuteis e viaja em ideias e sonhos.
Ele recorda a mãe, o avô carpinteiro, o cheiro da madeira. As ruas de terra, as meninas. Fala de Tchekov, de Kafka, de Stendhal. Recorda Visconti, De Sica, Monicelli e Fellini. O modo maravilhoso de filmar de Federico Fellini. Uma festa nos sets, tudo em improviso, sem roteiro e sem falas, apenas breves instruções, o amor de Federico pelas pessoas, pelos rostos, pelos tipos ricos e diferentes. A imaginação que crescia sem parar, que aumentava tudo, que engolia o mundo.
Mas o livro é de Marcello, um ator que ama Gary Cooper, Astaire e Clark Gable, mas que diz ser o cinema de seu país o melhor já feito. O cinema italiano tem mais vida porque tem espaço para o improviso, para o acidente, para a criação em grupo, sua pobreza faz dele mais colorido e muito mais real. E nesse mundo criativo nasce o cinema como caldeirão de misturas, uma sopa de ideias.
Mastroianni foi central nesses 30 grandes anos do cinema da Itália. Seu rosto nos filmes de Germi ou de Scola o colocam como ícone. Cinéfilos tendem a adorar certos rostos. Bogart, Brando, Buster Keaton, Jean Gabin, Toshiro Mifune, Max Von Sydow e uns poucos mais. E no centro o rosto de Marcello, face vista em dezenas de filmes eternos.
Para quem desejar entender a arte de Marcello aconselho que comece com DIVÓRCIO À ITALIANA de Germi. Depois adentre aos Fellinis, Viscontis e De Sica.
Memórias são nossas. Nada é mais nosso, nos pertence de forma mais completa que a memória. Ele cita uma canção dos navajos que fala disso. Deixo-a como um canto a esse ator perfeito e homem admirável:
"Guarde na memória tudo aquilo que voce viu/ Porque tudo aquilo que voce esquece/ Torna a voar com o vento"
As memórias de Marcello agora são um pouco minhas também. Salvas do vento, aqui comigo.
Bela leitura.
Marcello solta a memória e viaja por lembranças. Não há nenhuma ordem cronológica e não se faz nenhuma pergunta. Ele fala aquilo que sua lembrança diz e coisas como casamentos ou amores ficam de fora. Cinema, infância, sonhos, medos, viagens, frustrações e amigos. Esses são os temas aos quais Marcello viaja. Fala sem pretensão, nunca procura ser sábio ou original; e acaba por ser cativante. O livro, que pode ser lido em duas horas, é tudo aquilo que o livro sobre Clint Eastwood não é.
Talvez os dois livros demonstrem a diferença entre Clint e Marcello. Mais que isso, a diferença entre uma visão de vida á americana e à italiana. A história de Clint é objetiva, cronológica, sensacional e cheia de fatos. Marcello é subjetivo, foge da cronologia, conta coisas inuteis e viaja em ideias e sonhos.
Ele recorda a mãe, o avô carpinteiro, o cheiro da madeira. As ruas de terra, as meninas. Fala de Tchekov, de Kafka, de Stendhal. Recorda Visconti, De Sica, Monicelli e Fellini. O modo maravilhoso de filmar de Federico Fellini. Uma festa nos sets, tudo em improviso, sem roteiro e sem falas, apenas breves instruções, o amor de Federico pelas pessoas, pelos rostos, pelos tipos ricos e diferentes. A imaginação que crescia sem parar, que aumentava tudo, que engolia o mundo.
Mas o livro é de Marcello, um ator que ama Gary Cooper, Astaire e Clark Gable, mas que diz ser o cinema de seu país o melhor já feito. O cinema italiano tem mais vida porque tem espaço para o improviso, para o acidente, para a criação em grupo, sua pobreza faz dele mais colorido e muito mais real. E nesse mundo criativo nasce o cinema como caldeirão de misturas, uma sopa de ideias.
Mastroianni foi central nesses 30 grandes anos do cinema da Itália. Seu rosto nos filmes de Germi ou de Scola o colocam como ícone. Cinéfilos tendem a adorar certos rostos. Bogart, Brando, Buster Keaton, Jean Gabin, Toshiro Mifune, Max Von Sydow e uns poucos mais. E no centro o rosto de Marcello, face vista em dezenas de filmes eternos.
Para quem desejar entender a arte de Marcello aconselho que comece com DIVÓRCIO À ITALIANA de Germi. Depois adentre aos Fellinis, Viscontis e De Sica.
Memórias são nossas. Nada é mais nosso, nos pertence de forma mais completa que a memória. Ele cita uma canção dos navajos que fala disso. Deixo-a como um canto a esse ator perfeito e homem admirável:
"Guarde na memória tudo aquilo que voce viu/ Porque tudo aquilo que voce esquece/ Torna a voar com o vento"
As memórias de Marcello agora são um pouco minhas também. Salvas do vento, aqui comigo.
Bela leitura.