Lewis Carroll, James Barrie e Edward Lear. Na Inglaterra vitoriana homens solteiros contavam histórias para crianças, que depois viravam livros. Seriam pedófilos? No caso de Carroll é provável, mas tudo leva a crer que Alice o seduziu. Barrie, a se crer no filme, era apaixonado pela mãe das crianças. Mas aquilo me pareceu moralismo da Hollywood de hoje ( pedofilia é dos últimos tabús vivos ). Quanto a Edward Lear, ele é o que está mais distante desse perigo. Tudo leva a crer que ele foi um excêntrico. E a excêntricidade é a marca de uma sociedade repressora.
Fazem mais de 100 anos que o livro de Lear está em catálogo na Inglaterra. É um hit, um clássico, sempre lido e relido. Fora das ilhas ele é mal conhecido. Isso porque se trata de trabalho intraduzível. Mais que isso, tem o humor que os ilhéus mais amam: nonsense. E nonsense, assim como o Monty Python mostrou, é um segredo. Ou voce adora ou odeia.
Nonsense não é sentido oculto. Não é simbolismo. Isso é coisa de francês. Nonsense é a total falta de sentido. Aquilo que parece querer dizer nada, realmente não tem significado nenhum. Se tiver sentido não será nonsense. Uma sociedade cheia de regras ridiculas e "sem sentido" criou o nonsense. O Brasil também é cheio de coisas sem sentido, mas nós jamais as seguimos, nunca as levamos a sério, elas nunca funcionaram. O sem sentido da sociedade inglesa é a tradição seguida com fé, a convicção total que é posta em cheque. A vida vista em seu ridiculo, em seu grotesco. Nasce o nonsense como modo de espelhar o que é real.
Putz... voce sabe, tudo o que escrevi acima não faz qualquer sentido. Explicar o nonsense é um nonsense.
Edward Lear era pintor. E músico. Ganhava a vida como desenhista. Viajava o mundo desenhando bichos. Fazia livros com seus desenhos e assim foi famoso. Hospedado na casa de um amigo nobre, saía a passeio com as crianças. Nos bosques contava histórias para elas. Eram poemetes sem sentido nenhum. Ele brincava com as palavras e criava imagens sem razão alguma a não ser a brincadeira. Os filhos do nobre o adoravam. Lear acabou por permitir que fossem publicadas acompanhadas por desenhos seus. Um sucesso que dura mais de cem anos.
Edward Lear continuou a viajar e a desenhar. E morreu velho. Foi feliz.
A tradução de Marcos Maffei não é boa. Felizmente a edição é bilingue. Leia em inglês, o texto é simples. São sempre cinco versos, rimados, que começam invariavelmente com There Was...
E então voce lê sobre um homem de nariz longo onde pousavam pássaros, trens lerdos, vulcões e velhos, aranhas e orientais.
Lendo-os eu não ri. Não achei bonito ou especialmente engenhoso. Mas eles, se lidos em sua totalidade, em voz alta de preferência, causam um efeito estranho. Sua mente se solta então, dança, e as palavras começam a ser vistas como brinquedos, possibilidades sem fim.
Edward Lear conseguiu escrever como uma criança sem parecer infantil. Arte dificil. Dom natural. Very english, very peculiar, sem fim.
Fazem mais de 100 anos que o livro de Lear está em catálogo na Inglaterra. É um hit, um clássico, sempre lido e relido. Fora das ilhas ele é mal conhecido. Isso porque se trata de trabalho intraduzível. Mais que isso, tem o humor que os ilhéus mais amam: nonsense. E nonsense, assim como o Monty Python mostrou, é um segredo. Ou voce adora ou odeia.
Nonsense não é sentido oculto. Não é simbolismo. Isso é coisa de francês. Nonsense é a total falta de sentido. Aquilo que parece querer dizer nada, realmente não tem significado nenhum. Se tiver sentido não será nonsense. Uma sociedade cheia de regras ridiculas e "sem sentido" criou o nonsense. O Brasil também é cheio de coisas sem sentido, mas nós jamais as seguimos, nunca as levamos a sério, elas nunca funcionaram. O sem sentido da sociedade inglesa é a tradição seguida com fé, a convicção total que é posta em cheque. A vida vista em seu ridiculo, em seu grotesco. Nasce o nonsense como modo de espelhar o que é real.
Putz... voce sabe, tudo o que escrevi acima não faz qualquer sentido. Explicar o nonsense é um nonsense.
Edward Lear era pintor. E músico. Ganhava a vida como desenhista. Viajava o mundo desenhando bichos. Fazia livros com seus desenhos e assim foi famoso. Hospedado na casa de um amigo nobre, saía a passeio com as crianças. Nos bosques contava histórias para elas. Eram poemetes sem sentido nenhum. Ele brincava com as palavras e criava imagens sem razão alguma a não ser a brincadeira. Os filhos do nobre o adoravam. Lear acabou por permitir que fossem publicadas acompanhadas por desenhos seus. Um sucesso que dura mais de cem anos.
Edward Lear continuou a viajar e a desenhar. E morreu velho. Foi feliz.
A tradução de Marcos Maffei não é boa. Felizmente a edição é bilingue. Leia em inglês, o texto é simples. São sempre cinco versos, rimados, que começam invariavelmente com There Was...
E então voce lê sobre um homem de nariz longo onde pousavam pássaros, trens lerdos, vulcões e velhos, aranhas e orientais.
Lendo-os eu não ri. Não achei bonito ou especialmente engenhoso. Mas eles, se lidos em sua totalidade, em voz alta de preferência, causam um efeito estranho. Sua mente se solta então, dança, e as palavras começam a ser vistas como brinquedos, possibilidades sem fim.
Edward Lear conseguiu escrever como uma criança sem parecer infantil. Arte dificil. Dom natural. Very english, very peculiar, sem fim.