CHÁ DAS CINCO COM ARISTÓTELES- OSCAR WILDE

   Logo após voltar de seu tour de sucesso pelos EUA ( ele havia feito conferências por todo o país com lotações esgotadas ), Oscar Wilde volta a sua vida londrina habitual, ou seja, publica seus artigos em jornais e revistas. A grande fase de A IMPORTÂNCIA DE SER HONESTO e de DORIAN GRAY viria na década seguinte. Assim como sua prisão.
   Estamos portanto na Londres de 1885/1890 e o que agita a cidade é o embate entre clássicos e românticos, realistas e simbolistas, objetividade e poesia. O que há neste pequeno livrinho são os artigos que Wilde publicou em jornais. Críticas sobre livros e peças, dissertações sobre culinária e poesia. Sabiamente ele percebe que o cerne de seu tempo é a oposição realismo/ simbolismo, um confronto entre a alma que cria e a alma que apenas registra o que vê. Ele toma partido, e acho que não preciso dizer qual.
   Bela época em que os autores "atuais" se chamavam Tolstoi, Dostoievski e Turgueniev. Ele resenha o novo livro de Dostoievski, assim como Balzac ( uma nova tradução ), Walter Pater, e descobre um novo e promissor poeta, William Butler Yeats. Além dos citados, esse é tempo de Tchekov, Henry James, Thomas Hardy, Mark Twain, Mallarmé e Zola. Dentre muitos e muitos outros.
   Wilde evita tocar no que é muito ruim. Embora ele critique certas traduções desastrosas, no geral ele não é agressivo. Se esmera na leveza, em fazer da leitura um prazer. Oscar Wilde insiste em que toda arte deve ser prazerosa e bela. Esse é seu norte. Quem pensa que a crítica ferina é coisa de Wilde errou de irlandês, George Bernard Shaw era a fera que foi o molde Paulo Francis e que tais.
   O primeiro texto é uma emocionada homenagem ao maior dos poetas, John Keats. O autor visita seu tumulo em Roma e se encanta com a beleza do lugar. O belo escrito a seguir discorre sobre a culinária e fala da ruindade da cozinha inglesa. É divertido e acerta o alvo.
   Numa critica a peça de Shakespeare em cartaz, Wilde se detém nos excessos da cenografia, na facilitação de efeitos ribombantes. Há em sua critica um desejo pela volta a simplicidade. No começo do livro o tradutor colocou uma frase de Borges em que ele diz que Oscar Wilde não envelhece. O que ele escreveu podia ter sido escrito hoje de manhã. O que ele pede ao teatro shakespeariano é pedido válido agora: menos efeito e mais texto.
   Vem então um comentário sobre um livro que fala de casamentos e mais uma critica sobre Keats.
   Um dos melhores textos é o próximo, sobre Balzac. Wilde fala sobre a maravilhosa força do francês, o modo como ele nos ilude ao criar vida que em nada se parece com a vida, mas que "é mais real que a própria vida". Penso em Iris Murdoch, que criou toda a sua filosofia baseada nessa linha, ou seja, de que a arte é a vida real e não o dia a dia. Numa frase soberba, Oscar fala que é "muito melhor ficar em casa na companhia dos personagens de Balzac que sair para encontrar gente tão sem vida". É um texto divino do grande Oscar.
   As críticas que seguem são sobre a mania de se lançar biografias de escritores. A reclamação de Wilde é pertinente ainda hoje. Que importa quantas vezes Rossetti comia por dia? O que interessa ao leitor a quantidade de cães que um poeta tinha ou no tipo de guarda-chuva que ele usava? Wilde fala que o que importa é a obra, a vida verdadeira do artista reside naquilo que ele criou e o fato do cotidiano só importa ao ter ligação com a gênese da obra. Quem pode discordar disso?
   Essas biografias, tolas, falam de Keats, Ben Jonson e Dante Gabriel Rossetti. A de Keats é destruída de uma forma elegante por Wilde. Vale muito a pena ler.
   Mas um dos melhores textos fala de um livro que se propõe a nos ensinar a conversar. Wilde aproveita para escrever sobre a conversação, sobre o que seja uma boa e uma má conversa. A arte que há em se saber trocar ideias.
   Vêem então belos artigos sobre modelos ingleses ( modelos que posam sem entender nada de arte ), o novo presidente da academia de pintura ( um tolo ), e ao final dois maravilhosos e emocionantes artigos sobre Yeats, jovem poeta que muito prometia. Escreverei sobre eles em outra postagem.
   Lendo este livro nos sentimos muito próximos de Wilde. E o que sentimos é afeto por essa grande alma.
   PS: a "filosofia" de Wilde é; Existe mais verdade na visão de um artista que na objetiva e simples observação da natureza.