O crítico do Estadão, LC Merten, excelente, publicou uma bela análise sobre O Artista. Elogiosa, diz que o filme levou 12 anos para ser iniciado, que ninguém queria produzir. Fico sabendo que Robert de Niro é fã do filme ( agradeceu em Cannes pelo prazer que lhe foi dado ), e que Jean Dujardim é desde muito uma estrela na França ( o que atesta nosso desconhecimento sobre o país do filme ).
Mas o mais interessante é que Merten faz um paralelo entre o momento que o filme mostra, a mudança do cinema silencioso para o sonoro, e o momento atual.
O cinema sonoro encerrou a época aventurosa do cinema. Produtores improvisadores, diretores cowboys e atores "deuses" desaparecem. Estúdios vão a falência, astros se tornam desconhecidos e o público muda. Ao mesmo tempo, críticos e a maioria dos envolvidos desaprovava o cinema sonoro. O público logo se apaixonou por filmes falados, mas diretores e produtores pensavam ser aquilo um tipo de vulgarização do meio. Merten diz que hoje vivemos um momento idêntico. É o fim da película, o que faz com que a fotografia não seja mais tão preciosa; o fim das grandes companhias, que torna toda produção muito mais arriscada ( a Paramount por exemplo, ao produzir setenta filmes podia se dar ao luxo de arriscar em dez, ganhava no atacado. Hoje a produção tem de lucrar em 100%, cada filme é como se fosse o primeiro ). Mas a maior mudança é a digital. O futuro se apresenta com a não-necessidade do trabalho de centenas de técnicos ( figurinistas, carpinteiros, iluminadores, sonoplastas ) e mais que isso ( e já falei isso aqui ), o cinema tende a não mais precisar de atores ( o que seria o sonho de Hitchcock ).
Ninguém mais vai ao cinema só para ver "um filme de Jim Carrey ou de Brad Pitt". Eles têm muitos fãs, mas sózinhos não garantem um sucesso. Precisam de história, produção e principalmente de divulgação. Antes qualquer lixo de John Wayne ou Gary Cooper tinha a garantia de lucro, pois já faz tempo que não há um ator que garanta seguramente o sucesso de um filme. Quem precisa deles? TinTin anuncia o futuro.
Não demorará dez anos para que clones de Bogart ou de Steve McQueen sejam usados. Veremos um sonho realisado: Audrey Hepburn contracenando com Cary Grant mais uma vez. Atores que não serão vistos farão movimentos imitativos de Bogey ou de Marlon Brando e digitalmente as feições do "personagem" James Dean ou Bette Davis serão inseridas sobre os modelos. Bonito e simples assim.
Vamos mais longe: festivais de cinema, Oscar, não têm mais respeitabilidade. Perderam a décadas seu caráter de "Nobel". Apelativos, se fazem show de TV por saber de sua leviandade. Perderam a realeza no momento em que sua nobreza morreu ( o Oscar era sagrado porque era a única chance de vermos James Stewart ou Akira Kurosawa ao vivo. Hoje vemos na festa atores desconhecidos e estrelas cada vez mais raras e banais ).
O Artista nos recorda então da outra grande mudança, que também parecia temporária, mas que se mostrou definitiva. Já existem pessoas que não se interessam mais por filmes normais, e isso será regra. Pessoas que não suportam takes com menos de dez cortes, cãmera parada ou cenários reais. Gente que está pouco se lixando para os atores ou a fotografia do filme. Que só procuram aquilo que lhes recorda o mundo onde vivem: o mundo digital. O filme deve se parecer com imagens de câmara de celular, video-game e internet. Histórias fracionadas, sem grandes pausas, frenéticas e não-sutis. Adrenalina eterna e em doses cada vez maiores. Cavalo de Guerra é um filme anti-novo mundo. A Arvore da Vida já vive dentro desse novo universo. É o tipo de ousadia que ainda será possível. Uma salada pseudo-filosófica cheia de imagens digitais. A pausada narração de Spielberg jamais encontrará público.
O medo desse novo mundo faz com que a nostalgia de O Artista seja desejável. Quem vive do cinema, ou ama os filmes se sentirá grato ao filme francês. Mas todos sabemos que a arte que nos deu narrações poderosas como aquelas de Kurosawa, Ford ou Wyler está morta e enterrada. O que nos resta é torcer por mais Wall E e por menos Matrix e Spirit.
Felizmente existem os DVDs...
Mas o mais interessante é que Merten faz um paralelo entre o momento que o filme mostra, a mudança do cinema silencioso para o sonoro, e o momento atual.
O cinema sonoro encerrou a época aventurosa do cinema. Produtores improvisadores, diretores cowboys e atores "deuses" desaparecem. Estúdios vão a falência, astros se tornam desconhecidos e o público muda. Ao mesmo tempo, críticos e a maioria dos envolvidos desaprovava o cinema sonoro. O público logo se apaixonou por filmes falados, mas diretores e produtores pensavam ser aquilo um tipo de vulgarização do meio. Merten diz que hoje vivemos um momento idêntico. É o fim da película, o que faz com que a fotografia não seja mais tão preciosa; o fim das grandes companhias, que torna toda produção muito mais arriscada ( a Paramount por exemplo, ao produzir setenta filmes podia se dar ao luxo de arriscar em dez, ganhava no atacado. Hoje a produção tem de lucrar em 100%, cada filme é como se fosse o primeiro ). Mas a maior mudança é a digital. O futuro se apresenta com a não-necessidade do trabalho de centenas de técnicos ( figurinistas, carpinteiros, iluminadores, sonoplastas ) e mais que isso ( e já falei isso aqui ), o cinema tende a não mais precisar de atores ( o que seria o sonho de Hitchcock ).
Ninguém mais vai ao cinema só para ver "um filme de Jim Carrey ou de Brad Pitt". Eles têm muitos fãs, mas sózinhos não garantem um sucesso. Precisam de história, produção e principalmente de divulgação. Antes qualquer lixo de John Wayne ou Gary Cooper tinha a garantia de lucro, pois já faz tempo que não há um ator que garanta seguramente o sucesso de um filme. Quem precisa deles? TinTin anuncia o futuro.
Não demorará dez anos para que clones de Bogart ou de Steve McQueen sejam usados. Veremos um sonho realisado: Audrey Hepburn contracenando com Cary Grant mais uma vez. Atores que não serão vistos farão movimentos imitativos de Bogey ou de Marlon Brando e digitalmente as feições do "personagem" James Dean ou Bette Davis serão inseridas sobre os modelos. Bonito e simples assim.
Vamos mais longe: festivais de cinema, Oscar, não têm mais respeitabilidade. Perderam a décadas seu caráter de "Nobel". Apelativos, se fazem show de TV por saber de sua leviandade. Perderam a realeza no momento em que sua nobreza morreu ( o Oscar era sagrado porque era a única chance de vermos James Stewart ou Akira Kurosawa ao vivo. Hoje vemos na festa atores desconhecidos e estrelas cada vez mais raras e banais ).
O Artista nos recorda então da outra grande mudança, que também parecia temporária, mas que se mostrou definitiva. Já existem pessoas que não se interessam mais por filmes normais, e isso será regra. Pessoas que não suportam takes com menos de dez cortes, cãmera parada ou cenários reais. Gente que está pouco se lixando para os atores ou a fotografia do filme. Que só procuram aquilo que lhes recorda o mundo onde vivem: o mundo digital. O filme deve se parecer com imagens de câmara de celular, video-game e internet. Histórias fracionadas, sem grandes pausas, frenéticas e não-sutis. Adrenalina eterna e em doses cada vez maiores. Cavalo de Guerra é um filme anti-novo mundo. A Arvore da Vida já vive dentro desse novo universo. É o tipo de ousadia que ainda será possível. Uma salada pseudo-filosófica cheia de imagens digitais. A pausada narração de Spielberg jamais encontrará público.
O medo desse novo mundo faz com que a nostalgia de O Artista seja desejável. Quem vive do cinema, ou ama os filmes se sentirá grato ao filme francês. Mas todos sabemos que a arte que nos deu narrações poderosas como aquelas de Kurosawa, Ford ou Wyler está morta e enterrada. O que nos resta é torcer por mais Wall E e por menos Matrix e Spirit.
Felizmente existem os DVDs...