É sempre um prazer encontrar um autor que pensa, em muitas coisas, mas é claro que não em tudo, como voce. Chesterton tem uma visão de vida que em muito se parece com a minha. Ele faz crítica dura a toda a modernidade, explica o porque de suas críticas, e ao mesmo tempo jamais cai em amargor. Fosse amargo Chesterton cairia em contradição, pois o que ele mais critica na modernidade é exatamente seu amargor.
Chesterton tornou-se mania na Inglaterra de cem anos atrás com seus livros policiais em que o "herói" era o pacato Padre Brown. Por detrás da simplicidade desses livros havia a exposição da filosofia do autor. Chesterton polemizava com coragem, ele era anti-capitalista e anti-comunista, abominava Freud e as seitas religiosas, entrava em atrito com Shaw e Russell, não gostava de toda filosofia materialista.
Este livro traz textos publicados na imprensa, de 1905 até 1935. Alguns depois fizeram parte de um programa de rádio que ele tinha na BBC. As ideias defendidas neste livro são excitantes e provocadoras. O que as prejudica é o fato de terem sido pensadas para a imprensa; suas teses mereciam um muito maior desenvolvimento.
A escrita funciona porque os temas são sempre muito graves, mas o estilo é sempre bem humorado. Exatamente o contrário do que se faz hoje na imprensa, onde se escreve banalidade com enorme seriedade. ( E no cinema também. Histórias idiotas tratadas com rigor de um recém formado ).
Mas de onde vem a ideia de Chesterton de que a modernidade fracassou? É muito simples, aliás, a tese que ele sempre defende é a de que tudo é sempre óbvio, os só-cabeça é que pensam sem parar, jamais descansam e acabam por pensar demais e por pensar mal. A modernidade produz em sua maioria, poemas e romances sem esperança, sem sentido, sem porque e sem utilidade. Isso tudo ainda poderia ser redimido se fosse belo, mas além de tudo há a descrença na beleza. A coisa é lógica, um mundo e uma época que produz tanta desilusão é consequentemente uma idade de profunda tristeza. Para saber qual o nivel de felicidade de um povo basta olhar o que esse povo escreve, canta e pinta. A arte moderna oscila entre o desespero, a tristeza e a ansiedade histérica.
Autores felizes como Dickens, Thackeray ou poetas como Shelley e Holderlin seriam silenciados na modernidade. Chesterton, cristão radical que é, diz que a era mais feliz da humanidade foi aquela que os materialistas mais abominam: a idade média. Por ter sido uma época em que o dinheiro ainda valia pouco, a produção ainda era de quem produzia e onde a carne e o espírito ainda conviviam em razoável harmonia.
Há um texto em que ele fala de algo que me deu o que pensar. Falando sobre Darwin, ele diz que o darwinismo deveria se restringir só àquilo que é de sua competência, a biologia. Se Darwin vira filosofia aplicável a tudo, se o evolucionismo pode explicar tudo ( e é o que acontece hoje, em 2012 ), então a ética e a moral serão jogadas no lixo. Todo ato imoral e não-ético poderá ser desculpado como degrau evolutivo. O ladrão esperto de hoje pode ser o próximo passo da evolução. O mais forte e o mais bonito serão a ponta da evolução. Valores humanos e não biológicos, como moral, ética e arte serão negligenciados. Ou pior, entrarão na falsa lógica evolucionista.
Na estrada da simplicidade, Chesterton fala das crianças e das mulheres. Mulheres e crianças sendo vistas pela sociedade masculina como seres pouco racionais, emotivos, intuitivos. Chesterton pergunta então, e porque crianças, mulheres e os pobres também, seriam os errados? Quem disse que a intuição feminina ou o mundo cheio de sentido das crianças é o "mundo falso"? A mulher como o humano que está totalmente ligado a natureza, dona do dom da vida, da alimentação, ligada a ciclos, a marés, a sonhos. E a criança, supersticiosa, que crê em magia, em azar, em sinais, em lugares sagrados e secretos. Os pobres, que vivem na simplicidade da conta exata, sabendo tirar muito do quase nada. Porque eles estão errados? Porque são vistos como fracassos, como tolos ou como fracos?
Inspírados textos de Gilbert Keith Chesterton, que fala da divisão da vida moderna, vida que divide tudo em fragmentos, que desfaz casamentos eternos, que separa aquilo que separado perde todo o sentido.
Num café da Espanha ele assiste a um casal e seu filho. O pai, que olha a criança com adoração, dá um gole de sua cerveja ao menino. A mãe ri, e dá outro gole ao filho também. O garoto então se senta no colo do pai e brinca com seu bigode. Lá não existe um Édipo que possa os fragmentar, não existe uma tolice americana que dite algo contra o álcool dado a crianças. O mundo moderno não vive ali, aquela familia é antiga como a vida, bela como o mundo, perfeita como o amor.
É esse o universo que Chesterton defende. É esse o único mundo onde a felicidade pode existir. Todo o resto é brinquedo de cabeças sem descanso.
Chesterton tornou-se mania na Inglaterra de cem anos atrás com seus livros policiais em que o "herói" era o pacato Padre Brown. Por detrás da simplicidade desses livros havia a exposição da filosofia do autor. Chesterton polemizava com coragem, ele era anti-capitalista e anti-comunista, abominava Freud e as seitas religiosas, entrava em atrito com Shaw e Russell, não gostava de toda filosofia materialista.
Este livro traz textos publicados na imprensa, de 1905 até 1935. Alguns depois fizeram parte de um programa de rádio que ele tinha na BBC. As ideias defendidas neste livro são excitantes e provocadoras. O que as prejudica é o fato de terem sido pensadas para a imprensa; suas teses mereciam um muito maior desenvolvimento.
A escrita funciona porque os temas são sempre muito graves, mas o estilo é sempre bem humorado. Exatamente o contrário do que se faz hoje na imprensa, onde se escreve banalidade com enorme seriedade. ( E no cinema também. Histórias idiotas tratadas com rigor de um recém formado ).
Mas de onde vem a ideia de Chesterton de que a modernidade fracassou? É muito simples, aliás, a tese que ele sempre defende é a de que tudo é sempre óbvio, os só-cabeça é que pensam sem parar, jamais descansam e acabam por pensar demais e por pensar mal. A modernidade produz em sua maioria, poemas e romances sem esperança, sem sentido, sem porque e sem utilidade. Isso tudo ainda poderia ser redimido se fosse belo, mas além de tudo há a descrença na beleza. A coisa é lógica, um mundo e uma época que produz tanta desilusão é consequentemente uma idade de profunda tristeza. Para saber qual o nivel de felicidade de um povo basta olhar o que esse povo escreve, canta e pinta. A arte moderna oscila entre o desespero, a tristeza e a ansiedade histérica.
Autores felizes como Dickens, Thackeray ou poetas como Shelley e Holderlin seriam silenciados na modernidade. Chesterton, cristão radical que é, diz que a era mais feliz da humanidade foi aquela que os materialistas mais abominam: a idade média. Por ter sido uma época em que o dinheiro ainda valia pouco, a produção ainda era de quem produzia e onde a carne e o espírito ainda conviviam em razoável harmonia.
Há um texto em que ele fala de algo que me deu o que pensar. Falando sobre Darwin, ele diz que o darwinismo deveria se restringir só àquilo que é de sua competência, a biologia. Se Darwin vira filosofia aplicável a tudo, se o evolucionismo pode explicar tudo ( e é o que acontece hoje, em 2012 ), então a ética e a moral serão jogadas no lixo. Todo ato imoral e não-ético poderá ser desculpado como degrau evolutivo. O ladrão esperto de hoje pode ser o próximo passo da evolução. O mais forte e o mais bonito serão a ponta da evolução. Valores humanos e não biológicos, como moral, ética e arte serão negligenciados. Ou pior, entrarão na falsa lógica evolucionista.
Na estrada da simplicidade, Chesterton fala das crianças e das mulheres. Mulheres e crianças sendo vistas pela sociedade masculina como seres pouco racionais, emotivos, intuitivos. Chesterton pergunta então, e porque crianças, mulheres e os pobres também, seriam os errados? Quem disse que a intuição feminina ou o mundo cheio de sentido das crianças é o "mundo falso"? A mulher como o humano que está totalmente ligado a natureza, dona do dom da vida, da alimentação, ligada a ciclos, a marés, a sonhos. E a criança, supersticiosa, que crê em magia, em azar, em sinais, em lugares sagrados e secretos. Os pobres, que vivem na simplicidade da conta exata, sabendo tirar muito do quase nada. Porque eles estão errados? Porque são vistos como fracassos, como tolos ou como fracos?
Inspírados textos de Gilbert Keith Chesterton, que fala da divisão da vida moderna, vida que divide tudo em fragmentos, que desfaz casamentos eternos, que separa aquilo que separado perde todo o sentido.
Num café da Espanha ele assiste a um casal e seu filho. O pai, que olha a criança com adoração, dá um gole de sua cerveja ao menino. A mãe ri, e dá outro gole ao filho também. O garoto então se senta no colo do pai e brinca com seu bigode. Lá não existe um Édipo que possa os fragmentar, não existe uma tolice americana que dite algo contra o álcool dado a crianças. O mundo moderno não vive ali, aquela familia é antiga como a vida, bela como o mundo, perfeita como o amor.
É esse o universo que Chesterton defende. É esse o único mundo onde a felicidade pode existir. Todo o resto é brinquedo de cabeças sem descanso.