VIDA

   O que mais temos para aprender com a Europa? Entenda, eu amo a cultura européia, mas o que posso ver de realmente novo nos gregos, latinos ou celtas? O que me revolucionará no romantismo, existencialismo ou na psicanálise? Nada, absolutamente nada. Amar a Europa como eu amo é amar uma rememoração eterna. É amar o já conhecido. Museu.
   Quantas civilizações foram apagadas antes de as conhecermos? Quantas lendas e histórias eu poderia ter escutado? Uma visão original de mundo extinta. Modos de explicar a vida que me foram roubados.
   Secamos aos poucos, morremos em repetição sem fim. Uma visão de vida em um único mundo homogêneo. Uma resposta para cada única pergunta. Um ditatorial modo de vida. E mais nada.
   Cada tribo aborigene que se vai é uma liberdade de viver a menos que se nos dispõe. O planeta que sempre foi uma sopa de vidas se faz um bloco de concreto puro. O que aprender de Nietzsche ou de Platão? A vida ansia por conhecer o que é diferente. Onde? Se aquela gente que tinha uma original história sobre a criação se foi para sempre?
   Chegará um tempo em que a única verdade repousará no MIT. E em que não mais saberemos o que seja a palavra liberdade. Livre será um cara sobre uma bike numa ciclovia em meio a cidade. Acharemos que isso é ser livre. E em que os únicos bichos conhecidos serão os de fazenda e os pets. Pensaremos que um cão de rua é livre. Tudo no mundo será humanizado e então, sem ver mais deiferença em nada, teremos chegado a solidão absoluta. A solidão de quem vê espelhos em tudo. Máquinas e bichos "humanos" e gente que pensa e faz tudo como todos fazem.
   Eu quero saber de gente que vem de onde eu não vim. E que pensa completamente diferente de quem eu conheço. Outra história, outra crença e outras verdades. Opções de liberdade.
   Não quero que a ciência reviva o Tigre da Tasmânia. Se o fizer, ele será apenas um ser da ciência a ser usado pela ciência. Este mundo não é mais o dele e não o merece. O que eu quero é que a vida seja amada. A vida em toda sua crueza e complexidade. Respeitada amplamente.
    Temos tudo a aprender com um macaco, um peixe ou um velho indio.
    Um professor da Sorbonne não nos salvará.