Deve ter sido terrível para Freud ter de encarar a independência de Jung. E perceber que o jovem suiço não entendia seu medo, ou pior, zombava dele. Vejamos, Jung jamais entendeu o porque de Freud ansiar tanto em ser aceito. O vienense rompia tabus, mas de forma incompreensível para Carl Gustav Jung, desejava ansiosamente ser aceito como "cientista sério e responsável". Porque? O que Jung não compreendia, e nem poderia, é que Freud vinha do gueto, sabia o que era não fazer parte, ser olhado com desdém. Jung por outro lado, podia ousar sem medo, pois seu meio era a elite européia, ele jamais seria isolado em gueto. Mas havia algo de mais doloroso ainda.
Todos os relatos, inclusive Peter Gay, dizem que Jung era muito atraente. Alto, bonito, corpo de esportista, sempre rindo e brincando, as mulheres choviam aos pés de Jung. Ele era assediado. Há uma piadinha, que conheci através de Paulo Francis, que fala que Freud achava intolerável o sexo entre analista e paciente pelo fato de que nenhuma paciente iria querer dar para ele. Então era melhor proibir. Baixinho, sempre de cara amarrada e muito feio, Freud nada tinha de erótico e seus contatos com mulheres eram sempre marcados pela ansiedade. É impossível não se imaginar que Freud invejava Jung. E que Jung se ressentia da seriedade "messiânica" de Sigmund. O vienense havia criado algo novo, Jung seria sempre um discipulo, por mais que criasse e ousasse. Um filho, nunca pai.
Qual dos dois está certo? Fazer essa pergunta já é um erro. Nenhum deles pode estar certo e com certeza ambos sabiam ter errado. Toda a teoria de Freud será sempre isso, apenas uma teoria. E para ele, esse é seu grande fiasco.
O mundo arriscado e libertário de 1955/1975 colocou Jung nas alturas. Ele passou a vender de tudo. Astrólogos se diziam junguianos, drogados tentavam atingir o self de que Jung falava. É óbvio que ninguém entendeu nada. E nisso Freud tem uma vantagem grande, suas teorias são bem mais simples, não requerem grandes vôos de erudição e experiência pessoal. Jung exige muito de quem busca o entender. E nessa busca existem centenas de armadilhas.
Hoje o mundo está confortávelmente refestelado num divã freudiano. Sem ter culpa alguma nisso, ele é usado como um tipo de tiozão sisudo que nos livra das grandes questões que fazem a vida valer a pena. Assim como em 1968 os malucos gostavam de achar que Jung dizia que tudo valia para ser voce mesmo, os reprimidos de agora gostam de pensar que Freud é um tipo de garantia contra a doideira. Um filme pop-hollywoodiano jamais poderia tomar o partido de Jung, para ser de Jung ele teria de ser um filme sem enredo e sem direção. Dessa forma o que temos é Jung visto pelos olhos repressores e invejosos de seu ex-mentor. Mentor que nunca admitiu a independência de um discípulo. Jung deveria ser seu testa de ferro gentio, e tão somente isso. Admitir que além de mais "feliz", ele fosse dono de ideias próprias, foi a mágoa de sua vida.
Aliás há um pensamento que ocorre a quem assiste o filme com olhos livres: se Jung estudou e entendeu tudo em Freud, Sigmund não entendeu uma só linha de Jung. Preso ao dogma e a vaidade, Freud jamais reviu suas ideias. Passou a ser um propagandista de si-mesmo, um cada vez mais solitário messias.
E enquanto isso Jung partia em viagem rumo ao absoluto risco. Pouco se lixando para a aceitação da ciência, para as opiniões de honrados doutores, com um unico objetivo: entender a vida, o que ela é e o que ela pode ser. Fracassou. Mas ao menos deixou escrita a aceitação de seu fracasso. Aprendemos com suas tentativas, com sua insaciável curiosidade, nunca com suas conclusões.
Entender a relação dos dois passa por entender a dualidade da vida e do ser: eros e thanatos, sol e lua, macho e fêmea, carne e alma. Não podia durar.
Todos os relatos, inclusive Peter Gay, dizem que Jung era muito atraente. Alto, bonito, corpo de esportista, sempre rindo e brincando, as mulheres choviam aos pés de Jung. Ele era assediado. Há uma piadinha, que conheci através de Paulo Francis, que fala que Freud achava intolerável o sexo entre analista e paciente pelo fato de que nenhuma paciente iria querer dar para ele. Então era melhor proibir. Baixinho, sempre de cara amarrada e muito feio, Freud nada tinha de erótico e seus contatos com mulheres eram sempre marcados pela ansiedade. É impossível não se imaginar que Freud invejava Jung. E que Jung se ressentia da seriedade "messiânica" de Sigmund. O vienense havia criado algo novo, Jung seria sempre um discipulo, por mais que criasse e ousasse. Um filho, nunca pai.
Qual dos dois está certo? Fazer essa pergunta já é um erro. Nenhum deles pode estar certo e com certeza ambos sabiam ter errado. Toda a teoria de Freud será sempre isso, apenas uma teoria. E para ele, esse é seu grande fiasco.
O mundo arriscado e libertário de 1955/1975 colocou Jung nas alturas. Ele passou a vender de tudo. Astrólogos se diziam junguianos, drogados tentavam atingir o self de que Jung falava. É óbvio que ninguém entendeu nada. E nisso Freud tem uma vantagem grande, suas teorias são bem mais simples, não requerem grandes vôos de erudição e experiência pessoal. Jung exige muito de quem busca o entender. E nessa busca existem centenas de armadilhas.
Hoje o mundo está confortávelmente refestelado num divã freudiano. Sem ter culpa alguma nisso, ele é usado como um tipo de tiozão sisudo que nos livra das grandes questões que fazem a vida valer a pena. Assim como em 1968 os malucos gostavam de achar que Jung dizia que tudo valia para ser voce mesmo, os reprimidos de agora gostam de pensar que Freud é um tipo de garantia contra a doideira. Um filme pop-hollywoodiano jamais poderia tomar o partido de Jung, para ser de Jung ele teria de ser um filme sem enredo e sem direção. Dessa forma o que temos é Jung visto pelos olhos repressores e invejosos de seu ex-mentor. Mentor que nunca admitiu a independência de um discípulo. Jung deveria ser seu testa de ferro gentio, e tão somente isso. Admitir que além de mais "feliz", ele fosse dono de ideias próprias, foi a mágoa de sua vida.
Aliás há um pensamento que ocorre a quem assiste o filme com olhos livres: se Jung estudou e entendeu tudo em Freud, Sigmund não entendeu uma só linha de Jung. Preso ao dogma e a vaidade, Freud jamais reviu suas ideias. Passou a ser um propagandista de si-mesmo, um cada vez mais solitário messias.
E enquanto isso Jung partia em viagem rumo ao absoluto risco. Pouco se lixando para a aceitação da ciência, para as opiniões de honrados doutores, com um unico objetivo: entender a vida, o que ela é e o que ela pode ser. Fracassou. Mas ao menos deixou escrita a aceitação de seu fracasso. Aprendemos com suas tentativas, com sua insaciável curiosidade, nunca com suas conclusões.
Entender a relação dos dois passa por entender a dualidade da vida e do ser: eros e thanatos, sol e lua, macho e fêmea, carne e alma. Não podia durar.