Isto deveria ser lido após o texto daí de baixo: Yves de La Taille.
Se o mundo de hoje é constituído em sua quase totalidade de "turistas", e como sabemos, com certeza, que todo turista tem pressa, não quer perder tempo ( para poder se "divertir" ), então onde ele quer chegar?
É provável que ele saiba, mais do que qualquer pessoa comum em qualquer outro tempo, que o que o aguarda no fim de tanta pressa e de tantas realizações seja a morte. Nosso tempo tem asco de tudo que signifique antiguidade ou permanência por ter a certeza, sorrateira, de que a morte sempre vence e então tudo se faz inútil, inclusive sua própria vida. Para que se ocupar com "eternidades"? Para que pensar no bom e no bonito?
Essa redução que a morte produz, essa humilhação, faz com que cada momento de reflexão seja momento de horror. Porque? Sim, o homem se diverte incessantemente ( ou tenta ), para se distrair do vazio, do nada, da futilidade da vida. Mas porque a vida se fez esse vazio sem sentido?
A fixação no objetivo fez com que o percurso fosse visto como um empecilho. Tudo então passa a ser um tipo de inimigo. A montanha que obstrui o trem, a chuva que alaga a estrada, a mata que traz doenças, o próprio tempo que passa devagar demais. Na ânsia pelo objetivo o homem se torna um inimigo do tempo e da fruição natural desse tempo. Nessa forma de vida é IMPOSSÍVEL a comunhão com o tempo e com o lugar. O meio deve ser destruído e o tempo acelerado: diversão.
O momento vazio, que seria a hora do ócio, passa a ser a hora do tédio. E tudo se torna cada vez mais entediante. E para fugir desse tédio vale tudo.
O peregrino não sente tédio. Ele pode sentir tristeza, cansaço, melancolia, mas inexiste o tédio. Isso porque ele olha as coisas como coisas INTERESSANTES. No momento do vazio ele vê a chance de apreciar, de olhar e de compreender o que o cerca. Ele sente gosto pela hora que não passa e se encanta com a paisagem vista outra e outra vez. Ainda possui o ócio. Sabe da morte, mas entende que ela faz parte da peregrinação e não a percebe como fim. Para o peregrino o valor maior não é o prazer efêmero da diversão. Ele valoriza sobretudo aquilo que tem narratividade, que conta uma história, que ensina e que dá sentido. Coisas que são "para sempre".
Roger Cohen, no Times de ontem, fala da covardia das novas gerações. Num texto que será visto por quem tem 15 anos como ressentido, ele conta que dá graças pela sorte de ter nascido quando nasceu. Após as guerras e antes do fim do Ocidente ( que é o que acontece agora baby ). A geração dele descobriu a liberdade, que tinha gosto de coisa nova. Era uma geração cheia de dinheiro e com a confiança em valores como cultura e crescimento ainda intactas.
Roger Cohen exclui de suas considerações o Brasil, a India e a China. Ele diz que nesses países ainda há alguma coragem. Mas o que faz Cohen escrever tal texto?
Um fato que tem passado despercebido. Gregos, espanhóis, irlandeses sequer tentam sair de onde estão. Eles reclamam, choram, balbuciam, mas não têm a necessária coragem para correr o risco de imigrar. Se seus avôs correram o risco de procurar o futuro na América, na Austrália ou na África, esses jovens medrosos não conseguem sair da letargia e nem à Ucrânia ou Noruega têm ânimo de ir. Vão como turistas, mas jamais ambicionam uma nova vida.
É uma geração incapaz de abrir mão da segurança.
Roger Cohen ainda fala do tal mundo mais aberto. Fala-se muito que o mundo está mais aberto, sem fronteiras.
Quando Roger tinha 17 anos ele e 4 amigos foram de carro da Inglaterra até Cabul. Cruzaram pela Turquia, Irã e Afeganistão. Neste mundo aberto, isso é possível? ( Aliás isso me lembra que eu andava de carona por SP. Ir à Ubatuba de carona, é possível ? ).
Os jovens postam mensagens de protesto sentados em poltronas macias. E acham que isso é participar. Será?
Me parece que esse texto é um belo complemento ao texto do turista e do peregrino.
Se o mundo de hoje é constituído em sua quase totalidade de "turistas", e como sabemos, com certeza, que todo turista tem pressa, não quer perder tempo ( para poder se "divertir" ), então onde ele quer chegar?
É provável que ele saiba, mais do que qualquer pessoa comum em qualquer outro tempo, que o que o aguarda no fim de tanta pressa e de tantas realizações seja a morte. Nosso tempo tem asco de tudo que signifique antiguidade ou permanência por ter a certeza, sorrateira, de que a morte sempre vence e então tudo se faz inútil, inclusive sua própria vida. Para que se ocupar com "eternidades"? Para que pensar no bom e no bonito?
Essa redução que a morte produz, essa humilhação, faz com que cada momento de reflexão seja momento de horror. Porque? Sim, o homem se diverte incessantemente ( ou tenta ), para se distrair do vazio, do nada, da futilidade da vida. Mas porque a vida se fez esse vazio sem sentido?
A fixação no objetivo fez com que o percurso fosse visto como um empecilho. Tudo então passa a ser um tipo de inimigo. A montanha que obstrui o trem, a chuva que alaga a estrada, a mata que traz doenças, o próprio tempo que passa devagar demais. Na ânsia pelo objetivo o homem se torna um inimigo do tempo e da fruição natural desse tempo. Nessa forma de vida é IMPOSSÍVEL a comunhão com o tempo e com o lugar. O meio deve ser destruído e o tempo acelerado: diversão.
O momento vazio, que seria a hora do ócio, passa a ser a hora do tédio. E tudo se torna cada vez mais entediante. E para fugir desse tédio vale tudo.
O peregrino não sente tédio. Ele pode sentir tristeza, cansaço, melancolia, mas inexiste o tédio. Isso porque ele olha as coisas como coisas INTERESSANTES. No momento do vazio ele vê a chance de apreciar, de olhar e de compreender o que o cerca. Ele sente gosto pela hora que não passa e se encanta com a paisagem vista outra e outra vez. Ainda possui o ócio. Sabe da morte, mas entende que ela faz parte da peregrinação e não a percebe como fim. Para o peregrino o valor maior não é o prazer efêmero da diversão. Ele valoriza sobretudo aquilo que tem narratividade, que conta uma história, que ensina e que dá sentido. Coisas que são "para sempre".
Roger Cohen, no Times de ontem, fala da covardia das novas gerações. Num texto que será visto por quem tem 15 anos como ressentido, ele conta que dá graças pela sorte de ter nascido quando nasceu. Após as guerras e antes do fim do Ocidente ( que é o que acontece agora baby ). A geração dele descobriu a liberdade, que tinha gosto de coisa nova. Era uma geração cheia de dinheiro e com a confiança em valores como cultura e crescimento ainda intactas.
Roger Cohen exclui de suas considerações o Brasil, a India e a China. Ele diz que nesses países ainda há alguma coragem. Mas o que faz Cohen escrever tal texto?
Um fato que tem passado despercebido. Gregos, espanhóis, irlandeses sequer tentam sair de onde estão. Eles reclamam, choram, balbuciam, mas não têm a necessária coragem para correr o risco de imigrar. Se seus avôs correram o risco de procurar o futuro na América, na Austrália ou na África, esses jovens medrosos não conseguem sair da letargia e nem à Ucrânia ou Noruega têm ânimo de ir. Vão como turistas, mas jamais ambicionam uma nova vida.
É uma geração incapaz de abrir mão da segurança.
Roger Cohen ainda fala do tal mundo mais aberto. Fala-se muito que o mundo está mais aberto, sem fronteiras.
Quando Roger tinha 17 anos ele e 4 amigos foram de carro da Inglaterra até Cabul. Cruzaram pela Turquia, Irã e Afeganistão. Neste mundo aberto, isso é possível? ( Aliás isso me lembra que eu andava de carona por SP. Ir à Ubatuba de carona, é possível ? ).
Os jovens postam mensagens de protesto sentados em poltronas macias. E acham que isso é participar. Será?
Me parece que esse texto é um belo complemento ao texto do turista e do peregrino.