EUGÊNIO ONEGUIN- ALEXANDR PUSHKIN ( O MAIS AMADO AUTOR RUSSO )

   Muito mais que Tolstoi, Dostoievski ou Tchekov, russos amam Pushkin. Eugênio Oneguin está para a literatura de lá como o Quixote para a Espanha ou Brás Cubas para o Brasil. É um centro, retrato de alma nacional. Dario Moreira de Castro Alves, tradutor do livro, diz que na Russia, taxistas, professores ou policiais, todos sabem trechos de Eugênio Oneguin na ponta da lingua.
   Pushkin é pouco traduzido. Esta tradução, de 2010, é a primeira para o português de sua obra-prima. Foi saudada com os louvores devidos. Dario foi diplomata. Aposentado, dedica-se a seu grande amor: as letras. Tem trabalhos sobre Eça e Camilo. E esta tradução trabalhosa. Trata-se de um romance em versos. É um romance por descrever ações, por conter personagens que agem no tempo; e é um poema, por ser todo escrito em versos de oito linhas, rimados.
   Pushkin é dos mais românticos dentre os românticos. Seu bisavô foi um negro etíope. Dado de presente a um nobre russo, esse antepassado foi educado e feito militar. O pai de Pushkin é neto desse etíope.
   Há um dito russo que fala que o czar Pedro lançou à Russia o desafio de se fazer moderna. E a Russia respondeu com Pushkin, o primeiro russo moderno. Nascido em 1799, é o poeta um homem da Europa. Cheio de ideais do romantismo, cheio de ansia por viver, e tombado pelo tédio/spleen. Mas ao mesmo tempo é Pushkin um russo. Para vencer esse nada, esse vazio existencial, ele mergulha nas raízes russas, no povo, no folclore, na alma única de seu país. Mais que europeu, um russo sempre.
   Viveu apenas 38 anos, foi morto em duelo. Deixou vários romances puros, sem verso, e este Eugênio.
    Eugênio é um nobre que descobre que a vida lhe é estranha. Tomado pelo tédio, ele ama as mulheres sem se envolver e acaba por tomar a decisão de se recolher. Irá viver só, estudando e observando. Tatiana é uma adolescente simples, mas jamais simplória, que se apaixona por ele. Lhe escreve carta onde se declara e ele lhe responde pessoalmente com frieza. Eugênio lhe explica que com alguém como ele, tão amargo, ela só poderá ser infeliz. Que ele não nasceu para casar-se. O tempo irá passar e ele se verá apaixonado por ela. Mas Tatiana já se casou então, e irá o rejeitar. A vida de Eugênio se resolverá em duelo.
   Como personagem Eugênio Oneguin é apaixonante. Imerso em Byron e Scott, tudo o que ele percebe da vida é sua própria face. Ele pensa apenas em si-mesmo, dialoga com seu coração, preocupa-se com sua vida. Mas não é um egoísta. Na verdade ele abre mão de tudo. Nada retém de seu, nada deseja, e acaba por se derrotar. Pior que isso, o livro mostra que Eugênio é um homem indesejado na sociedade russa. Seus questionamentos perturbam.
   Maravilhosamente romântico, todo o texto exala sensibilidade, consciência temporal, e aquela raiva contida, tão particular aos românticos de todos os tempos. Eugênio ama tanto ao amor que é incapaz de amar uma mulher. É tão ligado à vida que se abstém de viver. Livre, se prende ao seu mundo criado. É belo. É Pushkin.