Gente da minha geração adora fazer listas. Já quebrei a cabeça tentando fazer uma lista com meus filmes favoritos, discos ou romances. Impossível ! A nova geração, percebo, não faz listas. Talvez seja porque já as fizemos para eles. Ou talvez porque eles não pensem mais em termos de excelência. Eu, como Nick Hornby, tenho a mania das listas. Jogadores de futebol holandeses mais importantes, meninas que mais amei, séries de TV mais estranhas, melhor baterista do mundo....
Sobre a nova lista da Rolling Stone só posso falar bem. Finalmente os artistas negros são reconhecidos. Dos 10 primeiros, 6 são negros ( e ainda tem os Stones, que são pretos sim ). Às vezes me irrita a previsibilidade de se colocar Beatles, Dylan e Elvis entre os top 3. O Velvet não seria mais atemporal que os Beatles? James Brown não é mais influente que Dylan? E Johnny Cash não foi mais pioneiro que Elvis? Mas é tolice pensar assim. O rock tem sua história já cristalizada. Colocar Beach Boys ou Led Zeppelin acima de Beatles seria apenas um ato de fã. Ou então excêntricidade de quem quer chamar atenção. Shakespeare é o maior escritor do milênio, isso não mais se discute. Os Beatles se firmaram no topo. São o Cidadão Kane do rock.
Voces garotos deveriam comprar a revista. Quem sabe voces não se animem a escutar alguma coisa fora dos seus padrões de "novas bandas sensacionais". Os textos são de caras do rock. Músicos, cantores e produtores. Alguns são maravilhosos. Outros são banais. Todos despertam a vontade de reouvir os discos. E já aviso, o texto de Eddie Vedder sobre o The Who e´emocionante. Ele mata a charada. The Who é como religião. A melhor banda ao vivo fez do rock um ritual de êxtase místico.
Bono escreve. muito bem, sobre Elvis- Porque queremos que nossos ídolos morram na cruz que eles mesmo fizeram, e se não morrem pedimos nosso dinheiro de volta?
Um belo texto de Rick Rubin sobre James Brown. Ele confessa que em todos os discos que produziu o que tenta é soar tão natural como Brown. Cada instrumento com seu tempo, com sua chance de aparecer. "A importância de sua lenda perdurará, porque nela está o ritmo da vida".
Little Richard é o único cara a escrever sobre si-mesmo. E é um texto triste, onde ele fala, sem medo, que ele deveria ser o número um sempre. Porque veio primeiro, inventou o rock, criou a coisa toda. Richard é o número 8 aqui.
Van Morrison escreve sobre Ray Charles e Wyclef Jean sobre Marley. O legal dos textos é que são de fãs. Nada de enrolação, tudo é homenagem. John Mellencamp fala de suas lembranças caipiras de Buddy Holly e o mais bonito dos textos são as lembranças de infância. Assim como sempre falo da primeira vez em que ouvi Elton John, Led Zeppelin ou Stones, eles falam da primeira audição de Buddy Holly, Beatles ou Elvis.
Dave Grohl vai direto ao ponto: o Led Zeppelin é a maior banda da história do rock e fim de papo. E ele explica porque. Conta inclusive que tem várias tattoos no corpo em homenagem a John Bonham. Bacana ele contar do clima de se passar os discos do Led de mão em mão nos anos 70, como se fossem um baseado... Os meus rodaram pela escola toda....
O texto sobre Stevie Wonder é de Elton John, e é dos mais bem escritos. Para Elton, Stevie é músico tão bom que poderia ter tocado com Charlie Parker ou John Coltrane.
Um texto divertido é de Julian Casablancas sobre o Velvet Underground. Ele se revolta com o fato do Velvet não ser popular. E confessa que sua banda sempre desejou ser um Velvet Underground. Se lamenta por não ter copiado mais os Velvet.
Iggy Pop escreve sobre Bo Diddley. Fantástico! Iggy tem uma sacada genial: Bo tocava só uma nota, mas a atacava com uma mão pesada, forte, viril. Hoje, a maioria dos guitarristas tem um super equipamento, mas tocam com mãozinhas femininas, leves, flácidas...
Há Steve Cropper que conta como conheceu Otis Redding. Moby falando de Jerry Lee Lewis. E Questlove falando de Prince. When Doves Cry como a mais improvável da canções de sucesso e a carreira de Prince entre 1982/1991 como coisa de pura genialidade.
E vem o texto de Eddie Vedder sobre o The Who, melhor texto da revista. Uma peça de amor a uma banda, uma oração misitica a Pete Townshend. E eu continuo querendo saber: Porque The Who traz essa idolatria mistica-existencial à mente? Vedder diz que é a mais religiosa das bandas e ao mesmo tempo uma usina de barulho e de virilidade. Leiam o texto. Ele conta inclusive que a apresentação no Rock'n'roll Circus é o apogeu do rock. Eu postei isso num texto sobre o Who em dezembro de 2011. Vejam.
Kris Kristofferson em poucas linhas desvenda Johnny Cash. O texto é melhor que o filme. Cash é um monumento americano e é de espantar que sua face não esteja no monte Rushmore. E Iggy volta a escrever, sobre o Nirvana. Diz que eles eram Beatles com Torazine.
Flea ama Neil Young. A tosqueira sincera de Neil e o fato de ele jamais se repetir. E de nunca ter vendido uma música para propaganda. Lou Reed fala de Bowie e é um texto cool. Lou fala e diz pouco. O que destaca é a voz maravilhosa de Bowie... Mas eu sinto que a posição 39 para Bowie é muuuuito injusta!
( Espero que já tenham notado que pulo vários textos. Elvis Costello escreve sobre os Beatles, mal. Lenny Kravitz fala de Lennon e o texto é piegas. Mas nada é pior que Britney falando de Madonna.... )
Marilyn Mason consegue explicar direitinho o que são The Doors. O mesmo faz Adam Yauch sobre o Public Enemy. Wayne Coyne demonstra todo seu amor pelo Pink Floyd e mostra uma visão nova sobre a banda. Destaca sua simplicidade. Belo texto de Gerard Way sobre o Queen...aliás é muito legal a Rolling Stone dar ao Queen seu devido respeito!
Peter Buck do REM fala dos Kinks e fala muito bem! Conta que Kinks é banda de poucos e que esses poucos os amam muito. Surpresa! Justin Timberlake produz um texto muito bom sobre Al Green, o cantor com a felicidade na voz. E Roger Waters se revela um fã do Cream.
Rick Rubin acha o AC/DC a maior banda da história do rock e Dave Mathews revela sua inveja do Radiohead. Em seguida Beck descreve Hank Williams e Thurston Moore confessa sua paixão pelos Stooges. Eu não sabia que Iggy é filho de pais intelectuais. O que confirma aquela teoria de que rock stars de origem humilde costumam ser mais pop ( Beatles, Elvis, Elton John ) e filhos de classes privilegiadas são mais descompromissados ( Lou Reed, Roxy Music, Zappa ), atenção, isso nada tem a ver com qualidade, falo só de postura perante a audiência.
Stephen Malkmus relembra o Creedence Clearwater e Keith Richards tece belas lembranças de Gram Parsons. É bacana lembrarem de Gram. É bacana Keith dizer que sente sua falta até hoje. Mas pra mim, Gram Parsons é um dos 50 grandes e não o 87. Mas é uma lista sem Roxy Music, sem Kevin Ayers e sem Love....não foi feita por mim....
Bowie manda uma pequena obra de arte sobre Nine Inch Nails. Irônico, elegante e bastante literário. É de todos os textos o mais metido, o mais erudito e o mais criativo. É a cara de Bowie.
Colin Meloy faz uma lembrança bonita sobre o que era amar o REM na década de Bon Jovi e Garth Brooks. Muito como eu.... É claro que tem Stones, Elton John, Sabbath, Van Morrison, Muddy Waters e um vasto etc. Mas são linhas indignas de seus homenageados. Os textos sobre The Band e Marvin Gaye chegam a parecer patéticos.
Entre os caras que escolheram os 100 discos leio os nomes de Quentin Tarantino, Kurt Loder, Greil Marcus, Moby, Joe Perry, Santana, Slash, Butch Vig, Adam Yauch....
Nas estatísticas me surpreende os artistas com mais sucessos entre os top 40:
Elvis teve 114 !!!!!! Caramba!!!! 114 !!!!!!!!
Depois vem Elton John com 58, Beatles com 52 e Madonna com 49. Aretha Franklyn e Stevie Wonder têm 45, James Brown 44 e Marvin Gaye empata com Stones com 41. O que prova que os grandes rivais dos Beatles em vendas eram mesmo os artistas negros americanos.
PS: Há uma enorme quantidade de nomes dos anos 50/60. Para os que reclamarem, uma explicação ( que deveria não ser necessária ). Foi a década da criação do idioma, da afirmação dos estilos. Depois de 1969, de realmente novo só o RAP, que está bem representado. Assim como em romance sempre serão citados Balzac, Flaubert, Dickens, Dostoievski, Tolstoi e Stendhal como modelos, em rock para sempre teremos Beatles, Dylan, Velvet, Hendrix e Led como os paradigmas a serem desafiados.
Sobre a nova lista da Rolling Stone só posso falar bem. Finalmente os artistas negros são reconhecidos. Dos 10 primeiros, 6 são negros ( e ainda tem os Stones, que são pretos sim ). Às vezes me irrita a previsibilidade de se colocar Beatles, Dylan e Elvis entre os top 3. O Velvet não seria mais atemporal que os Beatles? James Brown não é mais influente que Dylan? E Johnny Cash não foi mais pioneiro que Elvis? Mas é tolice pensar assim. O rock tem sua história já cristalizada. Colocar Beach Boys ou Led Zeppelin acima de Beatles seria apenas um ato de fã. Ou então excêntricidade de quem quer chamar atenção. Shakespeare é o maior escritor do milênio, isso não mais se discute. Os Beatles se firmaram no topo. São o Cidadão Kane do rock.
Voces garotos deveriam comprar a revista. Quem sabe voces não se animem a escutar alguma coisa fora dos seus padrões de "novas bandas sensacionais". Os textos são de caras do rock. Músicos, cantores e produtores. Alguns são maravilhosos. Outros são banais. Todos despertam a vontade de reouvir os discos. E já aviso, o texto de Eddie Vedder sobre o The Who e´emocionante. Ele mata a charada. The Who é como religião. A melhor banda ao vivo fez do rock um ritual de êxtase místico.
Bono escreve. muito bem, sobre Elvis- Porque queremos que nossos ídolos morram na cruz que eles mesmo fizeram, e se não morrem pedimos nosso dinheiro de volta?
Um belo texto de Rick Rubin sobre James Brown. Ele confessa que em todos os discos que produziu o que tenta é soar tão natural como Brown. Cada instrumento com seu tempo, com sua chance de aparecer. "A importância de sua lenda perdurará, porque nela está o ritmo da vida".
Little Richard é o único cara a escrever sobre si-mesmo. E é um texto triste, onde ele fala, sem medo, que ele deveria ser o número um sempre. Porque veio primeiro, inventou o rock, criou a coisa toda. Richard é o número 8 aqui.
Van Morrison escreve sobre Ray Charles e Wyclef Jean sobre Marley. O legal dos textos é que são de fãs. Nada de enrolação, tudo é homenagem. John Mellencamp fala de suas lembranças caipiras de Buddy Holly e o mais bonito dos textos são as lembranças de infância. Assim como sempre falo da primeira vez em que ouvi Elton John, Led Zeppelin ou Stones, eles falam da primeira audição de Buddy Holly, Beatles ou Elvis.
Dave Grohl vai direto ao ponto: o Led Zeppelin é a maior banda da história do rock e fim de papo. E ele explica porque. Conta inclusive que tem várias tattoos no corpo em homenagem a John Bonham. Bacana ele contar do clima de se passar os discos do Led de mão em mão nos anos 70, como se fossem um baseado... Os meus rodaram pela escola toda....
O texto sobre Stevie Wonder é de Elton John, e é dos mais bem escritos. Para Elton, Stevie é músico tão bom que poderia ter tocado com Charlie Parker ou John Coltrane.
Um texto divertido é de Julian Casablancas sobre o Velvet Underground. Ele se revolta com o fato do Velvet não ser popular. E confessa que sua banda sempre desejou ser um Velvet Underground. Se lamenta por não ter copiado mais os Velvet.
Iggy Pop escreve sobre Bo Diddley. Fantástico! Iggy tem uma sacada genial: Bo tocava só uma nota, mas a atacava com uma mão pesada, forte, viril. Hoje, a maioria dos guitarristas tem um super equipamento, mas tocam com mãozinhas femininas, leves, flácidas...
Há Steve Cropper que conta como conheceu Otis Redding. Moby falando de Jerry Lee Lewis. E Questlove falando de Prince. When Doves Cry como a mais improvável da canções de sucesso e a carreira de Prince entre 1982/1991 como coisa de pura genialidade.
E vem o texto de Eddie Vedder sobre o The Who, melhor texto da revista. Uma peça de amor a uma banda, uma oração misitica a Pete Townshend. E eu continuo querendo saber: Porque The Who traz essa idolatria mistica-existencial à mente? Vedder diz que é a mais religiosa das bandas e ao mesmo tempo uma usina de barulho e de virilidade. Leiam o texto. Ele conta inclusive que a apresentação no Rock'n'roll Circus é o apogeu do rock. Eu postei isso num texto sobre o Who em dezembro de 2011. Vejam.
Kris Kristofferson em poucas linhas desvenda Johnny Cash. O texto é melhor que o filme. Cash é um monumento americano e é de espantar que sua face não esteja no monte Rushmore. E Iggy volta a escrever, sobre o Nirvana. Diz que eles eram Beatles com Torazine.
Flea ama Neil Young. A tosqueira sincera de Neil e o fato de ele jamais se repetir. E de nunca ter vendido uma música para propaganda. Lou Reed fala de Bowie e é um texto cool. Lou fala e diz pouco. O que destaca é a voz maravilhosa de Bowie... Mas eu sinto que a posição 39 para Bowie é muuuuito injusta!
( Espero que já tenham notado que pulo vários textos. Elvis Costello escreve sobre os Beatles, mal. Lenny Kravitz fala de Lennon e o texto é piegas. Mas nada é pior que Britney falando de Madonna.... )
Marilyn Mason consegue explicar direitinho o que são The Doors. O mesmo faz Adam Yauch sobre o Public Enemy. Wayne Coyne demonstra todo seu amor pelo Pink Floyd e mostra uma visão nova sobre a banda. Destaca sua simplicidade. Belo texto de Gerard Way sobre o Queen...aliás é muito legal a Rolling Stone dar ao Queen seu devido respeito!
Peter Buck do REM fala dos Kinks e fala muito bem! Conta que Kinks é banda de poucos e que esses poucos os amam muito. Surpresa! Justin Timberlake produz um texto muito bom sobre Al Green, o cantor com a felicidade na voz. E Roger Waters se revela um fã do Cream.
Rick Rubin acha o AC/DC a maior banda da história do rock e Dave Mathews revela sua inveja do Radiohead. Em seguida Beck descreve Hank Williams e Thurston Moore confessa sua paixão pelos Stooges. Eu não sabia que Iggy é filho de pais intelectuais. O que confirma aquela teoria de que rock stars de origem humilde costumam ser mais pop ( Beatles, Elvis, Elton John ) e filhos de classes privilegiadas são mais descompromissados ( Lou Reed, Roxy Music, Zappa ), atenção, isso nada tem a ver com qualidade, falo só de postura perante a audiência.
Stephen Malkmus relembra o Creedence Clearwater e Keith Richards tece belas lembranças de Gram Parsons. É bacana lembrarem de Gram. É bacana Keith dizer que sente sua falta até hoje. Mas pra mim, Gram Parsons é um dos 50 grandes e não o 87. Mas é uma lista sem Roxy Music, sem Kevin Ayers e sem Love....não foi feita por mim....
Bowie manda uma pequena obra de arte sobre Nine Inch Nails. Irônico, elegante e bastante literário. É de todos os textos o mais metido, o mais erudito e o mais criativo. É a cara de Bowie.
Colin Meloy faz uma lembrança bonita sobre o que era amar o REM na década de Bon Jovi e Garth Brooks. Muito como eu.... É claro que tem Stones, Elton John, Sabbath, Van Morrison, Muddy Waters e um vasto etc. Mas são linhas indignas de seus homenageados. Os textos sobre The Band e Marvin Gaye chegam a parecer patéticos.
Entre os caras que escolheram os 100 discos leio os nomes de Quentin Tarantino, Kurt Loder, Greil Marcus, Moby, Joe Perry, Santana, Slash, Butch Vig, Adam Yauch....
Nas estatísticas me surpreende os artistas com mais sucessos entre os top 40:
Elvis teve 114 !!!!!! Caramba!!!! 114 !!!!!!!!
Depois vem Elton John com 58, Beatles com 52 e Madonna com 49. Aretha Franklyn e Stevie Wonder têm 45, James Brown 44 e Marvin Gaye empata com Stones com 41. O que prova que os grandes rivais dos Beatles em vendas eram mesmo os artistas negros americanos.
PS: Há uma enorme quantidade de nomes dos anos 50/60. Para os que reclamarem, uma explicação ( que deveria não ser necessária ). Foi a década da criação do idioma, da afirmação dos estilos. Depois de 1969, de realmente novo só o RAP, que está bem representado. Assim como em romance sempre serão citados Balzac, Flaubert, Dickens, Dostoievski, Tolstoi e Stendhal como modelos, em rock para sempre teremos Beatles, Dylan, Velvet, Hendrix e Led como os paradigmas a serem desafiados.